Toquei à campainha assim que parei em frente à porta de sua casa. Estava cuidadosamente arranjada, a roupa escolhida a pensar na ocasião e sentia-me bonita, o que me fazia sentir calma. Ele abriu a porta nem um minuto depois de ter tocado, quase como se estivesse pronto para a abrir ainda antes de eu me ter aproximado. Abraçou-me apertado enquanto me puxava para dentro de casa e fechava a porta atrás de nós. Parecia que necessitava daquele contacto quase tanto como eu e nesse momento o meu coração inchou de felicidade.
-Isso são tudo saudades?
-Não sejas convencida.
-Não estou a ser, estou apenas a constatar um facto. -Disse aquilo com tom de brincadeira, mas só eu sabia o quão verdade queria que aquelas palavras fossem. Eu não queria estar dependente dele, mas se o sentimento fosse mútuo, eu conseguiria viver melhor com isso. Ele afastou-se apenas o necessário para que estivesse a olhar diretamente nos meus olhos.
-Pensei mesmo que já não vinhas.
-Eu disse que vinha.
-Eu sei, mas não serias a primeira pessoa a dizer uma coisa e fazer outra.
-Tu sabes que não sou assim, não sabes? Acho que já tiveste tempo suficiente para me conhecer melhor.
-Então vais cumprir o que me disseste no outro dia? Tocas para mim?
-Estava mesmo com esperanças, que te fosses esquecer.
-Porque é que tens tanto receio?
-Não é receio, tenho vergonha.
-De toda a gente ou só de mim?
-Eu não toco em frente às outras pessoas, é algo que faço só para mim. Gosto de me perder na música, mas isso não implica que seja boa a fazê-lo.
-Não tens de ser perfeita em tudo o que fazes. Sabes isso, não é? Às vezes fazemos as coisas só porque gostamos, não interessa se o resto do mundo gosta.
-Acho que ainda estou a aprender isso. Vivi a vida toda à espera de validação dos outros. Ainda não sei muito bem como fugir a isso.
-Não precisas de validação de ninguém, muito menos de mim. Quando estamos juntos, sinto que posso ser eu mesmo e que não tenho de esconder nenhuma parte de mim. Gostava que te sentisses da mesma forma. – Não sei se era essa a sua intenção, mas aquelas últimas palavras voaram diretamente para o meu coração e eu senti, pela primeira vez em muito tempo, que era aceite como era realmente. Desde que o tinha conhecido que estavam a existir muitas primeiras vezes na minha vida e eu sabia que queria que ele fosse o protagonista de muitas mais.
-Tens razão. Leva-me lá então até a essa sala de música. Estou mesmo com vontade de tocar.
-Já lá foste uma vez, estás em casa. Não precisas de mim para ir a qualquer lado. Estás à vontade.
-Eu sinto-me à vontade, a sério que sim, mas nunca me aventuraria na tua casa sozinha.
-Por que não?
-Acho que me ia perder no primeiro minuto. Parece um labirinto. Não saberia ir daqui até àquele piano maravilhoso nem que a minha vida dependesse disso. Vais mesmo ter de ser o meu guia. -Ele ria-se às gargalhadas e aquele já se tinha tornado no meu som preferido no mundo inteiro.
-És engraçada. Não queremos que te percas então! Segue-me. – Desta vez tentei realmente decorar o caminho, mas perdi-me na terceira vez em que virámos à esquerda. Aquela casa precisava urgentemente de objetos que tornassem os seus cantos distintos. Não tinha nem ideia se a saída ficava para a esquerda ou para a direita, mas também não estava preocupada, enquanto ele estivesse comigo estaria bem.
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Henry White (Português)
RomanceEla é uma mulher decidida, de 23 anos, que largou o seu país por um sonho. Ele, com 25 anos, é incompreendido pela maioria. Ela continua a lutar todos os dias para conquistar o que tanto deseja. Ele desde da adolescência que já tem tudo o que sonho...