A semana seguinte passou a correr, entre gravações, entrevista de promoção do mais recente filme que estreara nos cinemas e, mais vezes do que eu gostaria de admitir, o meu pensamento a fugir para ele. Parecia que a imagem estava tatuada na minha mente e, por mais que tentasse fugir, acabava sempre por pensar no que tinha lido sobre ele e uma parte de mim continuava a perguntar-se quanto daquilo seria verdade. Tentei criar uma desculpa razoável para lhe ligar, mas acabava por dispensar cada uma delas, por ser mais ridícula que a anterior.
-Pronto, já chega. Andaste a semana toda distraída e tive de te chamar diversas vezes à terra. Queres explicar-me onde tem estado a tua atenção, ou talvez em quem? – A Anna conhecia-me realmente bem, mas às vezes continuava a assustar-me o quanto ela conseguia ler na minha expressão, sem ser preciso eu dizer uma única palavra.
-Tens razão. Desculpa, há, sem dúvida alguma, alguém na minha cabeça, mas é tão estupido que eu nem quero falar sobre isso. Acreditas em mim, se dizer que me vou concentrar e focar no meu trabalho? – Por momentos pensei que seria mais fácil mentir, mas descartei logo essa opção, ela iria perceber e eu não queria que ficasse com a impressão que tinha começado a mentir-lhe sem razões para isso. De qualquer forma, esta obsessão tinha de parar e nem valia a pena que ela se preocupasse com isto.
-Acredito que vais tentar, mas conhecendo-te como te conheço, não sei se vais ser capaz. Quando a tua cabeça se foca em alguém é muito difícil esqueceres. Sabes que se quiseres falar comigo eu estou aqui, não é?
-Sim, eu sei. Obrigada. – E a verdade é que sabia, mas neste momento só conseguia pensar que precisava de uma opinião de alguém que fosse externa a todo este meio, mas que ao mesmo tempo, me conhecesse e conseguisse dar-me uma opinião sincera sem medo das consequências. Eu sabia perfeitamente a quem ligar.
Digitei o número e esperei ansiosa que ela me atendesse. Quando o fez, deixei escapar um suspiro que eu não sabia que estava a guardar, e deixei que as saudades me inundassem como sempre acontecia quando ouvia a voz da minha irmã, ou de qualquer pessoa da minha família.
-Oi pequenina. Como estás? – Sempre que falávamos ela nunca me tratava pelo meu próprio nome, arranjava sempre uma alcunha. Apesar de a maior parte deles eu detestar, esta até era uma que eu não me importava de ouvir. Fazia-me lembrar o meu pai, ele dizia que eu seria sempre a sua pequenina, porque era a mais nova da casa, seria eternamente a sua menina.
-Eu estou bem e vocês como estão? A mãe e o mano? E tu? Tens comido bem?
-Calma, tanta pergunta, parece que não falamos há dois anos. Está tudo bem connosco, tu é que não pareces muito bem. Queres falar sobre alguma coisa, certo?
-Tu sabes sempre, não é? Como é que me conheces tão bem?
-É o meu trabalho como irmã mais velha. Conheço-te desde que nasceste, às vezes parece que te conheço melhor a ti que a mim própria. O que se passa? Estás bem?
-Estou bem sim, é só que eu conheci uma pessoa...
-Isso é ótimos, como é que se chama?
-Henry White...
-Estamos a falar do Henry White? O deus grego com uma voz de sonho?
-Que exagero. Não é preciso tanto.
-Então é mesmo ele?
-Sim é, mas calma.
-Ok, vou controlar-me. O que tem? Não foi simpático?
-Na verdade foi sim, eu estava a chorar e ele ficou comigo até que eu me acalmasse e ainda me fez prometer que lhe ligava quando voltasse a chorar. Deu-me o número dele.
-Estavas a chorar? Porquê? O que se passou?
-Nada. As saudades e isso, às vezes não é fácil. Foi um momento de fraqueza, mas passou rápido, eu não estava à espera que ele aparecesse.
-Chorar não é uma fraqueza, nós já tivemos esta conversa. Chorar faz bem à alma e às vezes é mesmo necessário, mas espera.... Estás a dizer que choraste em frente a uma pessoa que nem conhecias e que ainda por cima lhe fizeste uma promessa?
-Bem, sim...
-Uau, não estava à espera desta. Quebras-te as tua regras de convivência logo no primeiro momento? Não me interpretes mal, eu adorei a ideia, só não estava à espera. Como foi?
-Surpreendentemente, fácil. Ele não me julgou como eu pensei que faria e quando me deu o seu número parecia realmente interessado em lhe ligasse. Estranho, eu sei.
-Não acho nada estranho. Tu és uma rapariga muito interessante, simpática e obviamente bonita, não me espanta que ele te queira conhecer. O que nos leva à pergunta seguinte. Já lhe ligaste?
-Não, claro que não. Ele só estava a ser simpático, provavelmente assustei-o para a vida.
-Ele não te iria dar o seu número só por simpatia, deixa de ser teimosa e liga-lhe.
-E digo o que?
-Sei lá, convida-o para beber um café, por exemplo.
-Eu não bebo café.
-Tu não bebes, mas não sabes se ele bebe. De qualquer forma estás a levar isso demasiado à letra, podem ir só lanchar, passear, ver um filme, há tanta coisa para fazer, escolhe uma.
-E os paparazzi?
-Tens razão, esqueci-me desse problema. Então escolhe um sítio mais privado se não quiseres que vos vejam.
-Tu viste o que tem saído nas notícias sobre ele?
-Eu vi e acho que o mundo todo viu.
-Eu não tinha visto. Só soube depois de o conhecer e sinto-me realmente desiludida comigo própria com a quantidade de tempo que estive em frente ao computador a ler fofocas sobre ele, que muito provavelmente são mentira.
-Claro, deves ser a única pessoa no planeta que não sabia. Tu melhor que ninguém sabes que muitas das coisas que se escrevem são mentira. O que leste incomodou-te?
-Não exatamente, na verdade deixou-me muito curiosa para saber se há alguma verdade naquilo tudo, e se sim o que provocou aquilo.
-Tens medo do que possam dizer se fores vista com ele?
-Isso passou-me pela cabeça sim, mas eu também não estou à procura de um namorado, eu só quero conhecer alguém, arranjar um amigo aqui. Não estar tão sozinha, percebes? Por tanto, acho que a resposta à tua pergunta é: não, não me importo.
-Pronto, então está decidido. Liga-lhe ainda hoje, não penses muito nisso. Marca o número e liga, esquece o resto. Vai correr bem. Confia em mim.
-Eu confio, vou ligar. Obrigada.
-Sempre que precisares, tu sabes que estou aqui. Agora vou andando. Aí pode ser hora de almoçar, mas aqui já são horas de jantar. Eles estão a mandar beijos.
-Manda também para eles. Diz que os amo e que tenho saudades. Beijos. Falamos amanhã.
-Até amanhã. Faz o que falámos. Quero ouvir tudo na próxima chamada.
-Combinado. – Desliguei decidida a fazer aquilo. Também só ia ligar, não era nada de especial, certo? Qual era a pior coisa que podia acontecer?
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Henry White (Português)
RomansaEla é uma mulher decidida, de 23 anos, que largou o seu país por um sonho. Ele, com 25 anos, é incompreendido pela maioria. Ela continua a lutar todos os dias para conquistar o que tanto deseja. Ele desde da adolescência que já tem tudo o que sonho...