O silêncio perdurou durante alguns minutos, eles olhavam um para o outro como se o mundo tivesse parado à sua volta. O ambiente estava calmo e sereno, Chloe continuava a chorar, mas sorria ao mesmo tempo, enquanto Henry já tinha deixado as suas lágrimas secar. Olhavam nos olhos um do outro e eu tinha a certeza que partilhavam, através daquele contacto visual, diversas histórias, que eu queria ouvir também. Histórias que eu tinha a certeza, que eram felizes. Era um momento íntimo entre mãe e filho. Eu sabia que deveria estar a sentir-me a invadir o espaço pessoal de ambos, que devia sentir que estava a mais, mas não conseguia forçar-me a senti-lo. Na verdade, a única coisa que me passava pela cabeça era o quão sortuda eu era por estar a vivenciar na mesma sala um amor tão intenso como aquele. Se em algum momento eu tive dúvidas que aquela noite ia ser um sucesso, ali, eu estava completamente certa do final daquele encontro.
-Meu filho! Que saudades de te ouvir tocar assim! Há quanto tempo não tocavas piano? -A mãe dele foi a primeira a quebrar o silêncio e o que disse não esclareceu em nada as minhas dúvidas. Continuavam a faltar diversas peças de um puzzle que eu nem sabia que estava a construir, mas que agora eu necessitava de acabar.
-Há mais de oito anos. -Como assim há mais de oito anos? Isso era quase o tempo todo de carreira que ele tinha. Por que razão teria ele privado o mundo de um espetáculo tão maravilhoso como aquele durante tanto tempo? Necessitava que alguém me desse algumas respostas rapidamente. Ia dar voz a estas minhas dúvidas, quando a sua mãe me dirigiu as primeiras palavras da noite.
-Minha querida, como é que convenceu este meu filho teimoso a voltar a tocar? Eu já tinha tentado tantas vezes e nunca fui capaz. -Ela deu voz às minhas próprias dúvidas e eu não sabia ao certo o que lhe responder. Por que razão teria ele cedido a mim e não à sua mãe constituía também um mistério para mim, e ele era o único que poderia dar resposta àquelas dúvidas.
-Não sei bem, na verdade. Eu não sabia que ele tinha parado de tocar, só queria ouvi-lo, por isso pedi e ele aceitou. -Sabia que aquela não era de todo a resposta de que ela estava à espera e sentia-me completamente envergonhada por não conseguir fazer melhor.
-Ele não lhe contou a história?
-Não, não contou.
-Então já temos tema para o jantar, eu vou contar-lhe. Não cheguei a apresentar-me! Que parvoíce a minha. O meu nome é Chloe, sou a mãe deste músico maravilhoso!
-Mãe, pare com isso! -O Henry estava a corar e foi necessária estrema força de vontade para afastar o meu olhar daquela nova descoberta. Ele ficava ainda mais bonito corado. O vermelho combinava com a cor dos seus olhos.
-O meu nome é Catarina. É um prazer conhecê-la. Muitos parabéns, espero que esteja a ter um dia maravilhoso!
-Muito obrigada! Até agora está a ser incrível, mas algo me diz que ainda vai melhorar bastante. Eu já ouvi falar imensas coisas maravilhosas sobre si. – Enquanto a mãe falava, a cor nas bochechas dele intensificou-se e ele evitou olhar-me diretamente nos olhos. Correndo o risco de ser repetitiva, ele ficava realmente lindo envergonhado.
-Fico feliz em ouvir isso.
-Então onde é que eu ia? Ahh, pois, a razão que o fez deixar de tocar.
-Mãe, talvez fosse melhor termos esta conversa sentados à mesa, pode ser? Já estou a ficar com fome, e o jantar tinha um aspeto maravilhoso.
-Sim, claro! Guia o caminho. -Mais uma vez naquela noite, segui-o pelos corredores da casa, e novamente senti-me perdida na sua imensidão. A sua mãe andava mesmo atrás de nós os dois, e a única vez em que decidi olhar para trás, para verificar se ela ainda nos seguia, arrependi-me. Parecia que o seu olhar nos estudava e que tentava ver-nos a alma. Como se estivesse a tentar entender algo em nós, que nós próprios ainda não tínhamos percebido. O seu olhar perscrutava o meu de tal forma, que pela primeira vez na sua presença senti-me desconfortável. Desviei o olhar e evitei o seu até que estivéssemos as duas sentadas à mesa, frente a frente, e tal não fosse mais possível. Tinha medo daquilo que ia encontrar quando a olhasse nos olhos, mas isso era completamente desnecessário. Ela sorria-me com carinho, como se eu fosse uma amiga de longa data, ou talvez uma filha que ela nunca tinha tido. Novamente, foi ela que decidiu falar primeiro, o que eu agradecia, porque estava realmente curiosa, mas não queria forçá-la a falar.
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Henry White (Português)
RomanceEla é uma mulher decidida, de 23 anos, que largou o seu país por um sonho. Ele, com 25 anos, é incompreendido pela maioria. Ela continua a lutar todos os dias para conquistar o que tanto deseja. Ele desde da adolescência que já tem tudo o que sonho...