XL - E terminamos com um epílogo

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A festa para apresentação de novas bandas estava concorrida e animada. Havia muitos convidados especiais, entre eles atores de cinema, produtores e realizadores poderosos de Hollywood, artistas plásticos, pintores e até estrelas da música. Os mais famosos eram Mike Shinoda e Chester Bennington dos Linkin Park. Enquanto o primeiro passava relativamente incógnito e podia desfrutar do champanhe que estava a ser servido, acompanhado de canapés deliciosos que incluíam caviar, salmão e queijos europeus, o segundo não descansava um segundo e era requisitado por inúmeras pessoas que queriam uma selfie, um autógrafo e a atenção do vocalista.

De longe, Mike vigiava o seu amigo, apreciando o corrupio que o rodeava. Comprazia-se com a sua satisfação por ser o alvo de tanta bajulação benigna, os seus sorrisos agradáveis, a sua disponibilidade abnegada, mas estava atento aos primeiros sinais de saturação. Claro que o Chester nunca se mostrava abertamente hostil ou desdenhoso, a sua natureza cordial impedia-o de ser bruto com quem, no fundo, só estava a demonstrar uma admiração fervorosa, só que Mike sabia reconhecer o exato momento em que Chester, dentro de si, implorava por espaço para poder respirar.

De vez em quando, as celebridades precisavam disso – apenas respirar.

Pousou o copo meio vazio na bandeja que passava ao seu lado e que recolhia a loiça usada, limpou a boca ao guardanapo, passou a língua pelos dentes para limpar minimamente as gengivas e foi raptar Chester de duas estrelas de cinema em ascensão, duas jovens loiras muito bonitas que se desfaziam em paixão reprimida pelo cantor dos Linkin Park. Mais um pouco e fariam um convite indecente. Mike também sabia reconhecer esses sinais.

Foram os dois para o terraço da mansão onde acontecia a festa. Mike consultou o relógio. Por vontade dele, iria embora dali a minutos. Estava aborrecido. Não havia ninguém naquela casa que ele já não conhecesse e todos eles tinham uma conversa fútil e enfadonha. Já para Chester estava sempre tudo bem e qualquer desculpa era motivo para festejar alguma coisa.

A noite estava fresca, mas agradável. Corria uma ligeira brisa que trazia os perfumes das azáleas do jardim.

Chester encostou-se ao parapeito do terraço e volveu os olhos para o céu. Havia milhares de estrelas. Estava a respirar e Mike sabia que o tinha resgatado, mais uma vez. Sentiu-se muito bem por continuar ao lado do amigo e por Chester consentir que ele se mantivesse nessa posição protetora. E ficaram os dois a respirar, em silêncio, apoiados no parapeito.

Chester disse:

- Iremos voltar a ver o Doutor?

Mike respondeu:

- Provavelmente. Ele tem uma máquina do tempo. Pode voltar quando quiser. Imagina que já o vimos, no passado... o Doutor pode ter ido visitar-nos quando éramos crianças e já não nos lembramos desse encontro.

- Isso é fodido.

- Chaz! Olha a maneira como falas.

- Isso é lixado... Achas que ele foi visitar-nos quando éramos crianças?

- Não sei. Pode ter acontecido, como te disse.

- Não me lembro disso.

- E se fosses ainda um bebé? De certeza que não te lembrarias. Nem os teus pais haveriam de mencionar o facto, já que o Doutor anda sempre atrás de um qualquer alienígena que deve combater para que não destruam a Terra. Logo, eventualmente, tu bebé e os teus pais foram somente um apontamento de pé de página. Como nós fomos, no caso dos fungos que se alimentavam de som.

- Ah... Mas ele gostou do nosso espetáculo em Milton Keynes.

- Sim, claro que gostou! O Doutor gosta de música. Devia ter tocado connosco. Teríamos ficado com uma recordação, o Doutor em filme a tocar com os Linkin Park, para além dos desenhos do Joe. Já os viste? O Joe diz que um dia vai lançar um livro de banda desenhada com essa história.

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora