Trinta e Três

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Heitor

Por mais que eu estivesse zangado com Suzana, toda a minha carranca desapareceu ao presencia-la aos prantos quando retornou até mim. Eu não sei o que aquele imbecil fez ou disse pra ela, mas ele irá se ver comigo!

Entretanto, se eu já estava preocupado, fiquei ainda mais quando Suzana desmaiou nos meus braços.

— Suzana? Suzana, acorda! — o seu corpo pequeno ficou pesado e ela fechou os olhos, desfalecendo. Consegui segura-la por baixo das pernas, e firmando minha mão sobre suas costas, a encaixando em meu colo. — Alguém me ajude! Por favor?!

O desespero toma conta de mim ao notar que o corredor estava vazio no momento. Tudo que fiz foi correr com ela até a recepção, rapidamente fui amparado e uma equipe a levou para a sala de emergência.

Após longos e intermináveis minutos aguardando, o médico me chama, dizendo que minha Suzana havia acordado.

Adentro naquela sala gelada e pálida, Suzana estava  recebendo instruções de uma enfermeira, alheias a minha presença. Consigo respirar aliviado sabendo que ela já estava bem. Não conseguindo controlar minha ansiedade, praticamente corro até ela, a abraçando outra vez.

— Que susto você me deu, amor.

— Você tinha razão, Heitor. Eu não deveria ter ido até ele! — não tinha percebido, mas ela estava quase chorando outra vez. Acaricio os fios macios de seu cabelo, e ela deita a cabeça em meu peito.

— Não diga nada, está bem? — ergue seu rosto, a fazendo olhar pra mim. — Agora, por favor, pare de chorar. — a beijo sem me importar com a companhia da enfermeira do nosso lado.

Eu me senti péssimo em ter negado esse carinho a ela, minutos atrás, foi horrível quando vi seu olhar magoado.

O doutor que a atendeu agora, foi o mesmo de quando chegamos aqui. Com cuidado, ajudo Suzana a descer da maca, e juntos nos sentamos para conversar com ele. 

— Você passou por algum momento de estresse, tensão, ou abalo emocional? — ele é direto, e parece um pouco tenso.

— Eu estava conversando com o meu ex-namorado, e de repente começamos a discutir, ele me revelou coisas horríveis e isso me chateou muito.

Não creio que a vida do nosso bebê ficou em risco por culpa daquele marginal que ela chama de ex.

Uma sensação ruim cresce dentro de mim. Será que Suzana ainda nutri algum sentimento por aquele cara? Não, não é isso! Não pode ser isso…

— Já lhe dei um sermão, senhorita. Não deve passar por situações assim, pode afetar a criança, provocando até um aborto. — só em ouvir essa última palavra, sinto minha espinha gelar.

— Tomarei mais cuidado, doutor.

— É bom mesmo, sua pressão ficou alta demais! Foi questão de segundos para que não atingisse o seu filho. Recomendo que você fique longe de discussões, evite momentos que lhe tragam ansiedade e, por via das dúvidas, ter relações com seu parceiro. Evite a todo custo se emocionar ou proferir muita adrenalina e êxtase em seu organismo.

Seguro na mão de Suzana e sorrio. Ela me retribui e concorda com as recomendações do médico.

— No seu prontuário, consta a consulta com a ginecologista Mara, amanhã. Por favor, não deixe de comparecer.

— Ok, doutor. Muito obrigado! — apertamos a mão do médico e saímos abraçados da sala.

No caminho, Suzana ficou em silêncio, ela parecia triste. Outra vez o pensamento de que ela estava pensando no ex passou a me atormentar.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora