Quarenta e Dois

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Suzana

Passado alguns dias, resolvi fazer uma faxina no salão do ateliê, meu mais novo ateliê.

Todos os documentos já estão prontos e, até que eu marque uma data para inauguração, apenas faltará a assinatura dos termos. Poderei dar cursos de artes para todas as idades e ainda vender meu trabalho novamente.

Tudo isso graças a Heitor.

Ele tem sido tão atencioso e romântico. Me ajuda a cuidar das crianças e sempre que pode está nos paparicando.

O trabalho dele triplicou nas últimas semanas, mas Heitor não coloca a vida profissional na frente da família, pelo menos não mais.

Termino de jogar outro balde com água e sabão no piso, quando no mesmo instante, meu celular toca em meu bolso.

Seco minhas mãos nas laterais da minha bermuda e o atendo sem verificar quem era.

— Alô?

Oi, meu amor. Você já terminou tudo por aí? — sorrio ao ouvir a voz de Heitor.

— Não, mas só falta o piso. Por quê? — Apoio o celular com o ombro e procuro me sentar. Aproveitarei os minutos da conversa pra descansar um pouco.

Só estou ligando porque fiquei com saudades.

Esse homem é um fofo.

— Ah, que lindo. Também estou com saudades, e olha que só fazem algumas horas que te vi. — ele ri e eu o acompanho. — As crianças estão bem? E Milena?

Estão sim, Su. Brincando como sempre. Milena ainda está dormindo, estou aqui com ela.

— Que bom, amor.

Conversamos por mais algum tempo sobre diferentes assuntos. Expliquei sobre minhas preferências em relação às compras no supermercado, coisinhas básicas de higiene e sobre os materiais novos que irei precisar. Iremos juntos para comprarmos tudo.

E antes de desligar, ele me faz uma proposta inusitada.

Que tal a gente ir na praia?

— Praia? Ficou maluco? Sua filha não tem nem um mês que nasceu e você quer ir à praia?!

Ele só pode estar doido mesmo.

Não, amor. Não agora, mas nas minhas férias do próximo mês. Podemos deixar as crianças com minha mãe e, assim, nós aproveitamos um tempo só pra gente.

Pensei por alguns segundos e até que não seria má ideia. Faz tempo que não temos momentos que todo casal precisa ter. Mas minha filha é muito novinha pra ficar longe de mim, e ainda mais depois de todo aquele drama que passei.
A ideia é tentadora, mas por enquanto eu prefiro não suprir as minhas vontades.

— Desculpe, mas eu não acho certo. Eu quero curtir a minha filha e os nossos filhos, Heitor. Você melhor do que ninguém sabe o quanto eu preciso recuperar o tempo perdido com Milena.

Tudo bem, amor. Eu entendo.  — pelo seu tom de voz parecia chateado. Mas ele precisa mesmo me compreender.

— Mas que tal a gente ir nas férias de Janeiro? As crianças podem ir conosco.

Ouço seu suspiro do outro lado da linha antes de sua resposta.

Depois combinamos uma data, está bem? Te vejo mais tarde.

— Até mais.

O som da chamada desligada me fez refletir. Será que ele ficou mesmo chateado? Mas por que essa insistência em estarmos sozinhos?

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora