Quarenta

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Suzana

Eu sentia meu coração aos pedacinhos todas às vezes em que minha filha chorava e eu não conseguia fazer nada.

Ter que amamenta-la por uma mamadeira e não no meu próprio seio, era demais pra mim. Eu não poderia mais suportar esse sentimento.

Hoje será a nossa alta. Heitor está comigo desde muito cedo, ele me ajudou a arrumar todos os pertences, e também conversou comigo sobre a nossa situação.

Primeiramente se desculpou, por ter agido de maneira grosseira. Eu não fiquei magoada com isso, no lugar dele eu também não saberia como reagir.
Depois, como sempre vêm fazendo, me dedicou o apoio necessário e me prometeu ajuda para superar esse momento difícil.

- Falta mais alguma coisa? - pergunta, segurando nossa filha. Eu nego e saio do quarto antes dele.

Ainda está sendo difícil ficar tão perto da bebê.

No caminho, encontro a enfermeira que tanto me ajudou nesses cinco dias no hospital: Dona Marta.

Ela me tratou como se eu fosse sua própria filha, com muito carinho e atenção, assim como tratou ainda melhor a minha pequena. Eu sou eternamente grata por seus cuidados.

- Espero que fique tudo bem com você, menina. - diz ao me abraçar. Retribuo, sentindo as primeiras lágrimas rolarem por minhas bochechas. Eu me sinto tão culpada.

- Não chore, meu bem. Lembre-se que é só uma fase. Vai ficar tudo bem! - me consola, com os olhos marejados também.

Apenas assinto e sorrio. Heitor a cumprimenta e juntos seguimos até a recepção.

O meu obstetra estava nos aguardando para algumas instruções. Enquanto ele falava, eu encarei a pequena criatura no colo de Heitor. Ela estava com os olhinhos curiosos em mim. Eles brilhavam e não desviaram por nada. Meu peito se acelerou com isso, na mesma medida em que doía. Eu quero tanto dar carinho a ela, mas não consigo.

-..... e com o acompanhamento necessário, paciência e dedicação, a paciente ficará livre em poucos dias. - A voz do médico ecoava distante para mim.

Nem prestei atenção em nada, apenas permaneci quieta com meus pensamentos e, continuei assim, até chegar em casa.

~♡~

Mais tarde, a psiquiatra da clínica nos visitou. Heitor marcou uma consulta e assinou alguns documentos para a realização do meu tratamento para a cura dessa depressão.

Desde que chegamos, eu passei o dia todo no quarto, deitada. Bruno me pediu colo assim que botou os olhos em mim, mas eu não queria e nem estava com disposição para isso. Foi horrível ouvir seu chorinho quando o ignorei e subi pro quarto.

Tudo isso era um pesadelo. Eu nunca me imaginei numa situação dessas.

Suspirei ao sair do banheiro e seguindo novamente para a cama, quando três toques na porta me fizeram parar e olhar na direção da mesma.

- Posso entrar? - A mulher, que parecia estar na casa dos seus quarenta anos, sorri esperando minha resposta.

Por um momento eu idealizei dizer "não", mas eu sabia quem ela era e eu realmente precisava da sua atenção.

- Claro. Apenas irei arrumar a cama e...

- Oh, não, meu bem. Do jeito que está, está bom. - me interrompe, com uma voz doce e gentil.

A convido para entrar e me sento na beira da cama. Ela se senta numa poltrona próxima a mim e observa o quarto, curiosa.

- Meu nome é Monique, sou psicóloga e psiquiatra. Irei acompanhar você nessa fase. Você é a Suzana, certo?

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora