XXXII - O reencontro dos amigos

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Chester chorava num verdadeiro escândalo de emoção, cuspo e ranho, abraçado ao Joe que continuava a não perceber o que estava a acontecer. Classificava teimosamente tudo aquilo como uma cena piegas, foleira e embaraçosa. Mas como sabia da fragilidade do vocalista e como não desdenhava de um bom consolo, ainda que por motivo que ele desconhecia, não o afastava e deixava-se ficar naquela ambiguidade de protesto e aceitação.

Rob e Dave entreolharam-se e foi o baixista que fez a pergunta:

- Não se lembram de nada?

O coreano contou:

- Estava a beber água no camarim e agora apareço nesta sala de filme de ficção científica. Estão a filmar uma fita em Milton Keynes? Ou é algum vídeo para uma nova música escrita pelo Mike sobre a qual ninguém me contou nada? Onde estamos? Não devíamos estar a ir para o palco? Eh, Chaz... já chega.

- E tu, Rob?

O baterista empalideceu.

- Eh... Lembro-me de mais coisas... Tínhamos sido feitos prisioneiros, estávamos dentro de uma caixa fechada e... depois mais nada. Foi o Joe que me contaminou?

- E agora o fungo foi derrotado e deixaram de estar contaminados! – anunciou o Doutor saltando da plataforma.

A limpar a testa suada com as costas da mão, Brad escolheu abandonar a plataforma pela mesma via com que a tinha alcançado, pela escadaria atabalhoada construída por caixas grandes. Segurava com força o braço da guitarra mágica e sorria satisfeito porque tinha conseguido cumprir o desafio de tocar temas de música clássica sem um engano – o que resultara, em última análise, na cura do Joe e do Rob.

Mike estava ao lado de Clara. Antes de prosseguir com a sua explicação sobre aquele salvamento que tinha tanto de improviso, como de génio, o Doutor agarrou na mão dela e trouxe-a consigo para o centro formado pelo círculo de amigos. Também ela estava curada da contaminação pelo mesmo fungo e os seus dois corações batiam aligeirados de um grande peso. Detestava sabê-la doente. Lembrava-o de como ela era friável e finita.

Chester limpou o nariz e a boca com as mangas da blusa, soltou finalmente Joe que se colocou de pé, ligeiramente amuado por ter feito uma série de perguntas e ninguém lhas ter respondido diretamente. Rob levantava-se ajudado por Dave. Brad parou junto a Mike e o vocalista juntou-se-lhes, murmurando ao ouvido do último:

- Ali não pescas nada, companheiro. Poupa os teus esforços, a moça não está disponível. Os dois têm uma espécie de... compromisso.

O japonês admirou-se.

- Do que é que estás a falar?

- Ele é o sugar daddy da Clara.

- Chester! – Mike exclamou, abrindo os olhos.

- Pois, pois – assentiu Chester, com ares de sabedoria avulsa. – Um sugar daddy. Se quiseres que eu te explique o que é um...

- Eu sei o que é um... eu sei o que é isso. Francamente, Chaz... depois de tudo o que o Doutor fez por nós continuas a implicar com ele. E eu não estava a engatar a Clara. Só estava a... não estava a fazer nada, em abono da verdade.

- Doutor – interrompeu Clara, olhando-o com desvelo. – O que aconteceu aqui?

- Beethoven!

- E também Mozart e Bach e... ai! – Chester calou-se, ofendido com a cotovelada de Mike. Resmungou: – Posso parecer estúpido, mas reconheci as músicas. Também oiço as merdas que o Rob se põe a inventar no piano, enquanto conta sobre as aulas de música que a mãe o obrigava a ter, quando era miúdo.

O Mágico e Os Ladrões de SomOnde histórias criam vida. Descubra agora