XXVII - Num refúgio

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Mike trancou a única porta que dava acesso à enfermaria – após uma curta avaliação do lugar resolveu que aquela sala seria, de facto, uma enfermaria. Indicou uma das macas e pediu ao Dave e ao Chester que deitassem aí o guitarrista. Aproximou-se de uma mesa que se situava no centro da sala e estendeu as mãos sobre o tampo. Deixou-as a pairar durante algum tempo e logo apareceu um painel com vários botões digitais e um menu com diversas escolhas. Tudo surpreendentemente escrito em inglês. Sorriu. Assim acontecia porque ele queria que acontecesse. Se não era um feiticeiro do espaço, andava lá perto... Bem, com um pouco de ajuda da tecnologia buondabuonda que derivava da tecnologia dos senhores do tempo e ele fazia milagres.

Levantou os olhos e notou que Joe e Rob estacionavam à frente da porta fechada que, depois de trancada, se disfarçava de tal maneira na parede que ocultava que ali existia uma saída. Os dois infetados pelo fungo parasita continuavam a respeitar a sua autoridade, fixando um olhar opaco e tenebroso na guitarra elétrica que ele carregava, o símbolo maior dessa autoridade.

Navegou brevemente pelo menu que se lhe apresentava naquela mesa digital com touchscreen – uma cena bastante avançada que o deixava excitado e curioso. Ele sempre tinha adorado os avanços tecnológicos e as engenhocas novas!

Respirou fundo, aplacando essa alegria que ficaria muito deslocada ali.

Carregou numa barra. Digitou um código numérico que lhe apareceu numa pequena janela. Apareceu uma plataforma ao seu lado esquerdo – do lado direito ficavam as macas. Estalou os dedos e fez um gesto assertivo com o braço. Joe e Rob obedeceram e subiram para a plataforma. Mike carregou numa segunda barra, que piscava a vermelho. Dois tubos de vidro transparente cresceram do chão, acoplaram-se ao teto e envolveram os dois. Um jato esbranquiçado encheu a pequena câmara redonda de gás e Joe e Rob adormeceram. Ficaram de pé, com a cabeça pendurada, a roçar no vidro.

- Porra! Como é que tu consegues fazer essas coisas?! – admirou-se Chester. – Tu és o Mike, não és? Tu és o nosso Mike... o Shinoda? Certo?

Mike deixou a mesa.

- Agora vamos tratar do Brad. Sim, sou o Mike. Pareço-te assim tão diferente?

- O problema é que estás igualzinho e podemos estar a ser enganados.

Dave interveio:

- Não vais fazer tudo a partir daquela mesa? Pelos vistos, parece ser uma ferramenta útil que comanda, a bem dizer, esta sala e o que está aqui dentro. Até poderás conseguir medicamentos. As surpresas nunca acabam, hum?...

- Se forem necessários medicamentos, irei até à mesa. Talvez consiga arranjar os comprimidos ideais para curar o Brad. Vamos primeiro lavar-lhe as mãos, tirar-lhe esta camada dura de terra seca, a ver o que acontece. Para começar, usei a mesa para encontrar uma solução para conter o Joe e o Rob. Eles podem fazer-nos mal e contaminar-nos, ainda que, se estivessem no seu pleno juízo, nunca o fizessem. E também os meti ali dentro para aliviá-los... eles estão a sofrer, sabem?

- Merda... – murmurou Chester. Aproximou-se dos tubos de vidro e observou os dois amigos suspensos num sono imposto. Franziu a testa. – E agora? Eles já não sofrem?

- Acredito que não, Chaz. A mesa confirmou-me que dormem e que estão melhor nesse estado de inconsciência. Não sentem nada. Logo, não estão a sofrer.

- Está bem. Boa... meu.

Dave estava com uma bacia metálica nas mãos cheia de água. Nos braços trazia toalhas penduradas. Chester assobiou.

- Ei, meu... onde foste arranjar isso?

- Ali atrás está uma bancada equipada com uma pia e torneiras. Nas prateleiras encontrei recipientes e toalhas, panos, ligaduras, desinfetante, pensos rápidos, tesouras e tudo o que se precisa para prestar os primeiros socorros. Foste tu que fizeste aparecer tudo isso também, Mike? – Piscou o olho.

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora