Capítulo 13 - Sem complicações

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        -Então? Como correu o encontro este fim de semana? – A minha expressão deve ter demonstrado o quanto estava espantada. Eu podia jurar que não tinha contado nada à Anna.

      -Como é que sabias? Por favor diz-me que não está em todas as revistas. -Eu sabia que tinha tido cuidado, mas também tinha a noção que por vezes ser cuidadosa não chegava. Os paparazzi estavam em todo o lado e parecia-me quase surreal que ainda não tivessem descoberto a minha nova amizade.

      -Não está! Não te preocupes! Mas por favor, como se me conseguisses esconder algo assim. Era tão obvio. Passaste a semana toda a olhar para o relógio, e perguntaste diversas vezes se não ia precisar de ti no sábado. Depois, tive uma única notícia tua durante dois dias e hoje apareces aqui com esse sorriso que eu nem sequer sabia que tinhas. Acho que qualquer pessoa que te conheça minimamente percebia.

      -Assustaste-me por um momento. Sou assim tão transparente? Eu achei que estava a esconder na perfeição o nervosismo.

      -Não me respondeste à pergunta.

      -Nem sei muito bem o que te dizer. Foi surpreendente, no mínimo.

      -Não tens de me contar, eu sei que só gostas de falar com a tua irmã. Só quero ter a certeza de que estás bem e que ele te tratou bem. Posso ficar descansada?

      -Sim, não te preocupes. Ele foi incrível comigo. – Esta era sem dúvida a melhor qualidade da Anna, ela estava sempre lá para mim, mas nunca exigia nada em troca. Nunca foi fácil para mim falar com alguém que não pertencesse à minha família. A minha irmã era, sem dúvida alguma, a minha melhor amiga e a minha única confidente e a Anna sabia disso. Ela nunca ficava chateada por não lhe contar o quer que fosse, desde que tivesse a certeza de que eu estava bem. Gostava ainda mais dela, por causa disso.

      -Ainda bem. Agora liga à tua irmã para lhe contares as novidades, passei o fim de semana todo a receber mensagens dela a perguntar se sabia alguma coisa de ti. Ela não queria ligar e correr o risco de interromper alguma coisa.

      -Ahhhh! Então foi assim que soubeste? Ela ligou-te a contar. Porque é que não me disseste logo?

      -Não posso revelar as minhas fontes, pois não? Faz o que te disse enquanto não tens de ir gravar. Manda-lhe um beijinho meu, está bem?

      -Será entregue, não te preocupes.

      Afastei-me o suficiente para que ninguém conseguisse escutar a conversa que ia começar a seguir. Como se isso importasse, ninguém neste país conseguia entender uma única palavra de português, o que era uma grande vantagem quando não queria que se soubesse o tema da conversa. Só era uma pena que a Anna também não entendesse uma palavra, talvez lhe devesse ensinar.

      Desci na lista de contactos do telemóvel enquanto procurava o número da minha irmã. Estava gravado sob o nome "Su", abreviação de Susana, eu nunca usava o seu nome completo, era demasiado sério, não combinava com ela. Ela sempre foi uma pessoa muito alegre e a alma da festa, a única que me conseguia fazer sorrir sempre, não fazia sentido que o seu nome não correspondesse à sua personalidade.

      Passei pelo contacto do meu pai e senti que a melancolia me preenchia. Pensei para mim mesma, quando teria coragem para apagar aquele número, agora que já não fazia sentido ele estar ali. Hoje não era o dia. Quando encontrei o que procurava, carreguei na tecla que iniciaria a chamada e esperei.

      A sua voz invadiu o ambiente e transportou-me de volta para casa. Durante o fim de semana quase que me tinha esquecido como as saudades eram angustiantes.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora