Capítulo 19 - Passado

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       -Bom dia menina. Como correu o seu dia, ontem?

      -Foi maravilhoso Robert. Acho que nunca me tinha sentido tão em casa, desde que sai de Portugal.

      -Que bom, fico muito feliz por si. A menina já merecia isto.

      -Não sei se é assim tão bom.

      -Porque não?

      -Eu tenho tanto medo de me magoar. E se de repente ele decide que já não quer passar tempo comigo? Eu não devia ficar dependente dele, mas acho que já não tem volta. Parece que algo dentro de mim está constantemente a pensar nele.

      -Eu sei que tem medo, mas isso só quer dizer que é importante para si. Se não tivesse então não valia a pena. Não pode querer ser feliz sem correr riscos, a vida é como um jogo de poker. Para se ganhar é preciso apostar, e por vezes apostar tudo o que se tem. Eu sei que para si é complicado, mas também sei que se sente sozinha e por mais que eu esteja sempre aqui quando precisar de mim, a menina precisa de alguém que seja da sua idade. Alguém que goste de fazer as mesmas coisas que você e que a faça sentir bem. Os últimos anos não têm sido fáceis, e agora que as coisas estão melhores devia aproveitar. Oiça o que eu lhe digo, que eu sou mais velho tenho mais experiência.

      -Eu sei disso e já me deste tantas provas de que estavas do meu lado. És como a voz da razão, oiço os teus conselhos como se fossem os do meu pai. Não sei como teria aguentado tudo o que aconteceu sem ti aqui.

      -Eu vou estar sempre aqui, mas a menina tem de tentar esquecer os medos e as situações mais difíceis, aprendendo com elas, mas ultrapassando.

      -Nós nunca falámos sobre isto, mas eu quero dizer-te que nunca vou esquecer o que fizeste por mim e como me protegeste daquele homem.

      Havia memórias que eu guardava para mim e que apenas tinha compartilhado com o Robert. Aquelas ainda eram experiências muito complicadas para mim. A minha família nem sabia da história completa. Existia uma razão que me fazia guardar tudo da minha vida, e mantê-la o mais privado que conseguia.

      Lembrava-me como se tivesse sido no dia de ontem. Se fechasse os olhos conseguia reviver cada momento daqueles tempos. Eu estava no início de carreira, mas já tinha uma base de fãs relativamente grande. Achava que tinha de partilhar com eles tudo, porque lhes devia isso. Eles é que me tinham colocado ali, tudo o que tinha era por sua causa. Eles perguntavam e eu não me sentia no direito de esconder o que quer que fosse. Estava constantemente a atualizar as minhas redes sociais e contava absolutamente tudo, incluindo os sítios que frequentava e as horas a que ia, até onde ficava a minha casa. Ao ponto dos meus fãs conseguirem saber o meu horário a cada momento do meu dia e os sítios onde habitualmente estava a cada momento. Não me parecia um grande problema até àquele dia.

       Estava a sair do ginásio, algo que não era de todo a minha atividade preferida, mas que eu sabia que era necessária, quando percebi que alguém me observava. Andei mais rápido até ao carro e depois de estar dentro dele, achei que tinha sido apenas minha imaginação. Dois dias depois, no caminho para casa reparei que havia um carro a seguir-me. Dei a volta ao quarteirão e, sem saber muito bem como, perdi-o de vista. Ao início achei que estava só a ser paranóica, mas de qualquer forma, comecei a pedir ao Robert que passasse a levar-me a todos os sítios. Ele não entendeu o meu pedido e ficou desconfiado, mas acedeu sem dizer mais nada.

       Com o tempo comecei a ver o mesmo homem diversas vezes, nos sítios que eu costumava frequentar e já não achava que poderia ser só uma coincidência. Estes acontecimentos continuaram a repetir-se e o meu nervosismo começou a aumentar. De alguma forma, que até hoje eu não sabia qual era, ele conseguiu o meu número de telemóvel e eu estava todo o dia a receber mensagens suas, que diziam o quanto me amava e que só queria que eu estivesse bem.

Henry White (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora