Pov. Jungkook
O sol. Isso era uma das coisas na qual senti mais saudade, a sensação do calor em minha pele, aquecendo toda a extensão do meu corpo. Junto dele o aroma das flores, isso era algo que eu jamais havia notado até nunca mais poder senti-lo. o inferno era diferente do que pensei que seria. Nunca havia temido a morte, sempre estive disposto a morrer por algo que valesse a pena e de fato, minha morte foi significativa. Achei que quando ela chegasse apenas mergulharia de cabeça, aceitaria meu fim com dignidade. Mas não foi assim.
Desespero e incredulidade, angustia e frustração, tudo isso junto de muito medo. O medo que senti naquele momento não se compara com nenhum outro que senti a vida toda, aquele era um medo que me tornava inútil e incapaz de até mesmo me mover. O medo do desconhecido. Achei que morrer seria apenas apagar, que não haveria nada depois daquele ponto, mas havia. Havia dor, frio, angustia e mais medo.
Fui levado para aquela floresta na qual chamam de inferno, me vi perdido do início ao fim, sem saber por onde andar, como escapar e todo pensamento que eu conseguia ter era devastado por uma culpa e remorso enorme. Quando dormia meus sonhos eram invadidos por cenas abomináveis das pessoas que eu mais amava sendo feridas e eu não conseguia fazer nada. Alucinações e vultos também faziam parte do pacote. E a cada minuto eu desejava estar morto, mas como fazer isso se eu já estava. Não havia saída, não havia uma porta nem mesmo uma luz. Aquela era a linha de chegada pra mim e não haveria nada depois dela.
Estava sentado na escadaria do pátio da minha casa, encarando meus próprios pés, sentindo o sol aquecer minha pele longe de tudo aquilo. Apesar disso as lembranças ainda me perseguiam, isso me matava por dentro. A verdade é que eu sempre tive uma tendência a me auto sabotar e estava fazendo isso agora. No inicio eu não sabia, mas tive muito tempo pra pensar sobre muitas coisas. Elise foi uma delas. Samuel também. E principalmente, pensei em mim mesmo. Percebi que de fato passei muito tempo da minha vida pensando em como deveria morrer pelas coisas horríveis que fiz, ao invés de pensar no que poderia fazer enquanto estivesse vivo. Isso me corroía muito e tinha horas que ficava difícil respirar.
Em meio a desgraça e escuridão que me atormentavam, pensar em mim mesmo e nas pessoas que eu amava, me fazia passar o tempo. Haviam picos, em que eu estava sendo torturado por pensamento horripilantes que vinham em uma onda grandiosa de dor. Em outras horas, eu conseguia pensar sobre mim e em como poderia ter sido. Pensar nas pessoas que eu amava me fazia bem, me desfocava daquela onda de solidão.
Quando morri eu senti muito frio, pensava que era pelo fato de estar chovendo naquela noite, mas não. Sentia o frio do inferno. Na batalha, quando meus olhos estavam quase se fechando eu queria apenas uma coisa. Meu pai. Era do abraço dele que eu mais precisava naquele momento, queria sentir o calor dele em volta de mim e dizer a ele que era minha coisa favorita no mundo todo. Mas não consegui nem mesmo dar uma ultima olhada em seus olhos. Morri antes de conseguir me despedir e aquilo era outra coisa que me corroía dia após dia.
Meu avô disse uma vez que morrer não era algo a se temer, que deveríamos temer os vivos, pois eles sim tinham o poder de nos machucar. Acreditava que ele estivesse certo e de fato estava. Mas não completamente. Nenhum vivo poderia me torturar tanto quanto o inferno e eu torcia para que nenhum deles fosse parar lá. Quando ele chegou até mim, minutos antes de eu morrer, ele me disse que eu estaria bem. Que nunca se esqueceria de mim e que quando eu morresse uma parte dele morreria junto. Talvez eu nunca seja capaz de apagar a imagem dos olhos de meu avô em mim, vermelhos e cheios de lágrimas. Tão vulneráveis como nunca havia visto antes.
E então chegamos a Samuel, meu amigo mais fiel. Pensava nele constantemente e no quanto ele se atormentava por minha causa. Deveria ter acertado as contas com ele muito antes e por causa disso havíamos perdido muito tempo. Foi pra ele que fiz meu último desejo, pedi algo que eu não fui capaz de fazer e confiava só nele para isso.
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Ainda Com Você
Teen FictionTudo que ela tinha era uma vida normal e uma bolsa da Gucci que havia parcelado em 39x sem juros, ate que dois homens misteriosos a levam para um lugar desconhecido. Na mesma noite ela é "salva" por um rapaz charmoso que jura protege-la por uma pe...