Quarenta e Um

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Heitor

No dia em que recebi o diagnóstico de Suzana eu não conseguia acreditar nas palavras do médico. Não, não é possível.

- Quê? Depressão pós-parto? O senhor está me dizendo que a minha Suzana, a mãe dos meus filhos, da qual ama crianças e, aliás, é uma profissional na área, está com depressão pós-parto? Isso não faz sentido!

O homem a minha frente demonstra compreensão em seu olhar. Ele sabe que não é fácil para um paciente ou familiar escutar o diagnóstico de determinado problema.

- Eu sei que é confuso. Mas acontece, e é mais comum do que se imagina.

- Não posso acreditar que uma mulher como ela está passando por isso. - relaxo sobre a cadeira, sentindo meus olhos embaçados. Nós estamos esperando por essa criança com tanta ansiedade e alegria, não entendo como isso veio acontecer.

- Fique tranquilo. Nossa clínica dará a assistência necessária a sua mulher. E, acredite, isso é curável.

Tenho sorrir em agradecimento, mas estava difícil manter um semblante feliz.

- Temos excelentes profissionais que garantem um tratamento eficaz para esses casos. Irei mandar seus dados para um deles, e logo entrará em contato com você.

- Obrigado, doutor.

Ele fica de pé e apoia as duas mãos em meus ombros.

- Disponha. Estamos aqui para ajudar.

Mas ao passar dos dias, tudo complicou ainda mais...

Inúmeras noites Suzana não dormia, ela tinha pesadelos ou insônia. Ficava andando pelo quarto ou chorava compulsivamente. Eu estava ficando desesperado. Era horrível vê-la sofrer daquela maneira. Da mesma forma que nossa filha sentia a falta do calor da mãe.

Ontem, eu estava ajudando Stéfany com os deveres de casa quando a mesma me perguntou algo que me fez perder o chão por alguns segundos:

- A minha mãe não gosta da minha irmãzinha? Ela vai nos deixar igual a outra, papai?

Eu não soube como explicar o que estava acontecendo pra ela. Minha filha é esperta, ela percebe tudo que acontece em sua volta, mesmo ficando em silêncio.

Me dói saber que ela ainda se lembra do que Fernanda fez, e creio que talvez, ela nunca consiga esquecer.

Engolindo em seco, tentei manter minha calma e lhe contei que Suzana não se sentia bem.

- Ela vai melhorar, meu amor. Cedo ou tarde ela irá melhorar. - dizia a Stéfany, mas eu tentava convencer mais a mim mesmo.

Eu fiz de tudo que estava ao meu alcance para ajudar. E quando a doutora Monique me ligou, eu sabia que minhas preces tinham sido ouvidas.

A doutora Monique é uma profissional muito recomendada pelos profissionais da clínica em que tenho o convênio da família. Ela é reconhecida mundialmente por seus trabalhos e foi responsável por algumas pesquisas muito importantes no ramo da pediatria.

As consultas duraram pouco mais de seis dias. Suzana parecia mais tranquila e conseguia me fazer companhia enquanto eu cuidava de nossa bebê.

E hoje, hoje foi uma noite de alívio para mim. Ela finalmente superou essa fase terrível e conseguio segurar a própria filha. Chorei mais do que ela, se duvidarem. Eu estava esperando tanto por isso, que não tenho palavras pra descrever o quão bom foi ter presenciado aquela cena.

Eu sei que agora tudo ficará bem.

~♡~

Observo Suzana amamentar nossa menina, nossa Milena. Eu adorei esse nome, creio que Suzana se sente feliz em poder homenagear sua avó. E aonde quer que ela esteja, eu sei que deve estar muito orgulhosa da neta.

Ela sorri pra criança e a acaricia com muito amor. Estou paralisado na porta, rendido à beleza desse momento e dessa mulher.

De manhã nós fomos para o hospital, onde Suzana fez uma nova avaliação e está liberada do tratamento com Monique. O que me encheu ainda mais de felicidade.

O médico disse que foi uma surpresa o fato de Milena ter conseguido se acostumar a se alimentar com o peito outra vez. Geralmente as crianças não conseguem mais, principalmente as recém nascidas.

Mas fico feliz em ver que nossa filha se apegou à mãe.

Suzana a faz arrotar e logo a põe no berço outra vez. Após alguns passos ela se esbarra em mim, levando um breve susto.

- Aonde vai? - questiono ao segura-la, recebendo um sorriso tímido em troca.

- Eu ia te procurar.

- Ah, é? Achei que estivesse cansada. Pra que queria a minha presença, senhorita?

Pode ser impressão minha, mas as suas bochechas atingiram um tom avermelhado.

- Pra me fazer companhia. - ela quase não conseguio falar, e isso a deixou graciosa.

- Companhia? Só isso? - pergunto, enquanto fecho a porta.

Suzana é a pessoa mais tímida que conheço. E isso me deixa mais encantado.

- Por que está sorrindo desse jeito? Eu só quero que você fique aqui, assistindo algo comigo. Faz tempo que não passamos um tempo juntos, não é? - Suzana desprende os cabelos de um coque mal feito e em seguida liga a televisão, desviando o olhar de mim.

Aproveito que ela fica de costas e me aproximo, circulando meu braço por sua cintura e beijo seu pescoço nu. Inalar aquele perfume doce e sentir a reação da pele dela me fez perder a noção do tempo.

- O que você quer ver?

Levei alguns segundos pra me tocar que ela falando comigo. A viro de frente a mim e ela me dá um rápido selinho. Suzana se afasta, se sentando próxima a cabeceira da cama.

Eu fiquei parado feito bobo a observando. Na verdade, eu estava era a admirando.

- Já que você não escolhe, eu mesma procuro. - diz autoritária, apertando o controle, ao procurar por alguma programação.

Eu poderia me deitar do lado dela, assistir algum filme e lhe fazer um bom cafuné. Mas eu estou com saudades dessa mulher, saudades do corpo dela.

Então, sem pensar mais, caminho em direção a tomada no canto da parede e desligo a tevê sem mais nem menos, ouvindo um resmungo de quem não gostou nada.

Me certifico de que a porta está trancada e me aproximo de Suzana, que me olha furiosa. Me sento próximo de suas lindas pernas despidas e pouso uma das mãos sobre elas.

- Por que você desligou? Às vezes você me irrita, sabia?! - ela cruza os braços, deixando ainda mais volumosos os seus belos seios. Desvio meus olhos e ela sorri ao perceber que me afetou.

- Quer mesmo que eu diga ou que te mostre? - passeio minha mão em sua coxa, em um vai e vem, numa mensagem descarada do que eu quero.

Ela gesticula com o indicador que eu me aproxime e eu estou completamente rendido a qualquer pedido.

- O que está esperando? Odeio conversar demais.

E após me lançar uma piscadela, ela agarra no colarinho da minha camisa me deixando colado a ela, me presenteando mais uma vez com seu beijo doce.

Ah, eu amo essa mulher, e logo mais poderei chamá-la de minha pra sempre.

~♡~

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora