Capítulo 35

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BIANCA

“Deixe Deus julgar os criminosos.”
- Desconhecido.



Minha boca estava seca.

Eu abri um olho, minha pálpebra pesava como chumbo. Olhei ao redor do quarto, estava escuro.

Dante finalmente tinha conseguido dormir, cuidei de suas mãos que estavam em carne viva após seu surto que nem mesmo eu acreditava que tinha acontecido.

Ele nunca se descontrolava, sempre impassível, desprovido de qualquer emoção.

Um soluço cheio de dor escapou da minha boca quando lembrei do sofrimento que Dante transpareceu. Lágrimas pingavam dos meus olhos, a tristeza me oprimindo, me forcei a levantar da cama, com cautela para não acorda-lo.

Peguei um roupão que estava em cima de umas das poltronas, o coloquei em meus ombros e sai em direção à escada.

A casa estava silenciosa, eu era capaz de escutar minhas próprias pisadas, eu encarava meus pés enquanto abraçava meu próprio corpo. Sem notar tropecei em um corpo rígido, ergui meus olhos e me deparei com Enzo.

Ele estava diferente...

Enzo passou os braços entorno do meu corpo me puxando para um abraço.

- Estou tão feliz por você estar bem.- disse entre soluços.

Ele permaneceu imóvel, me soltei de seus braços e notei seu olhar perdido, apertei sua mão e descemos as escadas em direção à cozinha. Quando fui capaz de vê-lo com clareza através das luzes fortes, sobressaltei.

Com os acontecimentos de horas atrás não reparei em sua aparência.

- Você fez tatuagens.- disse apontando para seus braços.- Muitas.

Lorenzo tinha fechado os braços com alguns simbolos da Camorra que eram reconhecíveis, Dante possuía as mesmas.

- Sim. Algumas coisas mudaram.- aquilo em seu olhar era orgulho?

Sentamos próximo a bancada da cozinha, enquanto eu buscava sinais do que havia acontecido com ele.

- Bia, estou bem. A viagem me fez ver as coisas de maneira diferente.

- Me explique.

Ele se levantou da cadeira e foi rumo a geladeira.

- Vou esquentar uma pizza, quer?- ele abriu uma das portas do refrigerador e de lá tirou uma pizza pronta.

- Tudo bem, mas não fuja do assunto.

Eu não conseguia acreditar que algo poderia ter acontecido para fazê-lo mudar de ideia. Parecia irreal. Lorenzo sempre detestou a vida que levamos.

- Eu sobrevivi a tudo isso e darei meu melhor para fazer as coisas de maneira diferente, finalmente teremos paz. Quero me aproximar de Dante, já perdi uma irmã, não quero perdê-lo.

Ele foi ao inferno e voltou, as cicatrizes o fizeram mais forte.

Depois de colocar a pizza no forno elétrico ele veio e se sentou ao meu lado.

- Obrigado, por ter sido paciente comigo.

- Você parece tão diferente. - apertei suas mãos.

- Serei bom o suficiente para que as pessoas que amo estejam sempre protegidas. Não quero me sentir indefeso novamente.

Seu olhar transmitia um misto de emoções... tristeza, alívio... esperança?

Em tão pouco tempo meu menino tinha crescido tanto...

- Dante ficará bem, ele só adiou o luto, agora precisa senti-lo. Esteja lá por ele como esteve por mim.

- Quero meus meninos bem.

Ele sorriu e me puxou em direção ao seu peito. Ficamos assim até o forno apitar, nos lembrando que a pizza estava pronta.

Destinada a ele - Série Os mafiosos- Livro 02-  (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora