Capítulo 21 - Acordo

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         Estávamos no dia 14 de Dezembro, faltam exatamente sete dias para eu ir para Portugal e eu mal podia esperar o dia em que iria embarcar no avião. Estava a contar os minutos para poder ver a minha família. O último mês tinha passado a correr. Eu e o Henry estávamos cada vez mais próximos. Estávamos juntos praticamente todos os dias, agora eu já me conseguia orientar na sua casa, ao ponto de não precisar da sua ajuda não me perdendo lá dentro.

      Eu já não ficava surpreendida, quando sem aviso prévio, ele agarrava a minha mão e não a largava nos minutos seguintes, nem ficava tão constrangida de cada vez que ele fixava o seu olhar no meu. A sua mãe era agora quase uma amiga para mim, e eu sabia que ela já me considerava uma filha. Eu estava cada vez mais convencida de que a nossa amizade nunca seria mais do que isso mesmo, mas não conseguia, de maneira nenhuma, matar a esperança que me consumia por dentro. Eu tinha tentado, em diversas ocasiões que ele me apresentasse aos seus amigos, que me deixasse estar presente num concerto ou num ensaio, mas a resposta era sempre negativa. Nunca me dava uma explicação, na qual eu acreditasse realmente e isso estava a deixar-me maluca. Neste momento estava a tentar não me preocupar com o assunto e dar-lhe algum espaço. Esperava que quando ele estivesse pronto me explicasse a razão por trás do seu comportamento.

      Eu estava no meu quarto a trocar de roupa, depois de me ter sujado enquanto almoçávamos os dois em minha casa. Também as minhas constantes trapalhadas deixaram de me incomodar, agora que estava confiante de que ele não se riria de mim.

      Desci as escadas já com uma roupa apresentável e não o encontrei. Tentava perceber onde ele poderia ter ido quando o ouvi a falar na cozinha. Que estranho, estaria mais alguém em casa? Eu ia jurar estávamos sozinhos. Escutei com atenção e percebi que não havia resposta, o que só poderia querer dizer que estava a falar ao telemóvel. A conversa não parecia estar a correr como ele queria, os seus gritos ouviam-se no outro lado da casa.

      -Eu já te disse que não dá. Não vou, esquece. (...) Deixa-a fora disto, ela não tem nada a ver com isto. (...) Sim, estou com ela, mas... (...) Tu sabes que isso não é verdade, estou bem melhor agora. Eu não vou perder isto. (...) Eu sei que foram vocês que me ajudaram quando precisei, mas... (...) Esquece tu não entendes. Falamos depois. Adeus. – Ele estava a falar de mim, certo? Eu só não sabia ao certo quem estava do outro lado da linha. Obviamente quem quer que fosse não estava nada contente por ele estar comigo e, pela cara que o Henry estava a fazer, era de certeza alguém importante. De qualquer forma não ia ser eu a pressioná-lo para me dizer o que se passava, tinha que ser uma decisão que partisse dele.

      -Queres falar sobre isso?

      -Estavas aí?

      -Eu não fiz de propósito, mas estavas a falar muito alto e a curiosidade venceu. Se não quiseres falar sobre isso não temos de falar, mas eu tenho quase a certeza de que essa conversa era sobre mim, e eu gostava que me contasses. Não vou ficar chateada se não o fizeres, mas gostava que confiasses em mim.

      -Eu confio, mas tenho a certeza, que vais ficar chateada.

      -Porque que é que achas isso?

      -O que é que me acontecia se eu te dissesse que não é a primeira vez que esta conversa acontece e que, inevitavelmente, acaba comigo a desligar a chamada sem deixar que acabem de falar?

      -Estavas a falar com quem?

      -O Dylan.

      -Dylan? O guitarrista da tua banda? O teu melhor amigo?

      -Sim, esse mesmo!

      -É por isso que nunca quiseste que eu conhecesse a tua banda? Porque eles não gostam de mim?

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora