XXXIII - Demasiada coisa para lembrar

25 5 8
                                    


Joe Hahn sempre fora um consumidor fanático de ficção científica. Admirava tudo o que se relacionasse com o género, desde filmes, livros, até ilustrações, banda desenhada, contos, monstros, criaturas e efeitos especiais. Por isso era com uma expressão totalmente alucinada e encantada que observava o corredor da nave que percorria na companhia dos seus amigos, do Doutor e da Clara.

- Que pena não ter comigo a minha máquina fotográfica! Ou o telemóvel! – lamentava-se alto. – Que tragédia não poder registar este passeio e guardá-lo nos meus arquivos pessoais! Acho que me vou arrepender para sempre...

- Temos passado momentos de muita aflição aqui dentro – contou Dave. – Ninguém se lembrou em guardar esta experiência para a posteridade. Tínhamos outras prioridades.

- Vocês estão todos loucos! – censurou Joe abrindo os braços. – Não há nada mais prioritário do que gravar o que aqui está na História da humanidade!

- Tu eras a prioridade – esclareceu Rob, defendendo o baixista que tinha ficado melindrado. – Estamos aqui porque tu tinhas sido infetado pelo fungo e o parasita era oriundo desta nave.

- E é para o viveiro onde estão a ser incubados os fungos que nos estamos a dirigir agora – explicou Brad que continuava firmemente agarrado à guitarra, que não devolvera a Mike. – Vamos eliminar o bicho, para evitar uma contaminação dos habitantes da Terra. Esse parasita é perigoso. Estava a destruir-te... irias morrer, meu! Quando o fungo eclodisse rebentava-te com o crânio. Estava a destruir-te e tu estavas a levar todos contigo. Infetaste aqui o pamonha do Rob.

- Pamonha?! – ofendeu-se o baterista.

- Sim, pamonha. Não fazes mal a uma mosca.

- Ah... não sei se te dou um carolo, a ver se me tens mais respeito.

- Está calado, caloiro. Continuas a ser o mais jovem do grupo.

- Posso ficar com um fungo para mim?

- Nem pensar, senhor Hahn! – cortou Mike. – Se o Doutor quiser ficar com um fungo, pode ser, porque tem condições para o guardar na sua nave... agora tu... não te confiava um peixe dourado, quanto mais um fungo que devora os seus hospedeiros.

- Existe uma segunda nave?

- Sim, a nave do Doutor que nos trouxe até este setor da Via Láctea, onde aconteceu uma guerra qualquer há milénios ou assim – explicou Chester, de mãos nos bolsos do casaco.

- Estamos... no meio da Via Láctea?! – Joe olhou para as paredes do corredor. – E como é que estamos a perder essa visão magnífica do espaço profundo? Por que estúpido motivo não existem janelas, daquelas enormes, panorâmicas, que nos deixam ver as estrelas? Aposto que há milhões de estrelas! E nebulosas! E um cemitério de naves espaciais, resquícios dessa guerra!

- Podes pedir que a nave faça aparecer uma janela – disse Chester. – Estamos numa nave mágica borabora...

- Buondabuonda – corrigiu Mike.

- Sim, essa treta havaiana. Há pouco, na sala onde nos escondíamos eu tinha fome e fiz aparecer fruta. E o Dave pensou em chocolates e apareceu uma tigela cheia de doces. E o Mike estalava os dedos e tudo lhe obedecia. Parecia um mago do Dungeons & Dragons a convocar feitiços. O Dave achava que ele era o Harry Potter, mas porra... nada bate um mago poderoso de D&D!

- O que foi que o Chaz andou a beber? – perguntou Joe.

- Nada. O que ele diz é a verdade. Estamos numa nave que obedece... às nossas necessidades – explicou Dave, com um encolher de ombros. – Acho que foi assim que desapareceu a caixa que nos prendia, Rob. A nossa vontade sobrepôs-se à vontade dos nossos captores. Quando me vi a ser atacado por ti e pelo Joe, com o Brad doente, desejei fugir. Desejei mesmo muito fugir! Mas tu não te lembras de nada, porque, entretanto, ficaste contaminado.

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora