XXI - Prisioneiros

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Mike sentia que tudo se tornava cada vez mais irreal e fora de controlo e isso melindrava-o. Ele não gostava de surpresas, de passos em falso, de variáveis aleatórias. Agora enfrentavam um saleiro falante. O Doutor, pelos vistos, estaria habituado a todas estas coisas bizarras, inéditas e extraordinárias. Afinal, o próprio homem era um alienígena que viajava no espaço e no tempo. Este assentou os punhos na cintura, afastou as abas do casaco, o forro vermelho flamejou teatralmente e declarou:

- São vocês!!

Ou seja, Mike Shinoda ficou exatamente na mesma, pois não fazia a mínima ideia de quem ou o que seriam os saleiros.

O saleiro falou no ecrã, num tom robótico:

- Doutor, temos os teus amigos connosco. Por isso, não tentes nenhuma gracinha ou não mostraremos qualquer piedade. Eles serão eliminados de imediato e contigo a assistir, se resolveres continuar com a tua patética expedição por esta nave.

- Os daleks fizeram prisioneiros? – zombou o senhor do tempo, ufano, rindo-se. – Os daleks nunca fazem prisioneiros.

- A nave buondabuonda gosta de baralhar as diretivas dos seus pilotos.

- Ah, uma nave buondabuonda tem personalidade. E, como utiliza tecnologia de Gallifrey, deviam saber que existe uma certa incompatibilidade com as ordens arbitrárias, violentas e primárias dos filhos de Skaro.

- Temos feito ajustes e a nave está mais obediente. Em breve teremos o controlo absoluto deste veículo e reinaremos invictos no universo! Afasta-te, Doutor. A Terra é nossa. A colonização já começou. Exterminar! Exterminar! Exterminar!

- Nunca deixarei a Terra cair. Nas vossas mãos, daleks, muito menos. Continuam a querer atingir a Terra para chegarem a mim mais depressa. Esse vosso plano já falhou tantas vezes. Porque razão insistem? Serão derrotados por mim, como já aconteceu antes.

Mike murmurou:

- Daleks?...

Era um nome bastante ridículo, quase tanto quanto a aparência daqueles supostos guerreiros alienígenas que tinham declarado guerra... ficou na dúvida. Estariam a ameaçar a Terra, o Doutor ou todo o universo?

O saleiro rolou para o lado, de modo a mostrar o que estava em segundo plano, naquela sala branca.

- Afasta-te, Doutor. Ou eles serão exterminados imediatamente.

Mike saltou para diante.

- Chester?!

O Doutor esforçou-se por não perder a postura. Mas zangou-se. Colocou os óculos escuros na testa, as suas sobrancelhas fartas uniram-se sobre os olhos azuis gelados.

- Clara...

No ecrã, sob a mira das armas de quatro daleks que os vigiavam em formação cerrada, numa meia lua, estavam Clara e Chester, ao lado um do outro. O vocalista continuava a segurar a guitarra acústica, tinha-a na mão direita.

Mike chamou, aflito:

- Chester!! Chester!!

- Mike! – gritou Chester do outro lado. Clara tapou-lhe a boca e fez-lhe um sinal para que se calasse e se acalmasse. Ela estava pálida e amedrontada, conhecia de certeza a reputação dos saleiros e sabia que não havia margem para deslizes ou brincadeiras.

O japonês suplicou:

- Doutor... temos de fazer alguma coisa.

O Doutor recuperou o seu sangue-frio. Pareceu mais zangado.

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora