Capítulo 1 - Primeira Vista

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          Capítulo 1

Seis meses antes

      -Está tudo bem contigo? Tens a certeza?

      -Sim mãe, tenho a certeza absoluta! Não te preocupes! Agora tenho de ir, estou a trabalhar, ligo-te mais tarde está bem?

      -Sim, beijinhos. Se precisares de alguma coisa liga. Gosto muito de ti!

      -Está bem, beijinhos. Também gosto muito de ti. – Aquelas palavras tinham sempre um sabor agridoce quando ditas ao telefone. As chamadas com a minha família eram, sem dúvida nenhuma, as mais dolorosas. Falar com qualquer uma das pessoas que tinha feito parte do meu dia-a-dia toda a minha vida, estava a tornar-se cada vez mais complicado, porque as saudades só aumentavam e aqueles poucos minutos em que falávamos, não eram o suficiente para as fazer diminuir!

      Toda a minha família estava do outro lado do mundo e eu aqui sozinha enquanto tentava segurar as lágrimas. "Não chores, não chores, não chores!", era o que eu repetia constantemente na minha cabeça enquanto ouvia as suas vozes do outro lado da linha. Conseguia sempre aguentar até a chamada terminar, mas depois era outra conversa.

      Assim que desliguei a chamada, saí do estúdio o mais depressa que consegui. Procurei um sítio escondido, onde não houvesse a correria normal de pessoas no seu horário de trabalho e sentei-me no chão, sozinha novamente. Só naquele momento é que me permiti chorar à vontade.

      As lágrimas escorriam pela minha cara, mas eu não produzia um único som. Por vezes achava que um dia as lágrimas iriam esgotar-se, mas não, estavam sempre lá. A saudade era a pior parte. Para realizar o meu sonho tive de sair da minha casa, do meu país, até do continente onde morava, afastei-me da minha família e dos meus amigos. Por vezes ainda me questionava se essa teria sido a minha decisão mais acertada, mas sabia que não havia outra forma para eu conquistar tudo aquilo que sempre tinha desejado, aquilo porque tinha lutado desde que me conhecia como gente. Era isso, os meus sonhos eram demasiado grandes para o meu país e ninguém lamentava isso mais do que eu.

      O que nos levava ao momento atual, onde uma mulher independente de vinte e três anos se encontrava sentada no chão, com os joelhos dobrados e a cabeça entre os mesmos a chorar como uma criança a quem tiraram um doce. À medida que as lágrimas escorriam pela minha face sentia uma leveza a apoderar-se de mim, mas eu sabia que era sol de pouca dura, dentro de poucos minutos, quando saísse daquela bolha onde me encontrava todas as preocupações iriam estar de volta e a única coisa que ficaria era o sentimento de impotência por não conseguir mudar nada.

      Senti-o do meu lado muito antes de o ver, não tive coragem de levantar a cabeça em nenhum momento, nunca gostei de chorar, muito menos quando existiam outras pessoas presentes. As lágrimas que escorriam pela minha face eram apenas uma prova da minha fraqueza e da fragilidade que me consumiam cada vez mais, e que eu queria desesperadamente esconder, não só do mundo, mas também de mim própria. "Quem não vê é como quem não sente!", sempre ouvi dizer, e eu tentava ao máximo acreditar nisso mesmo.

      Ele continuou sentado do meu lado sem dizer uma única palavra, sem nem sequer olhar diretamente na minha direção, como se ignorasse a minha presença mesmo do seu lado direito. De alguma forma, por mais estranho que pudesse ser, aquilo tinha-me trazido alguma paz, não senti o costumeiro mal-estar, por chorar em frente a outra pessoa, pelo contrário, pela primeira vez em muito tempo sentia-me bem, sentia-me menos sozinha e talvez estivesse mesmo, eu só ainda não sabia disso. Não fazia sentido, mas de alguma forma não estava minimamente preocupada.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora