"Te juro, amor, também te amo Te quero e te chamo quando o peito aperta Saudade bate forte, tipo flor Ou quando a vontade faz um corte e vira dor"
- Um Pouco De Você Vitão
Saturday, 26th may 2018
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Consegui sair mais cedo hoje do salão. O movimento não está muito, por isso, a Sra. Manu liberou-me para poder sair num horário adiantado. Despeço-me de todo pessoal, pego a minha mochila, e começo a caminhar para fora do local.
Há dois anos, trabalho neste salão de beleza como manicure e pedicure. O salário não é das melhores, mas, ajuda-me nas despesas, que divido com a minha mãe.
Não demoro para chegar em casa, porque é bem perto. Aceno para o Sr. Juca, dono do bar à frente da minha casa, um homem muito gentil, com cada pessoa que habita nesta comunidade. Sentado numa das cadeiras, presentes na rua do recinto, observo o José Henrique(vulgo JH), melhor a dizer, Dono do Morro, enquanto está a fumar, o que imagino que seja algo ilícito, com duas meninas sobre o seu colo, quase nuas. Pisca um olho para mim, e manda um beijo imaginário. Dou-lhe as costas, e balanço a cabeça negativamente.
Eu cresci na favela da Rocinha. Não é uma localidade que passa segurança, conforto e bem-estar. Diariamente, sofremos perigos, devido à todo tráfico e violência que ocorre. Infelizmente, não temos paz. Há momentos que os polícias invadem, ou até mesmo, rixas. Foi numa das invasões policiais, que meu pai acabou por sofrer um homicídio, por parte de um dos polícias federais. Acabou por estar inserido no crime, dizia não ter escolha, porque fez tudo pela família. Mas quem entra neste "ramo", ou será um detento, ou será um morto. Foi uma tristeza enorme para minha família, embora sabíamos qual seria o fim.
Cumprimentei a minha vizinha, antes de adentrar a minha casa. Thomas quando percebe a minha presença, logo desce do sofá, e corre em minha direção.
- Mãe! - abraça as minhas pernas, e abaixo-me para deixar um beijo na sua cabeleira. - Chegou numa ótima hora. O jogo está quase a começar.
- Eu vou subir para tomar um banho rápido, e veremos o jogo juntos, tudo bem?
- Sim. - responde, sorridente. Volta a correr novamente. - Thomas, sem correr. Pode cair.
- Tudo bem, mãe.
Thomas é um menino muito esperto e inteligente, para a sua idade. Há 5 anos, ele nasceu, para a minha felicidade. Não tenho orgulho de dizer que ele foi fruto de um estupro, mas tenho orgulho de ser a sua mãe. Eu era uma boba apaixonada, e acreditei em tudo que o Danger, antigo braço direito do Dono do Morro, tinha dito. Fui uma completa iludida. A sua intenção foi apenas usar-me, e só descobri isto, no dia que engravidei. Convidou para um baile, na noite de sábado, o que decorre habitualmente no específico fim-de-semana. Eu tinha-me ficado bem arrumada, para poder encontrá-lo. Ao chegar lá, levou-me numa parte da discoteca mais afastada do local do que desenrolava a movimentação. Fui ingênua, deixei-me ir pelo sentimento, e não pela razão.
