Música. Uma guitarra elétrica.
Ele identificou aquele começo. Era uma peça clássica muito famosa, reconhecível em todo o mundo. Bastavam aquelas primeiras notas e toda a gente desatava a cantar – ainda que a música não tivesse letra, as pessoas murmuravam e havia uma sensação de vitória. A alma enchia-se de alegria e de confiança.
E foi o que Mike Shinoda sentiu ao ouvir a música tocada repentinamente, vinda de nenhures, numa guitarra elétrica. A quinta sinfonia de Ludwig van Beethoven!
Esticou um braço a tatear o vazio, cego porque a luz se tinha apagado na sala. Avançou dois passos e encontrou-o.
- Chester! Estou aqui, amigo!
Puxou-o para si, abraçando-o por detrás.
- Estou aqui...
- O que está a acontecer?
- Não sei, Brad! Alguém está a tocar a quinta do Beethoven numa guitarra elétrica. E acho que só pode ser uma pessoa...
- Who?
Uma voz troou na penumbra, entre dois acordes.
- Precisamente!
Toda a gente suspendeu a respiração, os movimentos, os próprios pensamentos. Um holofote surgiu a iluminar, num omnifulgente cone de luz branca, uma plataforma alta onde estava o Doutor a tocar uma guitarra Fender stratocaster ligada a um amplificador rudimentar, mas que produzia um som monumental, límpido e contagiante.
Sob o seu braço, Mike sentiu Chester estremecer e apertou-o mais para confortá-lo e transmitir-lhe segurança. Pestanejou para habituar os olhos às sombras que começavam a destacar-se no escuro, devido aos fiapos de claridade gerados pelo projetor luminoso que destacava o Doutor, enquanto este continuava a tocar, imponente, o primeiro andamento da quinta sinfonia de Beethoven. Dave estava embasbacado a olhar para a plataforma, Brad protegia com desvelo a guitarra que carregava consigo. Joe e Rob tinham estacionado embrutecidos, a sua postura estática influenciada pelo som que os fungos decerto roubavam, cheios de cobiça.
- Brad! Vais tocar com o Doutor! – exclamou Mike, compreendendo o que estava a acontecer.
- Vou tocar...?
- És tu que estás com a guitarra. Toca!
- Toco o quê? De certeza que isto se vai ouvir? Não tenho amplificador, meu.
- Toca... vais ter de exibir o teu virtuosismo.
- O meu... quê?
- Quando o Doutor terminar, tu deverás, absolutamente, continuar. A linha de som não pode ser interrompida.
- Mike, tens a certeza do que estás a pedir? – estranhou Chester.
- Chiu, Chaz... vão ter de confiar em mim.
- Mais uma vez.
- Sim, mais uma vez, porra! Não pedi para ter este cargo de responsabilidade, mas não quero que as coisas corram mal por desleixo. Brad! Vais ter de tocar uma peça de música clássica. Ouviste-me? Música. Clássica.
O guitarrista arquejou.
- Tens a certeza? Eu... Pois, eu acho que... – O guitarrista hesitou.
- Tu sabes tocar música clássica, Brad! Sabes tocar, sim, que eu já te ouvi a arranhar umas coisas de Beethoven na guitarra – incentivou Dave.
- É o Rob que sabe tocar essas merdas ao piano! – corrigiu Brad, continuando a vacilar. – Beethoven e outras cenas.
- Lembra-te do Rob! Isso, amigo. Lembra-te do Rob, que está a precisar da tua ajuda.
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O Mágico e Os Ladrões de Som
FanfictionO Doutor e a Clara esperam passar uma tarde de verão divertida num festival de música, mas deparam-se com uma ameaça alienígena inesperada que pretende invadir a Terra e transformar todos os seus habitantes em mortos-vivos. Uma aventura diferente on...