MENTE INQUIETA, GRANDES AGITAÇÕES

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A senhora Falcão olhava tão profundamente para Arabela, pensando no que acabara de acontecer. Investia sua mente aos questionamentos, e como era de se esperar logo veio o arrependimento. Velou por alguns minutos o sono da moça, mas não manteve seu corpo deitado junto ao dela. Levantou-se silenciosa e com cautela, ao mesmo tempo que tentava suportar o peso sobre as suas costas.

Vestiu-se ainda mais quieta, para não acordar Viscenza, pois tudo o que ela mais queria era deixar aquela casa e se enfiar em seu quarto pelas próximas horas. Não sabia como conseguiria encarar Aurélio, porque era ele quem estava em sua mente agora. Tudo o que mais temia pôs-se a concretizar em suas ações: a tentação a venceu, fazendo-a experimentar o maior dos pecados.

Antes de deixar o quarto, mirou a mulher, a qual dormia em uma tranquilidade deliciosa. Elisa franziu o cenho e segurou o choro que não demorou a chegar. Meneou sua cabeça e se afastou, buscando apoiar sua mão nas paredes, quase em um desequilíbrio incontrolável. Nem parecia estar ali. Tudo o que viveu parecia ser o maior dos sonhos, e creu ser impossível aceitar que era a mais autêntica realidade.

A noite estava bem fria. O tempo parecia ter mudado drasticamente, e talvez em sua cabeça ela era a culpada. Seria assim: ela se culparia por cada detalhe, cada folha que caia, cada vento que soprava. Culpava-se até do que não tinha culpa. Culpava a si mesma por ter sido fraca e não se considerava mais digna de viver onde vivia.

O quanto antes chegasse em casa, maiores seriam a suas chances de conseguir controlar o choro, para que nenhum desconhecido visse. Pegou um táxi, e por conta do horário não demorou a chegar. A pobre coitada se arrastou em uma melancólica cobrança, no arrependimento por não ter negado aos encantos e seduções de Arabela.

Assim que abriu a porta e adentrou a sala de sua casa, franziu a testa e as primeiras lágrimas, ali, logo desceram. Elisa se arrependeu tanto por não ter acompanhado Aurélio, por ter feito tudo o que fez e, principalmente, por ter cometido aquele crime contra as suas ideologias.

Ela queria sumir.

Ela queria gritar e se espernear.

Ela queria arrancar do seu peito o peso da consciência a torturando insuportavelmente.

Ela queria morrer, porque sabia que não teria forças para enfrentar o que pensava ser o fim.

Pensava que Arabela poderia ter respeitado seus pedidos de negação; poderia ter respeitado aquele casamento; poderia ter respeitado aquelas crenças; poderia ter esquecido Elisa, mas não fez nada disso. Agora que ela já tinha provado do seu fruto cobiçado, precisava tê-lo para sempre.

Falcão jogou seu corpo sobre a cama e chorou copiosamente a dor do seu pecado. Àquela noite foi a mais cruel de todas, pois passou as horas se torturando. Pensou em cada um que a fulminaria.

Primeiro vieram os pais: a massacrariam pelo tamanho desgosto, o qual sempre condenaram; depois veio Aurélio, o qual a julgaria por não ter respeitado o casamento e tê-lo traído despudoradamente; os sogros e os irmão vieram sucessivamente, tendo a carga das suas mais terríveis palavras; a igreja não poderia faltar, porque foi a que mais pesou sobre sua cabeça. Tudo ruía em seu ser, sugando cada partícula do seu coração.

Como tudo é como deve ser, Viscenza abriu seus olhos e não encontrou Elisa ao seu lado. Enrolou seu corpo no roupão e a procurou por cada canto, no intuito de ter mais de sua companhia, mas isso não aconteceu. Pegou o telefone e ligou para ela, só que a mulher ignorou quando viu de quem se tratava. Não tinha a capacidade para pensar no que poderia dizer, uma vez que estava jogada na dor e fúria da sua consciência.

Viscenza pensou em ir até a casa, mas achou melhor esperar para conversarem no dia seguinte.

O dia amanheceu radiante aos olhos da jovem Presidente, porém destruído aos da Diretora. Elisa não atendeu aos telefonemas da chefe. Arabela não insistiu, porque pensou que Aurélio já havia voltado, então teria de suportar e esperar pelo início da semana.

Elisa proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora