Henry White (Português)

Capítulo 8 - Um filme e Pipocas

*Diálogo escrito em itálico é sinal de que foi falado numa língua diferente.

         As gravações prolongaram-se até tarde na maioria dos dias assim como eu tinha previsto inicialmente. Pelo que no final da semana sentia que um camião me tinha passado por cima, como se não dormisse uma noite seguida à mais de um mês. Quando acabei as gravações no último dia de trabalho da semana, a única coisa que queria era ir para casa, vestir o pijama e deitar-me na cama a descansar. Por outro lado, a ideia de chegar e ter alguém à minha espera em casa, seduzia-me.

      Como prometido vesti a roupa mais confortável que havia dentro do armário, assim que entrei em casa. Era um alívio poder ficar livre de todos os artifícios que tinha de usar no meu dia a dia de trabalho. Faltavam menos de quinze minutos para a hora que tínhamos combinado quando acabei de fazer a minha receita secreta de pipocas, que eu não revelava a ninguém. Era uma receita de família que eu guardava com muito carinho. Tinha um ingrediente diferente que as tornava deliciosas.

      Estava sentada no sofá quando a campainha tocou, e eu sabia quem era. Não o deixei esperar muito e abri a porta o mais rápido que consegui. Ele estava exatamente como disse que estaria, calças da adidas e ténis e eu achava que nunca o tinha visto tão bonito. Estava completamente relaxado, como se nenhum problema do mundo lhe pudesse tocar e era fácil envolver-me nesse ambiente. Os seus olhos verdes estavam fixos nos meus e parecia que me conseguiam ler os pensamentos mais secretos. Senti-me corar e desviei o olhar.

      -Entra, estás à vontade.

      -Obrigado. Essa roupa fica-te muito bem.

      -Sim! Esta camisola que é dois números acima do meu, favorece-me imenso. – Estava a ser irónica e ele percebia isso. Deixou-se sorrir e, mais uma vez, achei que nunca o tinha visto tão bonito. Este estava quase a tornar-se um pensamento repetitivo.

      -Estou a falar a sério. A forma como não te esforçaste torna tudo mais interessante. Ainda por cima, eu desconfio que ficavas bonita com qualquer coisa vestida.

      -Eu vou tentar acreditar naquilo que dizes. Já pensaste em algum filme para vermos?

      -Eu pensava que essa era a tua especialidade.

      -Eu faço parte dos filmes, não sou especialista neles. Aliás, acho que ainda há demasiados filmes que não vi. Eu deixo-te escolher, desde que não seja de terror eu vejo qualquer coisa.

      -Muito bem, nada de filmes de terror, por hoje. E se formos ver as opções e depois decidirmos?

      -Vamos lá então. Eu mostro-te o caminho. -Levei-o até aquela que eu considerava a melhor parte da minha casa e que tinha sido a minha única exigência quando tinha começado a ver casas para comprar. Cinema era a minha grande paixão e o meu maior sonho, aquela sala fazia mais sentido para mim do que um closet, uma piscina ou qualquer outra excentricidade que já tinha visto noutras mansões. Aquele era o meu refúgio em todas as situações e eu não podia sentir-me melhor em qualquer outro sitio.

      -Uau, estavas mesma a falar a sério quando disseste que tinhas uma sala de cinema em casa. Parece que entrei realmente numa. Gosto muito.

      -Obrigada. Sente-te à vontade, como se estivesses na tua própria casa. -Eu fazia questão de que ele se sentisse confortável, queria realmente que ele gostasse de ali estar. Queria alguém que partilhasse comigo a paixão por aquele espaço, talvez pudesse ser ele.

      Sentámo-nos lado a lado e deixei que ele visse a seleção de filmes interminável que existia e que escolhesse aquele que lhe parecia mais interessante. Durante todo o processo senti os meus olhos cada vez mais pesados, mas tentei com todas as minhas forças mantê-los abertos. Sabia que era uma luta perdida. Estava demasiado cansada para aguentar as duas horas de duração do filme. Ainda consegui ver o início, e perceber que se tratava de um filme de ação, mas na verdade não tinha nem captado o nome da personagem principal.