36 Desespero

1.1K 179 72
                                    

Théo

Abri os olhos ouvindo os barulhos no andar de baixo, eram quase seis da manhã, a casa já estava lotada de gente, reconheci os uniformes da empresa dela, e mesmo estando só de calça de moletom, ataquei uma das garotas passando carregando uma caixa.

⸻ Moça... Oi, bom dia, é... A Ross, a Ross tá aqui?

Ela me olhou como se eu fosse algum tipo de louco.

⸻ Não, a Ross não vem, aliás, a Lu me disse que não sabem dela desde ontem, ela saiu para verificar os bolos, mas...

Segurei os ombros dela arregalando os olhos. ⸻ Os bolos? Os bolos! ⸻ falei alto e dei um beijo na bochecha dela, voltando para o elevador.

Peguei o telefone procurando o número da padoca, o encontrei bem rápido. Mas ninguém atendeu. Aquilo era para me sacanear, né? Padoca não abre cedo pra caramba?

Mudei o número para a casa amarela, já pedindo desculpas mentalmente pela hora.

⸻ Meu Deus... ⸻ ela atendeu.

⸻ Me desculpa, me perdoa mesmo dona Olívia, mas é que, eu ainda não sei da Ross, e uma funcionária dela disse que ela saiu para ver os bolos ontem...

⸻ Mas eu já te disse que ela não passou por aqui, filho...

⸻ Eu sei, mas... Na padoca também ninguém atende...

⸻ Hoje é sábado, querido, a padaria só abre às sete.

⸻ Tá, mas... A senhora pode dar uma olhada? Eu... Eu não estou me sentido bem, tô sentindo que tem algo errado, sei lá, tô a beira de um ataque de pânico.

Ela riu ⸻ Ah menino! Você não muda, sempre desesperado, tudo bem, eu vou dar uma olhada lá fora para que fique tranquilo, tá?

⸻ Obrigado.

Comecei a apertar os dedos enquanto ouvia seus chinelos arrastando com passos obviamente lentos de sono. Meu coração estava quase saltando do peito. E se algo aconteceu? Um assalto, um sequestro... Um acidente... Eu não sabia o que, mas estava mais preocupado que o normal.

Ouvi o som característico do portão e então um silêncio ensurdecedor.

⸻ Dona Olívia? A senhora ainda está aí?

⸻ Minha nossa senhora do Rosário. ⸻ disse já ofegante. E meu coração parou.

⸻ Dona Olívia! ⸻ gritei ⸻ O que a senhora tá vendo?

Agora eu conseguia ouvir a respiração dela enquanto ela corria, era um som aterrorizante, um misto de ofegar e choro com preces no meio.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

⸻ Dona Olívia, eu vou infartar!

⸻ Théo... O carro dela... O carro tá estacionado aqui... ⸻ a voz dela já estava embargada, e eu tive que me esforçar para entender o que ela dizia.

⸻ E o que foi? Tá batido? O que é que a senhora está vendo? Por favor, me fala!

⸻ A padaria está lacrada... Tem um caminhão de bombeiros aqui, eu não consigo chegar perto, eu não... Théo, eu preciso falar com alguém, eu vou tentar saber algo, e te falo.

⸻ Tá, eu estou indo aí, mas pode me ligar, eu já chego.

Soltei o celular e saí correndo ignorando a dor no joelho, calcei os tênis sem nem me ligar nos cadarços, peguei uma camisa, enfiei o celular no bolso e corri. Peguei o elevador e cheguei a sala esbarrando nas pessoas.

90 Dias para "Não" Casar Onde histórias criam vida. Descubra agora