13 Covarde

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Ross

Dirigi meio as cegas, meio anestesiada, me sentindo a pior pessoa do mundo, não por ele, mas por ela, ninguém iria pegar um casamento para ser feito em três meses daquele jeito, e eu estava abandonando uma noiva, coisa que jurei nunca fazer. Mas como eu podia trabalhar, se a cada duas frases do Théo, uma era algo de duplo, triplo, quadruplo sentido? Eu não conseguia conceber algo como aquilo. Eu não acabaria com a minha carreira por causa dele. E por ele ser uma "celebridade" os holofotes, claro, sempre estariam apontados para ele, eu seria a errada da história, a vagabunda, a cerimonialista safada, destruidora de casamentos... não, de jeito nenhum eu me permitiria cair em uma trama dessas.

Sem ver nada do caminho, entrei no estacionamento do prédio do escritório, subi carregando as caixas de bolo só com a força do ódio.

— Aqui Therê... tá meio amassado, mas ainda deve estar maravilhoso. — disse distraidamente e caminhei até minha sala, fechando a porta e guardando as duas caixas restantes no frigobar.

Me sentei, apoiando a cabeça nas mãos, afundando os dedos pelo cabelo. Mas que merda...

Ouvi a porta do escritório abrindo e ergui a cabeça. Therê me lançou um olhar preocupado. — Rosa, tá tudo bem?

Fiz que não com a cabeça e um sinal para que ela entrasse. — Você já viu, em algum momento da nossa agência, um noivo dando em cima de alguém da equipe?

Ela se sentou me encarando sobre os óculos — Acho que uns dez, mas nossa equipe é séria e de confiança o suficiente para não deixar que isso comprometa o trabalho.

— Mas e quando uma simples fala do noivo, ou um olhar diferente já acorda partes adormecidas da pessoa da equipe?

Therê se ajeitou na poltrona, se inclinando sobre a mesa para me observar de perto. — Querida... está falando do seu amigo Theodoro, não é?

Soltei a cabeça para trás, estava mesmo na cara, e eu não sabia mais o que fazer. — Therê... eu perdi toda a minha compostura, ele me deixa louca, tenho vontade de estrangular ele, e no segundo seguinte, imagino aquela boca descarada na minha. Eu tô pirando. Ele não podia ter feito isso comigo, ele não devia brincar comigo desse jeito...

— Você sente mesmo algo por ele? — perguntou com uma voz mansa, não era uma acusação, era uma colocação amigável de que ela entendia o meu caso.

— Eu amo aquele demônio desde a quarta série. Não, acho que antes disso... Desde antes de eu saber que gostava de meninos, eu... Tem noção do fracasso que eu sou? Eu tive três relacionamentos nesses dez anos, e terminei todos, porque não encontrava o que eu queria em ninguém, e quando o vi parado na recepção, eu entendi o que eu procurava... eu procurava ele, a afronta dele, aquele jeito idiota de me fazer rir, a forma tosca de falar, as palhaçadas e aquele jeito de olhar para mim... Eu tô muito ferrada! Vou morrer sozinha porque sou uma anta que não consegue seguir em frente. Talvez se eu tivesse sido como as outras da vida dele, e ido para atrás da quadra dar para ele escondido, essa merda já tivesse passado. Mas não! A idiota deu um fora nele depois de um beijo! Droga!

— Ou... Uau... bem... Querida... não seria o caso de falar com ele a respeito? Se abrir e dizer como se sente?

Arregalei os olhos só em pensar numa coisa dessas. — Não, pelo amor de Deus, aquele filhote de cão do inferno não pode ganhar mais lenha para aquele forninho de jeito nenhum! Therê... Eu não posso mais fazer isso... Ou Théo vai me destruir, ou eu vou destruir o casamento dele... e de nenhuma forma isso vai ser bom.

— Tudo bem, querida, acho melhor você se acalmar e pensar muito bem sobre isso, o contrato dele é importante para nós, ainda mais agora... Ele tem a visibilidade que agência de publicidade nenhuma pode nos dar, então... pensa bem, se vale mesmo a pena deixar o evento dele. Mas claro, se isso te incomoda tanto, também deve ser levado em conta.

90 Dias para "Não" Casar Onde histórias criam vida. Descubra agora