38 Meu

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Ross

Eu ouvia...
Eu sentia tudo, mas eu parecia estar longe... Como ler em terceira pessoa, e isso sempre me irritou tanto...

Meu corpo estava uma bola de dor, e eu sentia algo empurrando ar para dentro de mim, eu estava tão perdida... Em um momento eu estava com um mal estar terrível, no outro, já não me lembro.

Será que eu enfartei? Não seria tão estranho, eu já estava na pilha por tempo demais... Noventa dias, para ser mais exata.

Noventa dias...

Abri os olhos estranhando a claridade, tinha um medidor no meu dedo, e uma mangueira no meu nariz, a cama era alta, e me deu uma vertigem só de olhar para chão amarelado ali. Eu estava sozinha,  e só ouvia o som do soro pingando ao meu lado.

Eu ainda estava enjoada, e tinha uma sensação de como se eu tivesse algo entalado na garganta, além de minha cabeça ainda latejar.

Puxei o lençol vendo a camisola de hospital, minha cara queimou de vergonha. Será que eu estava com uma calcinha nova? Ai que droga...

Me arrumei na cama, me sentando quando vi a porta abrindo.

Achei que eu estivesse sonhando, minha mãe entrou rindo olhando para trás, e de lá, eu vi, ele estava de terno, com o terno bonito, de gravata borboleta, não com o do Elvis, estava segurando um copo de café e não sabia se era efeito da medicação, mas ele estava tão lindo... Será que até no meu delirio ele ainda ia casar?

Assim que seus olhos encontraram os meus, ele ficou pálido, e logo depois abriu aquele sorrindo mais lindo do mundo com aqueles dentes estupidamente brancos, tive vontade de me levantar, pular na cama e agarrá-lo, não era delírio, nem efeito da medicação, ele estava ali de verdade... Mas aquela roupa...

⸻ Viu dona Olívia... Eu disse que ela iria acordar quando a gente saísse. Que droga viu, Ross... Eu juro, estava aqui segurando sua mão, mas você tinha que acordar sozinha, né?

⸻ O que? ⸻ falei confusa. ⸻ Do que estão falando? E porque estão rindo? Que horas são? Ou... Que dia é hoje?

Ele entregou o copo para minha mãe, que sorria como uma boba enquanto Théo se aproximava da minha cama, e se ajoelhava ao meu lado, apoiando os cotovelos no colchão.

⸻ É dia 22 de novembro, Rosalinda, e são exatamente sete da manhã.

Olhei outra vez para a roupa dele... Eu havia mesmo apagado e só acordado depois de tudo...

⸻ Seu casamento... ⸻ falei engolindo em seco a bola de nervoso na minha garganta.

⸻ Foi lindo, você deveria estar lá pra ver. ⸻ disse ele sério ⸻ sua equipe é realmente fantástica. Therê cuidou de tudo, até resolveu a falta de bolo. Lis ficou bem feliz.

Arregalei ainda mais os olhos. Aquele... Desgraçado tinha casado mesmo? E estava ali? Olhei para minha mãe quase chorando. Da minha vontade de agarrá-lo, eu queria pedir para ela me dar uma vassoura pra eu quebrar na cara dele.

⸻ Théo... Não assusta minha filha... Olha para ela. Diz logo o que ela quer ouvir. ⸻ minha mãe ria, segurando os copos e agoras estava com vontade de bater nos dois.

Ele sorriu, segurando minha mão com o monitor, depositando um beijo carinhoso ali. ⸻ Lis se casou com a Vic. Eu a trouxe da Itália, falei com ela depois que decidi que não me casaria. Se não fosse assim, Lis teria cancelado a festa, ela ainda tinha medo do pai... E você ainda precisava do dinheiro do meu casamento...

Pisquei atordoada ⸻ Então...

⸻ Então, Rosalinda, eu cumpri seu prazo, eu não me casei, deixei a Lis feliz, esfreguei a cara daquele desgraçado na grama. ⸻ ele riu ⸻ Não literalmente, apesar da vontade. E vim para cá, para ficar com você. Pra não te deixar mais, minha Rosalinda.

90 Dias para "Não" Casar Onde histórias criam vida. Descubra agora