Vinte e Três

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Capítulo revisado, 1192 palavras.

Hoje estava sendo um dia quente, que prometia uma chuva forte para o fim da tarde. Estamos próximos do verão, por isso é comum algumas pancadas.

Bruno está em meu colo, olhando fixamente para o pingente do meu colar, ele já aprendeu a se arrastar pelo berço, e movimenta mais os braços e pernas, me enchendo de orgulho. Faz dois dias que completou quatro meses de vida, está crescendo rápido, ficando cada vez mais gordinho.

Ele se recuperou bem daquela bactéria intrusa, da qual o deixou internado por longos dez dias. Eu fiquei tão feliz quando recebi a ligação de Heitor, me informando sobre a alta do bebê.
Agora, faríamos de tudo para garantir que sua saúde fique melhor a cada dia.

E, por falar no Heitor, nós estamos cada vez mais próximos. Saímos algumas vezes, mas somente como amigos. Contudo, confesso que está cada vez mais difícil manter o controle quando estamos perto um do outro.

Houve um dia, em que estávamos na escola de Stéfany, a esperando para ir embora. Era o último dia de aula e os pais foram convidados para uma cerimônia simples de despedida, e ele me deu um dos convites. Stéfany iria cantar com os coleguinhas.

Me lembro que eu fui até o banheiro, e na volta, acabei me perdendo pelo prédio, já que estava cheio e eu não conhecia nada, foi um sacrifício chegar até lá. Eu liguei para Heitor, descrevendo aonde eu estava, e em segundos ele me achou. Após rir da minha cara, eu comecei a lhe dar uma sessão de tapas, zangada pela sua falta de consideração com o meu momento, mas ele me interrompeu, segurando meus pulsos, me imobilizando de forma descarada, e me prendendo entre ele e a parede. Lembro perfeitamente de seus olhos escurecidos, pupilas dilatadas e a respiração totalmente desregulada que me fez amolecer, e quando eu já estava fechando meus olhos para um possível beijo, um bando de crianças risonhas trombaram em nós, nos assustando. Elas estavam correndo atrás de uma bola e, inocentes, nem perceberam nada entre mim e ele.

Eu fiquei tão constrangida e, ao menos tempo, rindo horrores pela situação, que nem gosto muito de lembrar, sempre que me recordo disso, minhas bochechas ardem e eu sorrio de forma espontânea.

— Acredito que estou ficando maluca, bebê. — passo meu dedo sobre seu pequeno nariz e ele enruga a testa. Eu sorrio com isso. — E sabe de quem é a culpa? Do seu querido papai.

— O quê que tem eu? — Heitor me assusta, me deixando furiosa. Ele adora fazer isso.

— Sabia que é uma falta de educação ouvir a conversa alheia?

— Jura? E quem fez isso? — Você, o bobo da corte em pessoa, penso.

Poupo meus argumentos e o ignoro, mas com um sorriso, suavizando o meu pequeno drama.

— Daqui a pouco mamãe virá aqui, se quiser tirar o resto do dia livre, fique à vontade. Terei que ir trabalhar na parte da tarde hoje, mas pretendo voltar cedo.

Heitor se senta ao meu lado, no sofá, e acaricia os pés de Bruno. Ele havia conseguido uma vaga para ser administrador de uma empresa do centro. O trabalho é bem puxado, mas ultimamente Heitor só entra lá para revisar os setores e conferir algumas papeladas. Eu não entendo muito bem, mas ele tem passado mais tempo em casa do que lá. Muita das vezes ele trabalha diretamente do escritório. Fico feliz por ele estar conseguindo seguir seus objetivos.

— Eu ficaria grata, preciso terminar algumas encomendas hoje. Graças a Deus as vendas estão aumentando. — Ele me oferece um sorriso como resposta e eu retribuo.

— Que ótimo! Agora… posso segurar o meu filhão? — ele estende os braços, mas eu afasto Bruno, fazendo um beicinho.

— Nem pensar! Acabei de pega-lo!

— Mas eu sou o pai! — Heitor cruza os braços, dramático.

— E quem cuida mais dele sou eu! — lhe mostro a língua, e ele revira os olhos, zangado. Ele assopra os fios rebeldes da testa, igual quando era criança e ficava irado. Os cabelos de Heitor estão cada vez mais volumosos, o deixando charmoso e ainda mais atraente.

— Ah! Qual é, Suzana? Não seja chata, tenho que sair daqui a pouco, quero sentir o seu cheiro antes.

O olho, sentindo meu coração saltar ao ouvir suas palavras… é isso mesmo que entendi?

— E-eu, eu digo, o cheiro de Bruno… o de bebê. — ele limpa a garganta, ruborizando. Por um lado me sinto aliviada, e do outro, um tanto frustrada, talvez...

É, pelo jeito estou maluca.

Apenas assinto, entregando o bebê a ele. Ele o pega com carinho e Bruno resmunga, reconhecendo feliz o seu pai. Após alguns segundos, ele coloca Bruno no carrinho e no mesmo instante, Cláudia chega toda alegre, abraçando o filho por trás. Heitor sorri contente e fecha os olhos, apreciando o carinho da mãe.

— Como vão os meus amores? — ela se senta ao meu lado e também me abraça.

— Muito bem! E a senhora?... Au! — me belisca, e eu entendo ser para não chamá-la assim. — quer dizer... e você, Cláudia?

— Estou ótima. E as crianças?

— Tudo tranquilo. — Heitor afirma.

— Perfeito! Irei usufruir da companhia dos meus netinhos, não me incomodem! — ela segue até o quarto de hóspedes, empurrando o carrinho de Bruno, já cantarolando o nome de Stéfany, toda feliz. Às vezes, dona Cláudia age de um jeito tão… peculiar.

Heitor recolhe a jaqueta do estofado e pega as chaves do carro, já se aprontando para sair.

— Então, até mais, Suzanita! — ele me manda um beijo, já pegando na maçaneta da porta.

— Espera! Você bem que poderia me dar uma carona, né? — fico de pé assim que ele abre a porta.

— Folgada você, não? Já está indo? — ele gesticula com cabeça para que eu saia primeiro.

Seguimos até a garagem, sentindo uma brisa suave, que agita toda a nossa cabeleira.

— Quanto mais cedo, melhor. Assim, consigo voltar hoje mesmo. Adoro a companhia da sua mãe!

— Claro, vocês duas são doidas, almas gêmeas. — ele se debruça sobre o carro, me provocando com seu comentário.

— Engraçadinho. — entro no veículo, ouvindo sua risada. Ah, eu ainda morro só de ouvi-la.

Durante todo o trajeto, ouvimos algumas músicas aleatórias e falamos sobre as crianças. O clima estava tão bom, meus dias estão tão maravilhosos, nada poderia estragar a felicidade que eu sentia no momento. Meu amigo de volta, o trabalho indo muito bem, meus pais estão com saúde e cuidando dos negócios, nada iria me abalar.

Mas infelizmente, a paz sempre dura pouco e eu estava terrivelmente enganada.

Ante mesmo de Heitor chegar na rua de minha casa, uma grande cortina de fumaça tomava conta dos céus. Eu queria que fossem nuvens, que fosse em decorrência de algum churrasco ou fogos e bombinhas... Mas aquilo, aquilo era o resultado de um terrível incêndio.

— Mas de onde é que isso está vindo? — Heitor pergunta, observando a fila de carros na rua, enrugando levemente a testa.

Logo um aperto em meu coração me deixa sem ar… será que...?

E quando não aproximamos mais, a imagem me deixa sem chão.

— Oh! Essa não...

Era o meu ateliê e a minha cada que estava em chamas!

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora