Capítulo 29 - A despedida

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      Eu tinha realmente de deixar de subestimar o tempo. Claro que na minha vida, apenas um dia sem estar em contato com o resto do mundo era demasiado. Num espaço de duas semanas o meu nome já tinha surgido mais vezes na imprensa do que no último ano completo. Isto estava realmente a incomodar-me e desta vez não estava apenas magoada, mas também completamente furiosa. A mentira contada envolvia pessoas que nada tinham a ver com este meio e eu estava decidida a fazer os culpados pagarem, por terem inventado tal atrocidade.

      Espreitei mais uma vez as primeiras palavras escritas acerca do assunto. As fotos que figuravam a página eram do último dia do ano, do momento em que o Miguel me tinha contado o pedido que iria acontecer nessa noite. Quem olhava aquelas fotos, sem saber o que tinha acontecido no final do dia, ou sem ter ouvido a nossa conversa teria uma ideia completamente distorcida do que se estava a passar. Analisando as imagens do ponto de vista do resto do mundo todas as mentiras escritas a pareciam legitimas.

      "Catarina Gonçalves está noiva!" era o título da página, e logo a seguir podia ler-se toda uma conjetura de um pedido que nunca tinha acontecido. Relatavam tudo o que sabiam sobre o Miguel e diziam que eu tinha aceite e que de tão feliz que ficara o tinha abraçado logo de seguida. A notícia terminava com um conjunto de teorias sobre eu voltar para Portugal ou então o Miguel mudar de país comigo. Eu não queria ler mais aquilo e fechei a página o mais rápido que podia.

      Eu tinha que tentar ser racional. Aquela notícia tinha surgido numa revista portuguesa, mas não demoraria muito para que estivesse espalhado por todo o mundo. O mais correto era avisar a Anna sobre o que estava a acontecer, e foi o que fiz. Escrevi uma mensagem onde lhe explicava o que tinha acontecido e o que estava a ser dito. Pedi-lhe desculpas mais uma vez, porque sabia que isto apenas lhe traria mais trabalho do que ela já tinha e disse-lhe que iria apanhar o avião nesse dia mesmo e que chegaria na madrugada do dia seguinte. Não tive de esperar muito pela resposta.

      2/01/2020

      De: Anna

      "Já te disse mais do que uma vez que não tens de pedir desculpa quando acontecem coisas destas. Desta vez então, não tens culpa nenhuma. Estes abutres é que não deviam invadir a tua privacidade assim. Não vai ser possível esconder isto, provavelmente quando chegares já todo o mundo deve saber, mas não te preocupes. Vai ser fácil mostrar que é tudo mentira. Vou tratar de tudo. Fala com os teus amigos, não deve estar a ser fácil. Vou tratar de arranjar segurança para eles.

      Beijinhos"

      Eu já devia estar à espera desta mensagem dela, mas quando a li por inteiro soltei a respiração que eu ainda não tinha percebido que prendia. Ela estava a ser mais pragmática que eu, e tinha toda a razão quando dizia que devia falar com o Miguel e a Margarida. Eles tinham de ser a minha prioridade no momento, tinham sido arrastados para um problema que não era deles e eu tinha de resolver o assunto.

      Marquei o número do meu melhor amigo, o mais rápido que consegui e esperei, pelo que pareceu uma eternidade, para que me atendesse a chamada.

      -Não precisas de pedir desculpas, não tens culpa nenhuma. – Estas foram as primeiras palavras que ele me dirigiu e eu já devia estar à espera de uma resposta assim vinda dele. De qualquer forma, estava mais preocupada com a reação da Margarida.

      -Como é que sabias que era isso que ia dizer?

      -Eu conheço-te, melhor do que a maioria das pessoas. Culpas-te por coisas que não consegues controlar.

      -Eu não controlo, se não fossem meus amigos nada disto tinha acontecido.

      -E achas que não conseguimos lidar com isto?

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora