Capítulo 31

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Aquele quarto era doloroso pra mim. Me sentei na cama de Jungkook e observei o lugar inteiro, percebi que nada havia mudado. Havia uma camiseta dele encostada na cadeira da escrivaninha. Eu fui até ela é a peguei, aproximei do meu rosto como costumava fazer e o cheiro dele ainda estava lá.
Durante esses três anos eu nunca tinha sentido tanta a falta dele como eu estava sentido agora. Eu estava com medo, estava ansiosa e tudo que eu mais queria era tê-lo comigo.

Eu te odeio Jungkook! Eu nunca deveria ter confiado em você! Você jurou que estaria ao meu lado. Jurou que estaria lá quando eu acordasse. Porque você não fez o que prometeu?

As lágrimas caiam dos meus olhos molhando todo meu rosto, eu me sentia tão pequena. Como alguém que esteve comigo tão pouco tempo conseguiu me destruir tanto?

-Amar você foi o que mais me fez feliz..., mas também foi o que mais me destruiu.

Ao meu lado havia um pequeno livro de capa azul, eu já tinha o visto algumas vezes quando entrava lá para pegar as camisetas de Jungkook. Aquilo nunca havia chamado minha atenção até agora. Pela primeira vez eu o peguei, e assim que o fiz vi que um lápis caiu de dentro do mesmo. Eu o juntei e em seguida abri o mesmo.

Para minha surpresa haviam vários desenhos naquele livro. Não era um livro de história e sim para desenhos. Haviam artes de Sam, outras de Jeonsuk, algumas de flores, estrelas e arvores. Cada desenho cuidadosamente desenhado, com traços delicados e sombras bem feitas. Nunca soube que Jungkook sabia desenhar, ele nem mesmo havia me contado. Me surpreendi assim que vi que eu também estava desenhada ali. O desenho que ele fez de mim estava na última página. Era apenas meu rosto com alguns fios de cabelo caindo sobre minha testa. Ao lado estava escrito com a sua caligrafia.

Você foi a melhor coisa que eu nunca tive.

Aquelas haviam sido uma das poucas frases que ouvi de Jungkook na noite em que ele se foi. Aquilo me fez chorar ainda mais. As lagrimas caíram molhando o papel a minha frente. Era difícil segura-las, eu havia me forçado a reprimir por tantos anos que já estava prestes a explodir.

Naquela noite eu chorei muito e não sei ao certo quando foi que eu peguei no sono. Eu dormir um sono sem sonhos, ou eu só estava cansada demais pra lembrar dele. Das duas opções eu queria acreditar na primeira pois não gostava da ideia de ver o Jungkook em sonhos e não lembrar o resto dele.

...

Na manhã seguinte eu acordei e fui até o pátio respirar um pouco de ar fresco. Sentir o sol aquecer minha pele e ver se me emprestava um pouco de seu brilho e energia até tudo ficar melhor. Para a minha surpresa encontrei Manseok sentado nos degraus da escadaria que levava ao terraço da mansão.

-É estranho ver você acordado quando tem sol. -falei e ele sorriu ao me perceber chegar.

-Bom dia menina. -Ele disse me convidando a sentar a seu lado. -Ouvi você chorando ontem à noite.

-Me desculpe se eu te acordei. -respondi meio envergonhada.

-Está triste por acabar o seu noivado? -perguntou ele.

Eu o encarei confusa.

-Samuel te disse? -perguntei já sabendo a resposta.

-Você não se separou dele por causa do Jungkook, não é? - Manseok perguntou um pouco sério demais. -Ele não gostaria que você...

-O Jungkook não está aqui agora. -Respondi. -E não...Não foi por causa dele...O meu noivado já estava fadado a ter um fim no dia em que começou.

-Se sabia disso, então porque aceitou? -se perguntou.

-Eu não sei...Eu...só não queria decepcionar Daniel. -respondi.

-Você aceitou ficar com ele porque não queria decepcioná-lo? -insistiu.

-Eu aceitei ficar com ele pra tentar esquecer o Jungkook, pensei que em algum momento isso iria passar. -Respondi.

-Mas você não conseguiu esquecer, não é? - ele perguntou.

- Eu...até agora não entendo o porquê de eu ter ficado tão destruída...e dar explicações pros meus pais, ter que falar o motivo de eu ter sumido...-respondi. -Aquilo era muito frustrante...achei que a melhor coisa que eu deveria fazer era ir embora, conhecer novas pessoas e me permitir amar novamente.

Manseok me encarava com o rosto caridoso. Eu também conseguia ver que ele estava triste e cansado, afinal era do neto dele que estávamos falando. O homem não demonstrava muito, mas eu sabia que ele sentia tanto quando eu.

- Eu sabia que uma hora isso tudo passaria, e que não choraria mais ao lembrar dele. -disse sentindo mais lágrimas se formando. -E só eu sabia de fato o que se passava dentro de mim e o quão despedaçado estava meu coração...

-Todos nós temos dores que escondemos e não estamos prontos para dividir com o mundo. -Manseok disse acariciando a minha mão. -Eu sei que está triste agora, mas pense em como vai se sentir com o resultado disso tudo.

- Eu estou me forçando a não aumentar minhas expectativas. -respondi.

-Ninguém aqui está 100% confiante. Não sabemos se vai dar certo ou não. - Ele disse me encarando. -Mas quando você passou por aquela porta, eu achei que fosse trazer consigo aquela energia e coragem que costumava ter. Aquele furacão de sentimentos que fez o Jungkook se apaixonar, você me deu esperança assim que a vi.

-Não deve estar tão esperançoso depois de tudo que ouviu de mim. -Respondi.

-Na verdade... Eu estou sim. -Ele respondeu com um sorriso fraco. -Você não desistiu, só está cansada...pessoas cansadas podem continuar tentando e tentando até finalmente conseguirem o que querem. Está aqui e isso mostra que você está disposta a lutar por ele assim como todos nós.

Aquilo aqueceu meu coração. Me mostrou que era verdade. Eu não tinha desistido de nada depois que perdi Jungkook. Segui um dia de cada vez e era assim que eu viveria se não o tivesse de volta.

- Vou te contar um segredo...-Manseok disse levantando meu rosto para encarar ele. -O Jungkook estava tão destruído por dentro...Ele estava sempre pronto para morrer. Mas aí ele conheceu você... isso o fez querer continuar vivo e pela primeira vez em anos eu o vi temer a morte. Desde que ele te conheceu ele só queria uma coisa...mais tempo...mais tempo com você.

As palavras de Manseok foram como um tapa na minha cara. Nunca havia notado o quão destruída em estava. Foi nesse momento que eu comecei a sentir falta da pessoa que eu costumava ser.

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