Vinte e Sete

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Suzana

O final do ano chegou, e com ele, os queridos feriados. Hoje é véspera da véspera de Natal, está uma verdadeira correria em casa.

A família de Heitor não pôde comparecer para a ceia, apenas os pais estariam presentes. Por esse motivo, os convidei para passarem o Natal e o Ano Novo na minha casa, vulgo dos meus pais, ao lado de meus familiares. Heitor estava animado, nós dois assumimos um relacionamento a pouco mais de duas semanas, e até então, tudo está indo muito bem.

Ontem eu recebi uma ligação, era da delegacia. O policial encarregado na investigação do ocorrido em meu ateliê me informou que o suspeito já estava detido. Era um rapaz perturbado, morador de rua e que sempre arranjava confusão por onde passava. Testemunhas disseram que ele estava rondando a rua naquela mesma semana em que a tragédia ocorreu, e no dia em que o fogo começou, uma câmera de segurança de uma das casas registrou o tal rapaz a correr pela estrada, com um galão de gasolina vazio em mãos.
Agora, ele foi levado para uma clínica psiquiátrica, já que o mesmo estava tendo alucinações e demonstrava um comportamento agressivo, sem mais nem menos. Fiquei com pena dele, pois sei que ele não estava no estado normal.

Tudo isso me fez refletir, eu havia julgado André, e ele era inconte. Desde que terminamos, eu nunca mais o vi e ele nunca mais entrou em contato também. Mamãe me disse que o irmão dele se mudou junto com a esposa, e provávelmente André também se foi. Era melhor assim, nossos caminhos não tinham mais nenhuma razão para estarem se cruzando outra vez.

Aqui na minha antiga casa, algumas mudanças foram feitas; dois novos quartos foram construídos para visitas e a varanda estava maior, com uma churrasqueira e vários bancos feitos com troncos de árvores ao redor. Fiquei zangada ao vê-los, só em pensar nas pobres das árvores, mas fiquei um pouco mais tranquila quando papai me contou que eram de um reflorestamento.

Meus tios e primos estão na sala, papeando com os pais de Heitor. Ganhei dois sobrinhos, que já estão com seis e cinco anos de idade. Stéfany está brincando com eles, correndo pelo quintal, junto com a cadelinha, Pretinha. Ela é uma vira-lata, magrela e brincalhona, ela adora crianças e com certeza está mais feliz do que nunca, correndo com três pelo jardim à fora.

Mamãe e eu estamos terminando o preparo do jantar, temos essa tradição de família.

- Filha, por que não vai passear com Heitor? Eu posso terminar aqui.

- Mãe, já saímos hoje de manhã. - lhe entrego uma vasilha com temperos. Ela despeja o conteúdo todo sobre o molho e me devolve. A levo pra pia e termino de lavar a louça suja.

- Eu ainda não acredito que vocês estão juntos. Depois de tanto tempo, como a vida é engraçada.

- Quem diria, mamãe? Me surpreende também. - ela caminha até mim e limpa as mãos num guardanapo. Mamãe acaricia meu rosto e sorri, um sorriso doce, cheio de cumplicidade.

- Você está feliz, filha?

- Muito! Acho que nunca estive tão feliz como agora. - correspondo o sorriso e ela me abraça.

- E eu fico mais ainda em ouvir isso. - mamãe volta a dar atenção às panelas. - E...quando que eu terei um neto?

Meu rosto fica vermelho e minha mãe se diverte com isso.

- Mãe! Não acha que é cedo pra isso? - desvio meu olhar do dela e entrelaçado meus dedos sobre a mesa, onde me sentei. Se ela soubesse que isso é meio que impossível ainda...

- Pode acontecer, querida. Nunca se sabe, eu ficaria lisonjeada. Eu sinto que isso está próximo!

Meu silêncio parece incomoda-la. Mamãe tampa as panelas no fogo e se senta do meu lado, levantando o meu rosto, me induzindo a olhar em seus olhos.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora