Capítulo 26 - Justificações

31 18 48
                                    


      Faltavam pouco mais de vinte e quatro horas para a noite de Natal e eu estava realmente impressionada com a forma como a minha família estava a lidar com o mais recente escândalo, que ainda estava exposto na capa das principais revistas de fofocas em todo o mundo. Apesar de toda a gente parecer estar a falar no mesmo, eles tinham aguentado um total de três dias sem tocar uma única vez no assunto, como se nunca tivesse acontecido. Eu sabia que me estavam a dar espaço para que fosse eu a iniciar o assunto, deixando-me à vontade para relaxar antes de entrar nesse tópico, mas eu também via que a sua ansiedade estava a aumentar e que faltava muito pouco tempo para que algum deles se fartasse de esperar, eu só me perguntava quem seria o primeiro a ceder. Nunca na minha vida teria apostado que o meu irmão seria essa pessoa.

      Estávamos sentados na mesa da sala, há uns largos vinte minutos, em frente a um tabuleiro de xadrez. A partida parecia empatada no momento, mas eu tinha a certeza que ele estava apenas a preparar uma jogada que eu ainda não tinha percebido qual era, que me faria perder em pouco tempo. Fiquei surpreendida quando falou pela primeira vez durante todo o jogo:

      -Eu sei que não queres falar sobre o assunto, mas tenho de saber! Como é que estás?

      -Estou bem. – Sorri-lhe, mas sabia que ele veria por trás daquele ato. Ele conhecia-me demasiado bem para ser de outra forma.

      -Tu sabes do que estou a falar. Nós precisamos de saber. Se ele te magoou, vai ter uma conversa comigo.

      -Bem, vocês viram o que se passou nas notícias. É claro que custa, mas eu não quero que faças nada, eu consigo resolver as coisas sozinha. De qualquer forma, éramos apenas amigos, por isso ele não me devia nada.

      -Eu sei que consegues, mas eu sou o teu irmão mais velho, e por mais longe que esteja vou estar sempre aqui para ti.

      -Eu sei disso, nunca duvidei.

      -Acho bem que nunca duvides. Agora diz-me o que foi que ele te disse quando falaram? Deu-te uma justificação para tudo o que foi escrito? Alguma parte daquilo é verdade?

      -Ele não me disse nada, ainda não falei com ele. Não sei se é preciso, acho que estava tudo muito explícito.

      -Não podes estar a falar a sério, pois não? Tu, melhor que ninguém deves saber que nem sempre o que escrevem é verdade, não te podes deixar influenciar assim. Ele não tentou entrar em contato contigo?

      -Tentou e continua a tentar todos os dias. Tenho o telemóvel entupido com tantas chamadas não atendidas e mensagens.

      -Vês? É porque há de certeza muita coisa que explicar. -Eu sabia que ele tinha razão, mas tinha tanto medo do que poderia ouvir do outro lado que não sabia se teria coragem para falar com ele. De repente a minha irmã entrou a correr na sala, seguida de perto pela minha mãe. Agarrou no comando e ligou a TV, tão depressa como se a sua vida dependesse disso. Estava à procura de um canal específico, enquanto me dizia:

      -Estão a falar de ti nas notícias, tens de ver!

      -Que novidade, têm estado a falar de mim todos os dias, não quero nem saber o que estão a dizer.

      -Desta vez é diferente, tens de ouvir. – Insistiu. Achou o canal que tanto procurava e o meu coração deu um salto quando vi quem estava no ecrã a fitar-me diretamente. Eu reconheceria aqueles olhos verdes em qualquer lado.

      -Henry, quer explicar-nos o porquê de ter vindo aqui hoje? – O entrevistador colocou a pergunta que me rondava o pensamento e eu estava ansiosa por ouvir a resposta. À minha volta os meus familiares mantinham o silêncio enquanto a minha irmã aumentava o volume da televisão. Eles também não queriam perder nem uma palavra do que ele tinha para dizer.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora