Théo
Me sentei na cama, vendo ela sair do quarto na ponta dos pés. Mas que merda! Mas também, que ideia imbecil a minha... Sabia que ela não entenderia. Agora eu estava como os velhos dizem, entre a cruz e a caldeirinha. Se eu não me casasse, iria me foder, mas se eu casasse, perderia a Ross outra vez, e isso, eu não ia aguentar.
Mas a ideia romântica de que entre o dinheiro e o amor, o amor sempre fala mais alto, só funciona em poemas... Eu não podia jogar tudo fora, todo o meu esforço, todas as minhas dores e cirurgias nesses malditos dez anos para acabar sem nada!
Saí do quarto parando na porta do banheiro. Bati insistentemente — Ross, sai daí, vamos conversar, tem que ter um jeito de resolvermos isso. Vai, fala comigo, me bate, se quiser, mas fala comigo!
— Eu não quero bater em você Théo! Eu quero uma resposta! — disse ela do outro lado da porta.
— Você sabe que eu não sei fazer bosta nenhuma da vida, não sabe? Eu vou viver de que com o joelho bichado? Vou ser o manco pedinte da feira? Hein? Me fala! Me dá uma solução.
Ela abriu a porta, e estava estrategicamente nua, sem a porra do lençol cobrindo a delícia dos seus peitos. Aqueles olhos azuis afrontosos estavam me olhando com desafio latente. Mas que droga, eu nem tinha roupa para esconder como aquela pose autoritária dela me deixava animado.
— Se você se casar... Me esquece!— decretou.
Mordi o lábio. O que eu podia fazer? Estar no meio de duas mulheres, daquele jeito não era justo. Ross era o amor da minha vida, mas a Lis precisava de mim também. Aquilo era uma droga, não dava para agradar uma sem desagradar a outra...
— Tudo bem... Eu já entendi o seu ponto, mas... Eu preciso de um tempo para ver se arrumo outra solução para isso.
— Um tempo? — perguntou confusa, cruzando os braços abaixo dos peitos fazendo-os saltar quase me chamando.
Assenti hipnotizado nos seios dela. — É... Eu... Aí caralho, não consigo pensar, vamos colocar uma roupa?
Ela sorriu de lado me provocando. Mas ouvimos a porta da frente do apartamento se abrindo. E de lá surgiu a garota... Melissa, caramba, não é que ela tinha ficado gostosinha? O tempo faz mesmo milagres.
— Ah meu Deus! — gritou ela me vendo no corredor sem roupa e Ross se escondeu no banheiro.
— Tá fazendo o que aí? Se esconde, ou pelo menos esconde... ele! — ela apontou para meu pau, constrangida. — Você vai matar a minha amiga!
Sorri abrindo os braços. —Esconder com o que?
Ross bufou me empurrando para o quarto e jogando as roupas que estavam no chão em mim, a calça curta e a blusa rosa. Ela também começou a se vestir. E com uma cara de quase choro impagável, começou a ajeitar o cabelo para ir encarar a amiga.
Ela me estudou para ver se nada estava de fora, e me puxou para o corredor até a sala, onde a baixinha estava sentada no banco que eu havia ocupado aquela noite.
— Mel... Eu posso explicar. — começou ela, quase pedindo perdão.
A garota saltou do banco a abraçando. — Não tem que me explicar nada, amiga, eu estou tão feliz, eu sempre, sempre shippei vocês dois. Sempre!
Ela soltou Ross e me estendeu a mão. — Não sei se lembra de mim, mas eu estudava com vocês... — disse ela encolhida e de forma tímida. — Eu... Sou muito sua fã, de verdade... Eu...
Sorri docemente para ela, recusei sua mão e a abracei — A garota que fugia de mim... Tô ligado. Melissa, né?
Ela se derreteu se virando para Ross. — Amiga, ele sabe quem eu sou... Meu Deus, Théo Bitencourt se lembra de mim...
Balancei a cabeça achando engraçado o jeito dela, as pessoas sempre acham que porque alguém é famoso se torna inatingível, quando na verdade, é tudo a mesma porra. Eu não havia mudado, não por dentro, pelo menos.
