CONSEQUÊNCIAS AFLORADAS E MELANCÓLICAS

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Após um longo tempo de choro e melancolia, Elisa se levantou e se pendurou em uma fraqueza ainda maior do que aquela em que já estava: uma negação em aceitar o que aconteceu. Entrou no lavabo, e mal conseguia encarar o seu reflexo no espelho.

Viu seus lábios manchados pelo batom vermelho de Arabela, fazendo a deslizar seus dedos pela região. Todas as lembranças estavam fortes e torturantes em sua cabeça, já que se martirizava ao limite. Falcão encheu suas mãos com água fria e a jogou em seu rosto, elevando seu corpo em seguida e observando sua imagem deplorável à frente.

O que faria dali em diante? Ficaria como se nada tivesse acontecido, ou se revoltaria e tomaria atitudes em relação a sua chefe e contra si mesma?

Durante aquela tarde, não saiu de sua sala. Ocupou Núbia com algumas coisas, para que não visse como estava. Elisa era responsável demais para deixar suas obrigações, mesmo que estivesse destruída. Tentou dominar sua mente contra as lembranças daquele beijo, porém, quanto mais tentava, mais era infestada pela movimentação da sua memória.

Sentada em sua mesa, Elisa fechou os olhos e suspirou pesadamente, enquanto apoiava seus cotovelos sobre o móvel e a testa sobre as mãos.

Mesmo com todos a coisas a serem feitas, Núbia estranhou a ausência da chefe, já que Elisa sempre mantinha a porta aberta e aparecia pela sala de espera, enquanto perguntava à sua secretária se havia algum recado. Mas Falcão havia sumido naquelas horas, e se fechou naquele tedioso espaço.

A extrovertida secretária se levantou da sua mesa, seguindo em direção à sala da diretoria financeira. Passou pelo escritório de Arabela, e a viu em sua cadeira, enquanto lia alguma coisa em seu computador. Tudo parecia normal como se grande eventos não tivesse acontecido na empresa.

Núbia então enxergou Elisa em sua mesa ainda na posição que a permitia pensar. Parecia estar tão longe que sequer viu quando sua amiga chegou.

— Elisa, você está bem? — inquiriu a moça, com meio tronco dentro da sala.

A Diretora levantou rapidamente sua cabeça e olhou para aquela direção.

— Oi, sim, estou bem. Precisa de alguma coisa?

— Não, eu apenas queria saber como está. Ficou aqui o dia todo. Parece estranha.

— Ah, não é nada. Não passei bem, mas agora estou. A única coisa que me incomoda é essa enxaqueca insuportável.

— O que você teve? Por que não me avisou? Quer que eu avise a Dona Arabela? — questionou Núbia, aproximando-se da chefe.

Ao escutar o nome da Presidente, Elisa sentiu seu coração se acelerar e congelar ao mesmo tempo; era como se estivesse sendo sugada por um constrangimento, fazendo com que reagisse de forma completamente diferente daquela em que estava acostumada a ser.

— Não, eu não quero que a chame! — exclamou ela, em um tom firme.

Núbia arregalou seus olhos e se assustou com a forma que aquelas palavras foram ditas. Definitivamente Elisa não estava bem.

— Certo, eu só... certo, não vou chamá-la, já que disse estar bem.

— Não, é que não quero incomodá-la com isso, pois já estou bem.

A jovem apenas assentiu e nada disse. Se sentou diante da mesa da Diretora e entregou uma das pastas que estava em mãos. Era nítido que aquilo foi estranho demais para a esperteza da secretária, uma vez conhecia bem Falcão para notar a mudança de humor. Sua curiosidade se aguçou tanto que logo a inquietude também chegou. Isso poderia ser um tanto perigoso para alguns segredos que pairavam por ali.

Elisa proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora