Capítulo 23 - Almoço

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      Segunda feira o dia amanheceu novamente com sol, o que tornava, automaticamente, o dia melhor. Era o início da última semana de gravação do projeto e, apesar de estar ansiosa para o seu final, o que me mais me motivava para o dia era o almoço que eu sabia que aconteceria hoje.

      O Robert parou o carro em frente ao estúdio ainda faltavam dez minutos para as oito da manhã. Como sempre, saí do carro e olhei em volta para ter a certeza que não havia ninguém a observar-me. Tinha ganho esse hábito na altura em que aquele homem me perseguia e eu sabia que nunca iria deixar de o fazer. Por mais que o tempo passasse eu nunca me sentiria a cem por cento segura em lado nenhum.

      Caminhei rapidamente até à entrada e deixei-me relaxar assim que passei as portas que davam acesso ao interior do edifício. O ambiente estava quente e confortável. Retirei o casaco assim que senti que tinha aquecido, enquanto me dirigia até ao camarim. Ainda não tinha chegado à porta do mesmo, quando vi Anna a caminhar na minha direção.

      -Bom dia. Como foi o fim-de-semana? – Ela falava comigo enquanto ambas entravamos no camarim.

      -Foi muito bom e o teu?

      -Também. Deu para estar em casa e aproveitar com as crianças.

      -Ainda bem. E como correu o jogo do Michael? – Michael era o filho mais novo da Anna que era completamente viciado em futebol, e eu sabia que muitos dos seus fins-de-semana eram passados entre jogos e treinos.

      -Não muito bem. Não conseguiram ganhar, mas perder também faz parte.

      -Sim, tens razão. Perder também nos faz bem. É nas derrotas que percebemos o que realmente queremos e o que é importante.

      -Sim, é verdade. Obrigada por te lembrares.

      -Como é que poderia esquecer. Na sexta trago-te as prendas que comprei para eles, para o Natal. Está bem?

      -Sabes que isso não é mesmo necessário, não sabes?

      -Claro que sei, faço porque gosto realmente deles.

      -Obrigada. -Ela sorriu-me ternamente. Havia pequenos gestos, tão simples que podiam ter um impacto muito grande nas pessoas, e eu sabia disso.

      -Por nada.

      -Mudando de assunto, o "Late Night Show" convidou-te para uma entrevista acerca do último filme teu que saiu. Eles queriam que fosse ainda este ano, mas como ainda estás a gravar e depois vais de férias, pensei que seria melhor no início do próximo ano. Ficou para dia seis de janeiro, mas eu disse-lhes que ia falar contigo e depois confirmava. O que achas?

      -Sim, parece-me bem! Tu conheces melhor a minha agenda do que eu própria, se tu dizes que sim, eu concordo.

      -Muito bem, vou confirmar então. Agora vou deixar-te sozinha para te preparares para as gravações. Até logo. -Saiu logo de seguida.

      Durante toda a manhã concentrei-me arduamente enquanto gravava uma única cena, onde estávamos apenas eu e mais um único ator presente. Naquela cena, a minha personagem estava a discutir com o seu pai, discussão essa que no seu final se tornava violenta. Era uma cena extremamente difícil e que envolvia muita concentração e algum risco físico. Isso era perceptível no ambiente à nossa volta. O silêncio era pesado e o único barulho que se ouvia era a respiração de cada pessoa presente na sala. Quando finalmente conseguimos gravar a cena da melhor forma possível, saí com um sentimento de trabalho bem feito, o que me deixava de muito bom humor.

      Vesti novamente as roupas que tinha escolhido de manhã e fui em direção à entrada do estúdio onde o Henry deveria estar à minha espera. Assim que lá cheguei, vi-o encostado naturalmente a uma parede no canto mais escondido. Estava sozinho e olhava para o telemóvel com um ar chateado, como se tivesse recebido uma notícia que não queria.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora