XXVI - Um mundo paralelo

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Com a ajuda do cartão psíquico, o Doutor e a Clara conseguiram acesso privilegiado à parte de trás do palco. Deixaram-no passar por ele ser um inspetor da Associação Britânica de Artes e Espetáculos que viria investigar se as licenças estavam todas em ordem e se o volume de decibéis iria ser cumprido. Entregaram uma pasta a Clara cheia de papelada e designaram um pequeno escritório entalado entre divisórias, junto às escadas de acesso ao palco, equipado com uma mesa e três cadeiras. Aí poderiam fazer as verificações que quisessem com total privacidade. Os promotores mostraram disponibilidade para responder a todas as perguntas.

Assim que se viram sozinhos, Clara deixou a pasta com os documentos na mesa e seguiu o Doutor que subiu até ao palco. Escolheram um ponto discreto, junto a um dos pilares metálicos que sustentavam a estrutura de luzes, por detrás de uma grande coluna de som e quedaram-se aí, a observar o corrupio de assistentes que preparavam o lugar para a entrada dos artistas.

À sua frente e após o limite dianteiro da imensa plataforma, estendia-se um mar de gente aos pulos e aos gritos, que aguardava pelo início do espetáculo, no típico frenesim das apresentações musicais ruidosas. O público de uma orquestra clássica comportava-se melhor, ou, pelo menos, aguardava mais sossegado nas suas poltronas de veludo. Num estádio seria como ali, pessoas excitadas com o que estavam prestes a presenciar, cada secção das bancadas a torcer pela sua equipa. Numa ópera também havia contenção e atenção, nada daquele histerismo e agitação, nem quando os protagonistas morriam, isso acontecia bastante nas histórias operáticas.

A voz da Clara interrompeu-lhe o devaneio:

- O que vai acontecer aqui, Doutor?

Olhou para a sua companheira e entremostrou um sorriso.

- O espetáculo da banda Linkin Park em Milton Keynes. Dentro de minutos eles vão aparecer e dar início à primeira música da apresentação que têm preparada para esta noite. Ruído, luzes, música e vozes ampliadas.

- Voltámos... atrás no tempo?

- Evidentemente!

Ela deu dois pulinhos e bateu palmas, muito contente e entusiasmada.

- Ah! Vieste mostrar-me que conseguimos, efetivamente, salvar o mundo e curar o Joe?

O Doutor negou devagar, mas sem desmanchar aquele sorriso esmaecido.

- Não, Clara. Estamos numa dimensão paralela em que vamos ver o que vai acontecer se não conseguirmos salvar o mundo e curar esse tal de Joe, que presumo seja o infeliz que foi o primeiro infetado com o fungo.

- Ah... – Clara apagou a sua alegria, murchando como um girassol à noite. – E isso serve que propósito? Será uma tortura, Doutor! Aviso-te. Vais mostrar-me a destruição do mundo, as pessoas todas transformadas em mortos-vivos, o Chester... o Mike... o Pobre Brad... todos eles... – Calou-se, horrorizada, de lágrimas nos olhos. – Desculpa, não quero ver isso.

Girou sobre si mesma. A mão carinhosa do Doutor no seu braço deteve-a.

- Clara. Preciso de ver a infeção do fungo avaza e perceber exatamente como atua. Como te expliquei são uma lenda, os métodos de proliferação que usam são efetivamente similares a um fungo que existe na Terra, mas preciso de recolher informações precisas sobre como armazenam e utilizam o som. Não posso simplesmente adivinhar a razão que levou os daleks a escolherem um espetáculo de música Rock. E se gostarem mais de Jazz e esta situação é apenas um engodo? E se neste momento existirem outros avaza espalhados pelo globo terrestre, em casas de concertos, salões de ópera e feiras com música folclórica e nós tropeçámos num desses fungos por acaso na apresentação dos Linkin Park?

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora