Trinta e Dois

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Suzana

O corredor gélido daquele hospital parecia sem fim. Depois de deixar Heitor pra trás, sigo Luiz até a recepção, onde ele me entrega uma etiqueta de visitante. Precisei me identificar para um policial que fazia a vigilância na porta do leito. Graças ao Luiz, não houve problema.

André estava como foragido e a polícia não ia dar mole só porque agora ele está impossibilitado de andar.

Eu me sentia mal pelo clima tenso que se formou entre mim e Heitor, mas eu não estava fazendo nada de errado. Eu só queria ver com meus próprios olhos aonde as atitudes erradas daquele que fez parte da minha vida, que acompanhou os meus passos por um período de fases e que também já me ajudou, haviam chegado.

— Você tem certeza disso, Suzana? — Luiz segura meu braço, assim que toco na maçaneta da porta.

O olho e ele parecia mesmo preocupado. Franzo o cenho e assentio.

— Há algum problema?

— Meu irmão está agitado…não quero que ele te trate mal. Sei que você está grávida, fortes emoções podem te afetar.

— Como sabe que estou grávida? — pergunto baixo, e ele sorri.

— Primeiro, você estava saindo da sala do ginecologista, não que seja por isso, mas já é um ponto; segundo, você estava com um brilho nos olhos, idêntico ao que a minha mulher carregava quando descobrimos o nosso segundo bebê; e terceiro, você está usando uma pulseira escrito "gestante". — Luiz segura o meu pulso e o levanta até o meu rosto. Tinha me esquecido de retirá-la, faço isso no mesmo instante, a guardando em meu bolso.

— Que observador, não?! — digo em sarcasmo, e ele ri — Aliás, meus parabéns pelo bebê. Soube que Pedro fez dois anos essa semana, ele está a sua cara! 

Ainda tenho contato com a mulher de meu ex-cunhado, Eloá e eu nos seguimos nas redes sociais. A família de André nunca deixou de entrar em contato comigo, mas também não me falavam dele, o que pra mim era um alívio, até então.

— Sim, sim. Obrigado, estou feliz também.

Permanecemos em silêncio por uns instantes, até que tomo coragem para continuar de onde parei.

— Bom, eu preciso fazer isso. Não irei demorar. — abro a porta e Luiz se despede, sumindo pelo corredor.

O quarto estava com as janelas abertas, uma brisa fria percorria o ambiente, me causando um calafrio. André parecia distante, com um olhar triste para o movimento leve que as cortinas faziam. Ele estava mudado; seus cabelos foram raspados, aparentemente ele está mais magro. Notei em seu rosto as marcas do cansaço e também alguns arranhões, talvez sejam por conta do acidente entre a troca de tiros.

— Já está de volta, Luiz? Você sabe que eu quero ficar sozinho! Não preciso de você. — diz rude, não percebendo que era eu.

— Não sou o Luiz.

André ergue os olhos na minha direção, demonstrando surpresa. Ele tenta se levantar, mas parece se recordar de que agora não consegue fazer isso sozinho, então ele fecha os olhos e relaxa os braços nas laterais do corpo. Sinto-me mal ao presenciar isso, não consigo imaginar o tamanho da sua aflição.

— Veio debochar de mim? Rir e dizer que isso é o que eu mereço por ter virado um marginal? — seu tom de voz é amargo, mas eu sinto tristeza em suas palavras.

Caminho até ele, sentindo um receio em chegar perto.

— Você sabe que eu não faria isso, mesmo…depois de tudo que aconteceu.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora