Capítulo 6 - Primeiro Encontro

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              O dia passou lentamente, mas eu também sabia que isso só acontecia porque eu não conseguia parar de olhar o relógio de cinco em cinco minutos, o que tornava cada minuto angustiantemente lento. Estava muito ansiosa e não havia forma de negar isso.

      A última cena que gravei no dia exigia uma concentração muito grande e, naquele momento não estava a conseguir manter-me focada. Demorei mais tempo do que o normal para a conseguir gravar, isso fez-me pensar até que ponto isto seria correto se me trazia dificuldades para fazer o meu trabalho. Tentei não me concentrar nesse ponto durante muito tempo.

      Quando cheguei a casa já eram oito horas e eu ainda tinha de tomar banho e arranjar-me. Eu sabia o que isso significava, eu ia atrasar-me. Este dia estava definitivamente a correr mal, e se isso fosse algum indicativo de como o jantar ia correr então os meus nervos tinham razões para estar à flor da pele.

      Ouvi a campainha tocar. Olhei para o relógio. Oito e meia. Normalmente não gostava de atrasos, mas hoje era eu quem estava atrasada e estava, secretamente, a desejar que também ele se atrasasse alguns minutos. Não tive essa sorte. Corri para a porta e, depois de verificar que era ele do outro lado, abri.

      -Boa noite, Henry! Desculpa, estou atrasada. Cheguei a casa à meia hora, as gravações acabaram mais tarde do que eu estava à espera. Só preciso de mais dez minutos e estou pronta.

      -Calma, não te preocupes. Eu posso esperar, temos tempo. Eu espero aqui.

      -Não vais ficar aqui de pé. Vem comigo, eu levo-te à sala e podes esperar lá. – Ele seguiu-me pela casa até estarmos na sala, onde o seu olhar instantaneamente ficou vidrado nas fotografias que estavam penduradas nas diversas paredes. Estas figuravam momentos felizes, que agora me pareciam uma vida diferente. -Fica à vontade, como se estivesses em casa. Queres comer ou beber alguma coisa?

      -Não te preocupes, estou bem. Eu espero aqui. Podes ir à vontade.

      -Volto depressa. – Tentei despachar-me rápido e consegui fazê-lo em tempo recorde. Tinham passado pouco mais de dez minutos como lhe tinha dito, o que era pouco tendo em conta tudo o que tinha feito. Vesti-me, calcei-me e fiz uma maquilhagem simples e rápida.

      Quando voltei a entrar na sala ele estava de frente para uma foto de família. Aquela foto tinha sido tirada pouco antes da morte do meu pai, mas era uma memória muito feliz. Era uma das últimas fotografias que tínhamos tirado os cinco, juntos a comer, a conversar e a rir muito. Na fotografia, estávamos todos sentados no sofá da sala, na casa dos meus pais e, quando eu fechava os olhos conseguia lembrar-me exatamente do que tinha sentido naquele dia e que já não sabia se algum dia sentiria outra vez. Tinha sentido-me completa. - Demorei muito?

      -Não te ouvi descer. Foste muito rápida até, não estava à tua espera tão depressa. Estás linda. – Conseguia perceber-se no seu tom de voz que o tinha assustado, parecia envergonhado, como se o tivesse apanhado a bisbilhotar. Também as minhas bochechas estavam a ganhar um tom avermelhado, mas devido ao seu elogio inesperado.

      -Obrigada. – Foi a única coisa que consegui dizer enquanto desviava o meu olhar do seu.

      -Um dia destes tens de me contar a história por trás desta fotografia. Está incrível.

      -Talvez um dia, mas não hoje. Pode ser? -Não queria começar esta amizade com histórias tão tristes.

      -Sim claro. De qualquer forma está na hora de irmos andando.

      -Posso perguntar onde vamos? Eu só queria ter a certeza de que evitamos os paparazzi. Não é que não queira ser vista contigo, não é nada disso. – Apressei-me a explicar o que queria dizer, porque podia ver no olhar dele que estava a perceber tudo ao contrário e não queria ficasse com uma ideia errada sobre mim. – Eu só não gosto de toda a atenção, não gosto que suponham coisas sobre a minha vida. Prefiro ser eu a decidir o que quero que saibam e como é que sabem, se não te importares. Ainda por cima os paparazzi parecem ter um dom para escolher as minhas piores fotografias para publicar. – Tentei aliviar o ambiente e pareceu que tinha resultado porque ele sorriu enquanto respondia.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora