28 Reviravolta

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Théo

Cheguei em casa de manhã, Ross ainda não estava cem porcento, mas disse que não podia perder outro dia de trabalho, o que ela nem me deixou questionar.

Marco me pegou em frente ao prédio dela e fui praticamente dormindo no banco de trás para casa. Eu não havia dormido nada, velei o sono dela durante cada minuto, conversamos muito, e... Eu só podia dizer que estar com ela fazia toda a diferença para mim. Era único, e especial.

Acordei quando paramos na garagem de casa. Desci do carro indo para a porta, mas ela se abriu antes que eu chegasse. A visão de minha mãe com as mãos na cintura e a cara tão fechada como eu só havia visto depois de ela receber meus boletins da oitava série me fez ter vontade de voltar para o carro.

Resolvi adotar a velha estratégia.
— Bom dia, mãe, acordou cedo...— sorri para ela.

— Aonde é que você estava, Theodoro? O senhor Benini disse que tem um assunto urgente a tratar com você, e ele ficou muito irritado em saber que você não estava em casa...

Soltei o ar — Agora é crime eu sair de casa e passar a noite fora? — falei rispidamente passando por ela.

— Depois do escândalo que tivemos que contornar... De quando você foi chafurdar no pardieiro da senhorita Brenner, sim, é crime! — disse vindo atrás de mim, batendo os pés. — Théo... É a filha dele... Vocês vão se casar, no mínimo você deve respeito.

Revirei os olhos — Respeito? Acha que é esse o problema dele? Ele entregaria Lis na mão de qualquer um se isso o poupasse de lidar com a imprensa falando dela o tempo todo! O problema dele é comigo e com a merda do meu joelho. Acha que ele se importa se eu traio a filha dele? Está se enganando.

Ela pareceu perplexa. — Que jeito é esse de falar, Theodoro? Está vendo porque você não pode andar com essa gente... Onde já se viu falar assim com a sua mãe?

Me aproximei dela as palavras entaladas na garganta. — Olha como você se refere a Ross, eu não permito que fale nada dela!

— Você está louco... Trocar Lisandra, uma menina de classe, por... Por uma paixonite de infância?

— Paixonite de infância... Eu amo a Ross, e sim, começou na infância e teria sido muito mais se não tivesse me arrastado para esse sonho de vocês!

Acusei, perdendo o pouco de calma que ainda tinha. Suspirei balançando a cabeca. A encarei, esperando que eu pudesse receber uma resposta de verdade, da minha mãe e não da socialite.

— Posso fazer uma pergunta para a senhora? — falei calmamente, olhando no fundo de seus olhos para que ela não fugisse de mim. Com um leve balancar de cabeça ela confirmou, estava visivelmente assustada. — A senhora ainda me amaria sem o futebol?

Seus olhos se arregalaram como se tivesse ouvido a voz do próprio demônio. Fechei os olhos puxando o ar, porque não precisava de uma resposta, o rosto dela já era uma mensagem clara.

— Do que você está falando, filho... Isso... Isso é...

— A diferença entre você e "aquela gente" como você diz, é que se eu não tiver mais nada amanhã... Eles ainda me amariam. Ross me amaria.  Mas eu sei que você e o pai não conseguem... E tudo bem, eu já estou acostumado. Se eu fosse vocês dois... Faria as malas..

Sua boca se abriu quase em desespero. — O que isso quer dizer, Théo? Não me diz que... Não me diz... por favor, filho.

— Acabou, mãe. Eu vou falar com ele, e acabar com isso... Já chega, eu quero poder viver a minha vida de verdade.

90 Dias para "Não" Casar Onde histórias criam vida. Descubra agora