Mike ajoelhou-se junto a Chester e deu início aos procedimentos de reanimação. As suas mãos tremiam. Uniu-as, entrelaçando os dedos, e começou a fazer a massagem cardíaca, calcando no peito do amigo. Depois de dez pressões, inclinou-se, apertou-lhe o nariz e soprou-lhe para dentro da boca. Repetiu a série três vezes, dez pressões e um sopro, e nada de o Chester acordar. À quarta série, colou a sua boca à do amigo e soprou com todo o seu fôlego.
Teve um espasmo de medo e sentiu-se gelado. Quis chorar, mas as lágrimas não iriam mudar aquela situação. Por isso, concentrou-se e empenhou-se. Fez mais uma série e soprou outra vez para dentro da boca do amigo.
Nisto, Chester resfolegou e tossiu. Mike agarrou-o pelos braços, apoiou-o sobre o flanco direito e Chester recuperou o alento, entre vómitos e arquejos. Com um gemido prolongado amoleceu e Mike devolveu-o à posição inicial de deitado.
- Acabaste... deste-me um beijo? – perguntou Chester com a voz rouca.
O Doutor e a Clara debruçaram-se brevemente para comprovar que estava tudo bem e ela suspirou de alívio ao perceber que Chester tinha recuperado os sentidos. Mike contou, atrapalhado:
- Estava a fazer reanimação boca-a-boca! Ficaste aí sem respirar, idiota!
Chester limpou o lábio inferior dormente com a ponta dos dedos.
- Acho que senti uma língua...
- Uma língua?! – gaguejou Mike incrédulo.
- Qualquer coisa húmida.
- A reanimação boca-a-boca faz-se com... bem, faz-se com a boca que é um lugar... húmido... idiota... – À medida que ia dando a explicação, Mike sentia-se estúpido e sem energias.
O Doutor interveio:
- Quando os dois acabarem de namorar, podemos prosseguir? Isto ainda não terminou... De facto, está cada vez mais interessante.
As faces do japonês tornaram-se vermelhas quando ruborizou de forma intensa. Chester soergueu-se tonto, apoiado nos cotovelos. Reparou que a Clara o olhava preocupada. Então, realmente, tinha estado desmaiado e em risco de vida. Sem respirar e o Mike correra a salvá-lo. Isso era, de certo modo, especial. Mesmo que lhe tivesse enfiado qualquer coisa molhada na boca. Fez uma careta. Teria saliva do amigo na boca?
Mike explicou, tenso:
- Nós... nós não estávamos a... namorar. Ele... ele estava em perigo.
- Ele estava a fingir, só queria que tu o beijasses – alegou o Doutor impaciente.
Mike susteve a respiração, cheio de vergonha. Chester resmungou:
- Odeio o velho!
O Doutor virou-se para ele, as sobrancelhas movendo-se sobre os olhos azuis:
- Ei, rapazinho, cuidado com a língua!
- Já sabes que te odeio – provocou Chester. – E não sou nenhum rapazinho.
- Sou um senhor do tempo com mais de dois mil anos. Comparado comigo não passas de um infante. Por isso é uma sorte que não te chame outra coisa pior do que rapazinho... rapazinho!
- Experimenta, velho.
Clara puxou pela manga do casaco do Doutor.
- Podemos acabar com a luta de galos e continuar? – pediu zangada. Mike ajudava Chester a colocar-se de pé, segurando-o pela cintura. – Não disseste que ainda não tinha terminado, Doutor? O Chester já está recuperado e temos de compreender o que temos nesta sala. Várias incubadoras, guitarras, um sistema de alarme e proteção, som proibido e som sancionado. A partir de todos estes dados... qual o caminho a tomar? Ainda temos o Joe Hahn em coma e uma ameaça pendente sobre a Terra!
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O Mágico e Os Ladrões de Som
FanfictionO Doutor e a Clara esperam passar uma tarde de verão divertida num festival de música, mas deparam-se com uma ameaça alienígena inesperada que pretende invadir a Terra e transformar todos os seus habitantes em mortos-vivos. Uma aventura diferente on...