Trinta e Oito

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Três meses mais tarde…

Heitor

— Papai! Papai! — ouço Stéfany gritar por mim. Estou na sala, relendo alguns documentos que chegaram hoje pelo correio.

— Estou aqui, filha. Na sala! — grito de volta, estranhando o porquê do desespero em sua voz.

Ela aparece pelo corredor, com os cabelos molhados, e de pijama. Provavelmente acabou de ter tomado banho. Assim que se aproxima o suficiente, ela segura minhas mãos e sorri.

— O bebê, pai! O bebê vai nascer! — sinto todo meu corpo paralisar com suas palavras. Meu filho irá nascer!!?

— O que? Você tem certeza?

— Sim! Mamãe me disse que estava com dores na barriga e aí eu acho que ela começou a fazer xixi na roupa e disse que o bebê tava vindo.

A inocência da minha filha me fez sorrir.

— A bolsa dela estourou, meu Deus, temos que ir pro hospital!

Um tanto desesperado, corro com Stéfany nos braços até o andar de cima. Deixo minha filha na porta do quarto da avó, que corre para chamá-la.

Assim que entro no meu quarto, vejo Suzana com as mãos sobre o ventre, respirando fundo. Suas pernas estão totalmente molhadas, então eu a ajudo a se sentar na beira da cama, e também a vestir um casaco.

— Ele irá nascer, Heitor. Nosso bebê! — diz emocionada, ainda com dificuldades pra respirar.

— Está doendo muito? — pergunto o óbvio.

— A dor vai e vem, mas a bolsa já estourou, precisamos ir agora…Ah! — ela perta minha mão com tanto força, que nós dois gritamos juntos.

— Mãe!? Mãe, venha até aqui!

Dona Cláudia entra correndo e nos ajuda a pegar a bolsa do bebê.

Suzana não conseguirá descer as escadas, as dores estão cada vez mais fortes. Tanto que seus gritos acordaram Bruno. Meu filho começa a chorar, pedindo colo a alguém. Eu estava tão contente e assustado ao mesmo tempo que eu nem sabia o que fazer primeiro.

— Você irá levar Suzana ao hospital, eu fico com as crianças. — mamãe impõe, e toma o controle sobre os pequenos.

Rapidamente eu a pego em meu colo e ando o mais rápido possível até meu carro. Após certificar que Suzana estava segura, dou partida seguindo rapidamente para a clínica.

Quando chegamos, ela foi levada com urgência para a sala de parto. O médico nos disse que sua dilatação ainda estava acontecendo, então ele me ajudou a se preparar para esperar do lado de fora da sala.

Eu andava de um lado pro outro, agoniado, com o coração saindo pela boca. Até que um chorinho suave me faz derramar lágrimas de alegria.

O doutor retorna, e me anuncia que a criança nasceu.

— É uma menina, uma linda e saudável menina. — Eu o abraço e agradeço. — Venha, já pode vir vê-la, daqui a pouco será levada para fazer exames.

Entro na sala e tudo que enxergo são meus dois amores. Suzana parece exausta, vestida com aquelas roupas sem graça de hospital e também uma touca, ela continua exalando a mesma beleza de sempre. Minha filha está nos braços de uma enfermeira, ela está colocando uma etiqueta em seu pequeno pulso.

Os pulmões da bebê são fortes, pois até agora ela ainda chora. Mas é um choro que eu poderia escutar  quantas horas fossem possíveis. É o sinal de um dos maiores milagres da vida.

Me aproximo de Suzana, beijando suavemente sua testa. Ela me olha com amor e lágrimas surgem em seus olhos. Passo minhas mãos em seu rosto húmido pelo suor, a acalmando, feliz por termos nossa filha. Ela acabou dormindo após o parto, estava cansada demais.

— A nossa menina, mais uma. Obrigado por isso, meu amor. — sussurro baixinho, e a deixo descansar.

A enfermeira me entrega a bebê, desejando felicidades. A pequena é a coisa mais linda que eu já vi. Tem poucos cabelos e eles são da mesma cor que os da mãe. Agora ela já está mais calma, sem choro. O amor da minha vida me presenteou com outro filho, minha família cresceu e a minha felicidade também.

Pelo resto do dia, recebi orientações dos médicos e fiz diversos telefonemas para que todos da família e amigos soubessem da novidade.

~♡~

No entanto, no dia seguinte, achei o comportamento de Suzana um pouco estranho. Ela não demonstrava estar tão contente como eu imaginei que ficaria.

Ela sorria, mas seu sorriso não tinha brilho. E quando perguntei sobre qual nome daríamos para a criança, ela deu de ombros, como se estivesse desinteressada.

E no segundo posterior, do qual ela e a bebê receberiam alta, foi como uma avalanche sobre mim.

Eu havia acabado de chegar no quarto. Deixei um beijo em Suzana, e levei a bebê até a mesma, a colocando em seu colo. 

Mas Suzana não reage, ela não faz nada. Apenas chora e parece hesitar.

Franzo o cenho, surpreso com essa reação.

— Meu amor, o que foi? É a sua filha, pegue-a. — volto a aproximar a bebê, mas Suzana se afasta mais. Precisei pegar a bebê e a deixar no berço do quarto.

— Eu não posso…não posso pegar

Meu coração fica partido com isso. Como assim ela está negando a própria filha? Por quê?

O doutor que nos atendeu e que fez o parto ressurge na sala, e também estranha o comportamento de Suzana. 

Ele troca olhares com a enfermeira, que fazia plantão à bebê, e vejo decepção nos seus olhos.

Olho para Suzana que continua chorando em silêncio, desviando o olhar de mim.

— Por que você não quis pegar a nossa filha? Por quê a rejeitou assim? — pergunto, sentindo um nó na garganta. Eu não compreendo uma razão lógica para isso.

Suzana não me responde, apenas chora ainda mais. O doutor toca no ombro dela, e me encara. O silêncio naquele lugar me deixa enfurecido.

— Eu exijo saber o que está havendo agora!

Perco meu controle, me sentindo irado. Eu não acredito que ela está negando a própria filha, a nossa filha.

O doutor respira fundo, assentindo devagar.

— Venha até a minha sala.

A enfermeira se posiciona ao lado de Suzana. Lanço um olhar decepcionado a ela, que me ignora outra vez.

O doutor me leva até a sua sala e tranca a porta. Apos se acomodar, ele retira o jaleco e me convida para sentar.

— E então? Por que a minha namorada rejeitou a filha? Qual a resposta para essa atitude?

Ele demora alguns minutos antes de responder, mas quando fala, consegue me fazer sentir um tremendo buraco em meu peito.

— Suzana, a que tudo indica, está com depressão pós-parto.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora