capítulo um

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Jeongin observava as gotas de água da chuva caírem contra sua janela e deslizarem para baixo uma após a outra. Ela gostava de ouvir e olhar a chuva, sentir o cheiro da cidade úmida. Para si, não havia coisa melhor que um bom dia chuvoso.

Amuada em sua cadeira, envolta por um edredom grosso e felpudo, a garota mantinha o olhar fixo no apartamento à frente, além do vidro molhado. A luz do cômodo estava acesa, enquanto uma silhueta debruçava-se, concentrada em alguma coisa em sua escrivaninha.

Provavelmente está estudando. Pensou.

Jeong Yunho — a silhueta a qual roubava toda sua atenção. O garoto a quem Choi Jeongin desejava os mais sinceros sentimentos. A quedinha que estava mais pra um abismo sem fundo.

— Innie? — Uma voz ecoou no cômodo, o que a fez sobressaltar da cadeira.

— Ah, Sanie, oi. — Soltou um suspiro de alívio ao ver o mais velho. Ela estava tão distraída que sequer ouvira a porta se abrir e seu irmão colocar a cabeça dentro do quarto.

— Hum, desculpe, não queria assustar você. — Fez-se uma breve pausa, e a menor sacudiu a cabeça de um lado pro outro. — O jantar já está pronto.

— Claro, eu já vou. — Mostrou um pequeno sorriso fechado.

— Não se atrase, sabe que mamãe odeia atrasos. — Dito isto, o garoto sorriu uma última vez e desapareceu no corredor.

Jeongin voltou seu olhar para a janela novamente. A luz no outro apartamento estava apagada, e o cômodo vazio. Ela tardou em criar coragens para levantar, logo, após lentos segundos espreguiçou-se e caminhou a passos pesados até a cozinha, onde toda sua família já se encontrava ao redor da mesa.

— Está atrasada. — Comentou sua mãe, prendendo os olhos sobre si.

— Desculpe, eu estava...

— Estudando. — Interrompeu San, sem olhar a mais nova. — Quando cheguei no quarto ela estava terminando uma tarefa. Era francês, Innie?

— Era. — Prensou os lábios, agradecendo mentalmente ao irmão. Quase que imediatamente a mãe desfez a expressão de reprovação, enquanto seu pai trazia para a mesa um grande e aromático recipiente com yakisoba. Sem cerimônia, os Choi começaram a servir-se, um de cada vez, soltando alguns suspiros ao provar do convidativo prato. A comida do pai era, no mínimo, deliciosa.

— Então, crianças, como foi o dia de vocês? — Perguntou ele, que fora o último a servir-se.

— Normal. — Responderam em uníssono.

— Uau, muito obrigado pela resposta tão satisfatória. — Ele assoprou o macarrão antes de levar à boca.

— Bem, depois da escola, eu fui com meus amigos ao shopping. — Disse San, olhando para os irmãos, como se os encorajasse a falar.

— Eu só fui pro curso depois da aula e parei pra tomar um café aqui por perto. — Jeongin repetiu a ação do pai, enquanto fitava com atenção sua tigela com yakisoba.

— E eu fui ao fliperama com o Eric. — Jongho pronunciou-se pela primeira vez naquela conversa, alternando o olhar entre o pai e a mãe por breves segundos, em seguida tornando a comer calmamente.

Após o jantar, Jeongin ficara na cozinha para ajudar o pai com a louça. Ela amava passar o tempo consigo, achava que seu pai era o pai mais divertido do mundo, e de fato era. — Do seu mundo particular. Ao terminar o serviço, a garota dirigiu-se para o quarto novamente.

Quando San entrou no cômodo, encontrou a irmã deitada na cama com a cara enfiada num livro cuja capa estava escrita "Para Todos os garotos que já amei". Ele tinha a impressão de que já havia visto a mais nova ler aquele livro pelo menos umas três vezes.

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