— É claro que sabe, amiga, ele ficou famoso, não teve alzheimer. Embora eu ache que sim, ele desenvolveu algum tipo de demência... Quem sabe a doença da vaca louca, não é?
Revirei os olhos. — Ai, mas você é impossível! Acho que prefiro você congelando!
— Ah! Eu vi... — A amiga dela começou, antes que ela pudesse responder. Melissa tirou o celular do bolso, mostrando a tela para mim. —Tenho um alarme do Google que me avisa sempre que alguma notícia sobre você sai na mídia. Você salvou ela na piscina, né? Que bom, porque ela não sabe nadar...
Tirei os olhos da tela para olhar para ela. Verdade... Não me lembrava disso, ela afundava como uma pedra desengonçada... Ainda bem que meu corpo reagiu a tempo.
Ross tomou o celular da amiga, olhando horrorizada o site de fofocas.
— "Fim de festa animado para Théo Bitencourt" — Me lançou um olhar mortal e começou a ler em voz alta — Mesmo de casamento marcado com a super modelo Lisandra, o jogador Théo Bitencourt foi visto saindo da badalada festa de casamento da modelo Ludimila Corrêa e Bruno Alcântara acompanhado do que pareceu ser uma das funcionárias da organização da festa. O atleta, atualmente em recuperação no Brasil, parece não ver problemas em se divertir longe da noiva. A modelo foi vista deixando a festa horas antes. Será que teremos corações quebrados antes mesmo do sim?
Ela me encarou. — Teremos, Théo?
Baixei a cabeça me afastando dela. — Mas que porra! Tá vendo porque eu odeio essa merda de vida? Qualquer coisa que eu faça vira manchete! Deram a entender que eu dei um perdido na Lis, para...
— Para trepar com uma funcionaria da organização... E olha só! Acertaram! — ela riu ironicamente abrindo os braços, enquanto a tal Mel ficava assistindo a discussão como um jogo de pingue-pongue.
— Espera, você sabe muito bem que não é assim! Do jeito que falam parece que eu saio comendo qualquer uma!
— É verdade... Eu sempre leio. — Melissa concordou e olhei indignado para ela. Achei que aquela.nanica estivesse do meu lado!
— Não, não é verdade! Isso só aconteceu porque era a Ross! Eu não tenho mais idade para ser babaca assim.
— Bom, agora a merda está armada. Eu não tenho nada com isso, aparentemente não me reconheceram, então, isso é um assunto seu e da sua futura esposa. Acho melhor você ir embora, Théo.
Minha respiração falhou, aquela cara, aquela indiferença me levou direto até a noite da formatura. E tremi, tremi de verdade, e ela viu.
Como eu havia saído da melhor noite da minha vida, para uma merda daquelas? Para cada benção recebia o diabo devia me cutucar com seu tridente bem no cu, porque não é possível ser tão cagado assim!
— Você tem 90 dias... — disse ela séria. — Não vou esperar por você mais dez anos.
Baixei a cabeça engolindo em seco e sentindo o desespero chegar até a minha garganta.
— Eu... Te amo, Ross, e... Por favor, não desiste de mim ainda. Eu vou resolver... Eu vou dar um jeito! Eu juro...
— 90 dias. — disse desviando os os de mim.
Assenti, não havia mais nada que eu pudesse fazer ali, me virei para pegar meu celular sobre o balcão, ainda tinha bateria o que já era uma sorte, e também, um milhão de mensagens e ligações não atendidas. Saí pela porta me sentindo um lixo. O que era bem espantoso, para mim, eu não havia imaginado um fim assim para aquilo, e agora, eu tinha tantas merdas para resolver que nem sabia por onde começar.
Seria o fim do jogador Théo, ou seria o fim do coração do Théo Bitencourt?
De qualquer forma eu perderia...
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90 Dias para "Não" Casar
RomanceThéo e Ross eram melhores amigos... Até a carreira dele os separar, ele partiu para a Espanha para se tornar um astro do futebol. De volta ao Brasil, ele quer recuperar o tempo perdido, sem perder o que conquistou. Dividido entre a melhor amiga e...