Vinte e Um

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Capítulo revisado, 1200 palavras.

Será que eu havia dito algo de errado? Ou eu fui apressado demais? Ela me beijou com a mesma paixão da qual eu estava sentindo. Eu não a forcei... não sei o que posso ter cometido que a deixou desconfortável.

Não entendo porque Suzana teve uma reação daquelas. Estávamos indo bem, tudo parecia fluir naturalmente, eu sei que ela sente algo por mim, era visível e eu senti isso.

Mal percebo Inês andando pela sala quando adentro, e acabo esbarrando nela. Ela pula pelo susto e faz uma pose de defesa, erguendo os punhos cerrados em minha direção. Eu poderia estar rindo agora de seu exagero, mas a pequena angústia em meu peito não permite.

- Que susto, Heitor, caramba! Isso são, horas de chegar? Já passa das onze e meia! - ela põe as mãos na cintura, me encarando aparentemente nervosa. Oras, eu não sou nenhum moleque de quinze anos que precisa de horário para voltar pra casa.

- O que faz acordada? - tento não deixar visível o meu estado, endireitando meus óculos. Porém, essa mulher não deixa passar nada despercebido. O meu olhar triste não seria uma exceção.

- Filho... você está bem?

Assinto com um meio sorriso, mas Inês não se convence. Ela me puxa pelo pulso até a cozinha, se sentando na ilha, onde faço o mesmo ao seu lado.

- Vai, me diz o que aconteceu para estar com essa carinha tão triste. Aliás, me diga tudo o que aconteceu! Eu vi que você saiu com a Suzana mais cedo.

Incrível como ela age feito uma mãe. E isso me deixa confortável, ela me ajuda em todas as formas que pode e eu serei eternamente grato.

Apoio os cotovelos sobre a ilha, me recordando da noite incrível que passei e da decepção que foi seu encerramento.

- Saímos para nos distrair, ela terminou com o namorado mais cedo, então eu a convidei para se divertir um pouco. Nós conversamos, bebemos e eu até cantei uma música para ela.

Inês faz uma careta após minha última frase, e isso só comprova que todos tem razão sobre a minha vocação musical ser um fracasso.

- Certo..., mas o que houve de errado?

- Eu me declarei, Inês. E eu sei que ela me corresponde, mas...

- Você se declarou? Mas não tem nem um mês que ela trabalha aqui, Heitor, ela não terminou hoje com o namorado dela?... como isso é possível?

- Na verdade, já nos conhecemos há bastante tempo.

Lhe explico tudo, desde o início. Inês fica surpresa quando termino, afinal, não é um muito comum você reencontrar um amigo de infância, que por um acaso era uma paixão antiga, a primeira, aliás.

Também conto sobre o que aconteceu após o nosso encontro no bar. Inês me repreende, pois, segundo ela, foi rápido demais. Eu deveria ter esperado um pouco, passado mais tempo a conhecendo, já que agora somos pessoas totalmente diferentes. Sei que ela tem razão, mas não tinha como controlar.

- Então, você está me dizendo que você a amava, desde a adolescência, mas não tinha total certeza, então se afastou dela para tentar esquece-la, pois acreditava que ela não sentia o mesmo, mas de repente você descobriu estar enganado, porém, já era tarde demais, pois em poucos dias você estaria indo embora da cidade, e com isso achou melhor a magoar, fazendo ela te esquecer e, consequentemente, você também... Heitor, você tem ideia do quão egoísta e idiota você foi? - Inês altera o tom de voz, o que me faz encolher os ombros sobre o banco. - Não me admira que ela simplesmente fugiu de você. Não percebe? Ela tem medo de que você faça a mesma coisa, que a decepcione outra vez.

- Mas isso já tem tanto tempo...

- Não interessa! - me interrompe. - Eu sei que já faz tempo, mas as pessoas diferem, Heitor. Cada uma lida com a mágoa da maneira que acha melhor. E essa menina, guardou tudo para ela, e agora as consequências estão vindo. Ela não tem segurança pelos próprios sentimentos, e muito menos confiança em você.

Inês se aproxima de mim, e segura meu rosto com carinho. Eu me sentia um imbecil, ela está certa. Eu magoei a Suzana uma vez, e ela acredita que posso fazer isso outra vez. Não deveria ter despejado tudo o que sinto assim, de uma hora para outra. Preciso aprender a controlar minhas ações impulsivas.

- Tente consertar o que fez, restaure apenas a amizade de vocês. Depois, deixa tudo acontecer naturalmente. Sem pressão e... sem tesão.

Engasgo com minha própria saliva, sentindo meu rosto ficar vermelho. Inês é tão indiscreta. Ela ri do meu estado e me abraça, me deixando mais tranquilo.

- Eu amo você, Heitor. Você é como um filho e eu só te desejo o melhor.

- Também amo você! Obrigado por existir! - beijo seu rosto e a deixo na cozinha, desejando uma boa noite.

Eu irei seguir os seus conselhos, preciso dar um passo de cada vez. Ser o melhor amigo que sempre fui para Suzana, manter o controle de minhas emoções e reatar a confiança que é preciso, pois se não existir confiança, não há a possibilidade de nada dar certo entre nós dois.

Chegando em meu quarto, pego meu celular e envio uma mensagem a ela.

Su, está acordada? Preciso conversar com você.
23:58 pm.

Após longos minutos esperando, meu celular ilumina a tela, indicando o retorno:

Suzana: Diga-me..
00:02 am.

Pensei nas palavras, em como digitar cada uma, mas estava sendo uma tortura interna. Minha pulsação acelera e eu sou obrigado a respirar fundo. Ok, eu posso fazer isso, não tem o porque de tanto nervosismo.

Me desculpa, desculpa por tudo que aconteceu hoje. Eu sei que foi rápido demais, mas tudo o que eu disse era verdade. Eu realmente estou apaixonado por você, Suzana.
Não gosto de falar sobre essas coisas em mensagens escritas, prefiro dizer olhando diretamente pra você, e quero pedir que mais tarde, você possa vir aqui e conversar comigo. Não podemos agir como se nada tivesse acontecido, assim como não podemos agir por impulso ou pura emoção momentânea. Será possível essa conversa?
00:05 am.


Me deito confortávelmente e pouso o celular no outro travesseiro. Ainda sinto o descompasso em meu peito, mas ignoro. Após algum tempo, não sei ao certo o quanto, eu estava quase caindo no sono, o celular apita novamente, duas vezes.

Suzana: Tudo bem, eu também preciso conversar contigo...mas, você pode vir aqui em casa? Tenho que terminar algumas tarefas e não quero adiar mais.

Tenho que me desculpar com você e esclarecer diversas coisas...

00:12 am.

Ok, eu estarei ai.
Tenha uma boa madrugada de sono, Su.
00:13 am.

Suzana: Você também.
00:13 am.

Consegui sorrir pela resposta que ganhei. Bom, pelo menos ela não está zangada comigo. Sei que podemos resolver essa situação e tudo ficará bem daqui por diante.

Guardo o celular e me entrego ao sono, que demorou um certo tempo para chegar. A ansiedade me abraçou outra vez, quase despertando a insônia. Felizmente o meu cansaço estava maior, e desta vez eu consigo dormir, tendo os sonhos invadidos pela dama de vermelho desta noite.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora