XXV - A sobreviver

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A cabina telefónica palpitava ao ritmo de uma melodia emaranhada, que era tanto desconcertante quanto reconfortante, uma sequência de sons reconhecíveis e estranhos a transmitir lembranças de coisas esquecidas, esperança pura, um aperto na alma que resultava em sorrisos tristes e também em felicidade cintilante. Aos poucos foi-se tornando invisível por cada palpitação e após um curto momento desapareceu, levando consigo a melodia e o volume da caixa. A nave do Doutor havia partido e no corredor ficou o espaço vazio onde estivera pousada. Sem ter deixado qualquer vestígio que tivesse estado ali – nem o mais leve rumor de cheiro a combustível, a tinta azul, ao perfume da Clara. 

- Fecha a boca, Chaz. Pareces um pateta – pediu Mike sério.

Chester engoliu saliva, fez um barulho engraçado de desenho animado.

- Aquele velho... – balbuciou atarantado. – Aquele velho... deixou-nos aqui!

- O Doutor terá algum plano em mente e em breve regressará para nos vir buscar.

- Achas, Mike?! A sério que achas isso? – explodiu Chester. – O velho viu que não conseguia enfrentar esta ameaça e abandonou-nos! Ele nunca sabe o que fazer a seguir! Não tem plano nenhum e acho que nunca teve, na sua longa vida de não sei quantos séculos!

Mike agarrou os ombros do amigo, abanou-o.

- Acalma-te, Chaz! Por favor, acalma-te! Não penses no Doutor. Temos outros problemas, mais imediatos, que devemos resolver!

A ordem do japonês foi tão contundente, a sua autoridade tão inequívoca, que Chester tornou-se hirto e acenou afirmativamente com a cabeça, boca cerrada numa linha e olhos escancarados. Viraram o pescoço ao mesmo tempo e olharam para Joe e Rob, que permaneciam estacionados no mesmo lugar, duas estátuas ameaçadoras, a cabeça coberta por uma massa verde borbulhante.

- Ei! Estou a precisar de ajuda aqui!!! – gritou Dave.

Chester estremeceu com o susto.

- Porra, Phoenix! Quase que me matas de ataque cardíaco!

Cauteloso, Mike avançou, passo por passo, medindo a distância que percorria com extremo cuidado, atento aos movimentos de Joe e de Rob. Conseguiu passar pelo meio deles sem que o atacassem ou tentassem retê-lo para o infetar. Chester ficou atrás, a roer as unhas, a observá-lo a andar, a decorar o que ele estava a fazer para fazer a seguir. Se tinha resultado para o Shinoda, também resultaria para ele. Nada de movimentos bruscos, muita atenção porque havia predadores, nada de contacto visual provocador e também não seria atacado pelos dois infetados.

- Chester...

- Sim, Mike? – ofegou ele ansioso.

- Segue-me. Acho... acho que é a guitarra. Os fungos não nos atacam porque tenho esta guitarra.

- Ah... eu também tinha uma guitarra!

- E foi o que te salvou a vida. E agora será a minha guitarra que te vai salvar. Avança. Eles não te farão mal.

- Tens a certeza?

- Não. Mas se ficares aí... ficas isolado.

- Ah! Espera por mim, meu!

Quando chegaram ao pé de Dave parecia que tinham corrido uma maratona. Chester dobrou as costas, apoiou as mãos nos joelhos, limpou o suor da testa. Mike encostou-se à parede e tinha o coração a bater desgovernado dentro do peito. Joe e Rob continuavam imóveis.

Para aliviar os braços dormentes, Dave pousou os pés de Brad no chão, abraçou-lhe a cintura e passou o braço dele pelos seus ombros puxando-o pelo pulso. A cabeça do guitarrista oscilou, para cima e para baixo, gorgolejou um queixume e deixou-se pender, amolecido. Mike perguntou:

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora