Elisa proibida

MEDOS MANIPULAM MENTES

Desde o beijo, há uma semana, Elisa evitou grandes aproximações de sua chefe, já que isso a estava torturando. Quando pensava que se afastando melhoraria as coisas entre a razão e a emoção, estava bem enganada! Não conseguia se livrar do que aquilo lhe causou, uma vez que se encontrava na mais profunda inquietação. Passou a se lembrar do gosto do beijo, tendo as sensações das mãos firmes de Arabela passearem por suas costas e em tudo onde tocou.

Ao se deitar para dormir, Falcão se derretia com a mente carregada pelas lembranças, porém, tão sofrida, sentia-se mal ao enxergar Aurélio dormindo tranquilamente ao seu lado. Isso foi o que mais a machucou naqueles tempos. Mesmo que doesse manter-se afastada e evitar Viscenza, pois sentia falta de conversar sobre amenidades e olhar em seus olhos, necessitava ter esse distanciamento; àquela altura jamais seria a mesma coisa de antes.

Não a culpe. Elisa é o que é.

É o típico estereótipo do medo e de suas inúmeras privações. Em seus trinta e três anos nunca passou por tal situação que acontecesse contato físico com outra mulher. Poderia ter tido atrações por outras criaturas, mas sempre afogava os sentimentos naquele peito proibido com regras e castrações, porém como aquelas que sentia por Arabela, jamais viveu. Era algo ardente e incontrolável; a paixão.

Estava tão apaixonada pelas coisas que sentia, só que não as classificava como tal. Dizia a si mesma que aquilo era pura rebeldia e pecado do seu espírito. A voz de seu pai ecoava em sua memória, com as cobranças de ser sempre uma mulher digna do céu e do amor de Deus.

A tal melancolia que havia visitado as suas horas durante aqueles dias, se encontrava ainda mais corrosiva e insistente naquela manhã.

Já a Presidente se sentia fraca e longe de ser aquela mulher desprendida e segura de sim. Ela estava cheia de questionamentos, e a única pessoa que poderia sanar todos eles era Elisa.

Os senhores Viscenza mantiveram contato naqueles dias, e para eles, tudo parecia bem. Elisa sentia-se desconfortável ao falar com os chefes, pois julgava que se soubessem, a reprovariam pelo caso. Arabela foi questionada pela mãe algumas vez sobre a Diretora, mas a filha negou interesse, obviamente, para que não houvesse grandes impactos.

A senhorita Viscenza odiava o fato de olhar para Falcão e não ter a sua atenção como desejava, naquelas trocas de olhares e outros contatos. Para quem sempre teve a romances para si, ter o afastamento era algo avassalador e humilhante.

O sorriso, já não o via; as faixas coradas pela timidez nas bochechas de Elisa por algo que Arabela fazia ou dizia, já não estavam mais em evidência, unicamente, pois sequer via a Diretora andando pelos corredores. E isso a estava incomodando tanto, a fazendo se sentir tão desprezada e incapaz.

Ela observava, por uma fresta pelo vidro do corredor, a sala da diretoria financeira e a executiva das finanças sentada em sua mesa. Pela distância, era dificultosa a condição de ver Elisa, mas pelo pouco que enxergava, aguçava sua vontade de falar com ela e saber o que estava se passando naquela mente. Manteve-se assim por longo tempo. Nem se importava com o fato de ter um turbilhão de trabalhos para resolver. Que apenas ficar olhando para aquela mulher magnífica, à qual dedicava toda a sua nova paixão.

Falcão havia finalizado algumas papeladas e precisava entregar à Núbia, para que ela fizesse os registros no sistema do setor. Elisa deixou sua sala e caminhou direto para a mesa da secretária, mas sem olhar para a sala da Presidente; com isso, não a viu ao centro do escritório com seus olhos ligados e sorrateiros.

Arabela sentiu seu coração se acelerar levemente, fazendo-a levantar seu corpo naquela mesa, caminhar até o vidro e esticar seus olhos entre a fenda horizontal na cortina que estava entreaberta, para ver até onde a mulher iria. Observou a movimentação da Diretora, com seus olhos de cristais brilhantes, tendo a belíssima imagem que lhe causou agitação.