A sala era uma câmara ampla circular, mobilada com pequenas mesas quadradas sustidas por pernas prateadas muito altas. Sobre os tampos estavam caixas de vidro cúbicas abertas, cada uma com um projetor suspenso no teto que incidia diretamente sobre uma plataforma de rede, sobre a qual repousava o fungo verde alienígena, um disco minúsculo e adormecido. As caixas eram às centenas, alinhadas no imenso espaço com pouco intervalo entre estas, formando corredores em grelha. O ar era morno e a luz era intensa, fazendo sobressair a cor do parasita que se encontrava em lenta evolução.
Clara continuava estupefacta e muda. O Doutor tinha colocado as mãos na cintura e observava a sala atentamente, entre a curiosidade, a vitória e o espanto. Chester agarrou-se a um Mike tão perplexo quanto a Clara e resfolegou:
- Porra! O fungo que atacou o Joe só pode ter vindo daqui. Olha-me só para esta cena, meu! São aos milhares! Aos milhões! Deve haver aqui um fungo para cada habitante da Terra. Estamos muito lixados, estamos mesmo muito lixados. E se basta um fungo num humano para contaminar outros humanos... tudo o que é vida no universo vai ser devorada por estes malditos fungos. Está tudo mais do que lixado!
- Tropeçámos no viveiro do parasita – disse Mike, após aclarar a garganta.
- Efetivamente. É nesta sala que o fungo está a ser criado e a crescer – concordou o Doutor.
O acesso à sala fazia-se por meio de uma pequena escadaria metálica de cinco degraus, mas nenhum deles tomava a iniciativa para avançar e entrar naquele local que era tanto assustador quanto grandioso.
- A tua leitura não tinha revelado formas de vida dentro da nave – lembrou Mike.
- Ei, bem apontado! – cortou Chester excitado. – Ahn, Doutor? Como explicas essa enorme falha na tua análise? Explica lá essa.
- Os fungos aqui estarão... vivos?
- Oh, estão bem vivos, Mike.
O japonês teve um estremecimento por voltar a verificar que o Doutor continuava a lembrar-se do seu nome e não conseguia precisar se isso era uma vantagem, ou não.
- Estão bem vivos e a se desenvolverem. Ainda são meros embriões, mas são bastante mortíferos e devemos evitar o contacto. Antes que faças a próxima pergunta, eu explico. – Lançou um braço, que acompanhava a sua observação do local. – As paredes da sala estão revestidas de uma liga especial que bloqueia o sinal da minha chave de fendas sónica. Já antes tinha encontrado algo parecido... onde foi mesmo? Não consigo precisar, mas havia um conflito qualquer e um cometa perigoso que ameaçava obliterar um dos planetas beligerantes.
- Quem está a manter o viveiro não pretende interferências de um senhor do tempo – conseguiu Clara dizer, afastando o seu pasmo com um pestanejar determinado.
- A minha dedução é de que se relaciona com o som. As paredes da sala estão desenhadas para controlar a frequência sonora, com o objetivo de evitar o som que possa afetar o desenvolvimento normal do fungo. São ladrões de som, precisam de som, mas apenas e tão só nas condições ideais ao seu código genético.
Esticou o braço e ligou a chave de fendas sónica que projetou para o interior da sala. Quando se escutou o habitual zumbido, as luzes sobre as caixas apagaram-se ao mesmo tempo e uma tampa metálica surgiu, cobrindo os recipientes dos fungos. Logo uma luz vermelha baça se acendeu, indicando uma alteração brusca e indesejável do ambiente do viveiro. E a porta por onde tinham entrado fechou-se bruscamente. Clara gritou e bateu com os punhos fechados nesta.
- Doutor! Ficámos fechados aqui dentro!
Chester também gritou:
- Isso não foi uma boa ideia, porra!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Mágico e Os Ladrões de Som
FanfictionO Doutor e a Clara esperam passar uma tarde de verão divertida num festival de música, mas deparam-se com uma ameaça alienígena inesperada que pretende invadir a Terra e transformar todos os seus habitantes em mortos-vivos. Uma aventura diferente on...