Vestígios De Uma Amizade (Concluída)

Dezessete

Capítulo revisado, 2318 palavras.

—

Por que você não me avisou ontem que havia chegado? — André abraça meus ombros e beija o alto da minha cabeça. Estou na recepção do ateliê revendo alguns pedidos novos, mas esse computador está um saco de tão lento. 

— Eu não queria atrapalhar você. 

— Você jamais me atrapalha, gata. — sorrio amarelo e ele se senta ao meu lado. 

Desisto de acessar à internet e desligo o monitor. Enquanto organizo meus lápis, André me observa, ele parece inquieto, o que nunca seria uma novidade. 

— E… como está o menino? 

— Bruno está bem. — respondo, em meio a um suspiro. Quando penso no meu bebê, preso em um hospital… me aperta o coração. 

— Hum. Bom, que tal nós sairmos? 

— Sair? 

— É, gata. Sair — André bagunça os meus cabelos, empolgado. — Sei lá, ir ao um barzinho, um restaurante, eu não sei! Mas, faz tempo que não passamos algum momento só nosso. 

Fecho os olhos por alguns segundos tentando sentir algum ânimo perante o convite. 

Se fosse antes, eu diria que seria uma ótima ideia e já estaria ansiosa para escolher uma roupa para a ocasião. Mas agora eu não tinha mais a mínima vontade. Eu não sei dizer com total certeza o que é isso que sinto, mas o André, para mim, está sendo como um colega ou até mesmo um estranho. 

É errado me sentir assim e não tomar providências, estamos morando juntos, temos um relacionamento, não posso mentir para ele em relação aos meus sentimentos. Por outro lado, eu gosto da presença dele, talvez eu só esteja acostumada, mas eu não tenho coragem de me afastar dele, pelo menos não agora. 

— Eu não quero ser estraga prazeres, mas hoje eu tirei o resto da tarde para terminar algumas encomendas e, depois, preciso fazer uma faxina na casa… realmente não vai dar, Dre. 

Ouço seu suspiro exasperado e em seguida um riso. 

— Fala a verdade, você não me ama, não mais, né? Quer terminar, é isso? 

Analiso seu rosto pelo reflexo da tela do monitor e vejo o quanto André está zangado. Giro a cadeira ficando de frente a ele. 

— Não estou entendendo onde quer chegar...

— Ah, para! Suzana, eu não sou burro. Eu sei muito bem que você não sente mais desejo algum por mim. Sei que você está sempre com desculpas para fugir e ficar longe, você se afasta de mim e, o pior, você não dá a mínima para mim! Só sabe gastar o seu dia com aquelas intrusas e insuportáveis crianças que cuida! — agora fui eu quem fecho a cara. Ele está insultando os meus pequenos!