Vestígios De Uma Amizade (Concluída)

Trinta e Quatro

Suzana

- Agora, darei a palavra ao advogado da mãe dos menores, o doutor Matias Alencar. - O juiz bate o martelo, totalmente autoritário.

Após alguns minutos de seu discurso, a audiência se inicia.

Heitor está inquieto, balançando de forma frenética uma de suas pernas, na primeira fileira ao lado do seu advogado. Eu estou um pouco mais distante, junto com Cláudia e o pai de Heitor, o senhor Pedro Almeida. Ele é um homem sério, mas ao mesmo tempo consegue ser um doce. Nos reencontramos hoje, já que ele retornou para a cidade somente por conta da situação sobre a guarda dos netos.

Ele foi super simpático comigo, e isso conseguio suavizar um pouco a minha ansiedade.

Mas por dentro eu ainda estava angustiada. Fernanda não parou de me encarar desde que chegamos aqui. Ela está muito calma pro meu gosto. A primeira coisa que fez, assim que nos esbarramos na entrada do fórum, foi chamar a mim e Heitor de irresponsáveis, por deixarmos as crianças "sozinhas".

Entretanto, para o azar de sua graça, e total alívio meu, as crianças ficaram com os meus pais, na casa de Heitor. Eles estão na cidade, resolvendo alguns assuntos, então eu pedi para que eles ficassem com as crianças.

A princípio, eu não viria até aqui, mas eu não poderia deixar Heitor sozinho para enfrentar um dos momentos mais decisivos de sua vida.

O clima aqui estava pesado, o tal advogado de Fernanda era muito sábio com as palavras. Conseguio trazer provas de todas às vezes em que Heitor se recusou a permitir a visita da mãe das crianças.

Como conseguio? Eu não faço ideia.

Por outro lado, achei um tremendo exagero a forma como ele desprezou Heitor, o chamando de "péssimo pai e imaturo" e que nunca estava presente.

- Vossa excelência, a minha cliente sofreu ao lado do ex-marido, posso imaginar que os filhos também. Ele só vivia para o trabalho! E quando estava em casa, discutia constantemente com ela, na frente da primogênita. E, logo após o nascimento do caçula, a impediu de ficar com o bebê, trazendo uma amante para a casa. Amante da qual, nada mais é do que a babá das crianças! A prova de que ele é um homem mesquinho, sem escrúpulos, arrogante e rude!

Meu rosto ferve de raiva. Eu não era amante dele coisa nenhuma! Isso são calúnias!

- Protesto! Ele está falando mentiras e ofendendo o meu cliente! - o advogado de Heitor exclama ao se levantar.

O juiz o olha com desdém.

- Protesto negado! Continue, doutor Matias.

Vários murmúrios são ouvidos ao redor. Ninguém está satisfeito com isso. Temos testemunhas de que Fernanda quem é a mal caráter aqui.

Eu estava me segurando para não dar cara dela, já que a mesma estava sorrindo. Uma completa cínica e debochada. Ela está adorando isso, com certeza pagou muito bem o advogado para fazer essas difamações.

- É inadmissível que este homem - ele aponta para Heitor - Permaneça com os filhos! Ele não tem controle emocional algum para tal responsabilidade.

O falatório do advogado parece sem fim. Ele falou mais alguns absurdos durantes uns vinte minutos, mostrando supostos relatórios para comprovar o que dizia. Mas eram fracos demais e sem nexo.

Depois, foi a vez de Fernanda. Claro que ela precisou fingir estar abalada e que "morria de saudades das crianças". Ela não declarou nada de importante, apenas o seu suposto lado emocional destruído.

Por fim, o juiz fez uma pausa de dez minutos, parecendo desconfiado quanto à postura de Fernanda.

- Ele estava mentindo, Heitor! Como isso é possível?!