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Ainda não senti este amor todo que dizem que sentimos quando estamos grávidas. Meio que o choque da notícia ainda não passou e não consigo ver os pontos positivos disso tudo. Só consigo ver tudo que vou abrir mão a partir daqui.

É de noite quando tomo coragem de ir a casa do Cole para contar a novidade. Me visto de maneira simples e coloco meu exame na bolsa, a prova de que cresce um novo ser dentro de mim.

Bato na porta umas 3 vezes e ninguém atende. Então resolvo entrar no apartamento usando a minha chave reserva, que não tinha devolvido para ele até então. A ideia era esperar lá dentro até que Cole chegasse.

O que vi eu não é bem o que eu esperava encontrar.

Deitada no que foi minha cama, Sarah esta completamente nua e com os cabelos espalhados pelo meu travesseiro. Ela me encara com uma falsa surpresa e com muita diversão.

Cole sai do banheiro somente com uma toalha em volta da cintura. Ele me olha assim que coloca os pés no quarto. Meus olhos "arregalados" só revelam a surpresa de toda esta situação. É tão inacreditável que chega a ser ridículo.

— O que faz aqui, Lili? - Obviamente ele está tão surpreso por me ver aqui quanto eu por ver Sarah na nossa cama. Minha visão embaça pelo acúmulo das lágrimas. Não é possível que ontem eu estava dormindo ali com ele e hoje, sem nem esperar um dia, ela ocupa meu lugar.

Olho dele para Sarah, pisco e uma lágrima desce. Quando olha para cama, Cole se assusta e percebe o tamanho do flagrante que acabo de presenciar.

— Calma, por favor. Não é isto que você está pensando.

Ainda não consigo emitir uma palavra, me sinto sufocada, tonta. O choque me emudeceu e estou tentando processar o que está diante dos meus olhos. Meu coração parece estar apertado dentro do peito. Meus olhos continuam se enchendo, involuntariamente, e derramando uma enxurrada de lágrimas. Parece que elas têm ligação direta com meu coração.

— Colezinhoooo, conta logo para ela. - Sarah faz um biquinho. Ele arregala os olhos e tenta me tocar. Saio do transe e me afasto, como se o repelisse.

— CALA A PORRA DESSA BOCA, SARAH! - Ele grita, arrancando o sorriso dos lábios dela. — Lil, você estava certa. - Ele sussurra. — Ela está louca, me deixa explicar e vamos resolver.

— Cole. - As lágrimas não param de escorrer. Nego com a cabeça, tentando ver se é um pesadelo, porque está dolorido demais. A cena parece estar toda em câmera lenta.

— COLE! Seu grosso! Depois de tudo que passamos? Conta para ela. Conta sobre todo tempo que ficamos juntos nas costas dela. Fala sobre como foi gostoso o que acabamos de fazer. - Ele está vermelho de raiva e parece se controlar para não enforcá-la.

— Você está completamente desequilibrada! Vou te levar para o hospital, Sarah! Não entendo porque está fazendo isso. - Ele fala baixo e assustadoramente calmo.

Passo por ele e paro diante dela, que me olha de baixo, totalmente vulnerável em sua nudez.

— O fato de vocês fazerem qualquer coisa pelas minhas costas só prova que você é pior do que eu pensava. - Os olhos dela se enchem de lágrimas, mas ela não parece ter desistido de tentar triunfar com a sua cena. — Esta... situação toda, - Aponto para cama bagunçada. — Só representa você: Uma piranha que se presta a este papel, que é segunda opção e que NUNCA será mais do que isso.

Me afasto e vou até a porta do quarto, a passos bem calmos.

— Vocês se merecem. - Sorrio. — Mas eu tenho pena de você, Cole. Porque eu te avisei. Previ toda esta situação, mas você preferiu não acreditar em mim.

Saio por onde entrei, com a cabeça erguida. Mesmo contra os protestos do Cole, que só parei de ouvir quando cheguei em outra rua.

Eu não pretendia ficar e assistir a falta de vergonha na cara deles. Nenhuma explicação seria cabível diante do flagrante que presenciei. Não havia como negar.

Decidi que o Cole não saberá da minha gravidez até que seja evidente. E farei o possível para mantê-lo longe do meu filho. Vou proteger o meu bebê da loucura de uma namorada obsessiva e da possível falta de amor de um pai.

Mais uma vez - perdi a conta de quantas - chego a minha casa desolada e sou consolada pela minha melhor amiga. Conto cada detalhe do que aconteceu. Em certo momento tenho que esconder as chaves do carro para impedi-la de ir lá e acabar com o cara que um dia eu amei.

Já é quase de noite, peguei no sono e só acordei quando alguém começou a esmurrar a porta insistentemente. Cole gritava e esbraveja que queria me ver e que só sairia de lá depois de conversarmos.

Van o ameaçava, através da porta. Como ele não saía, chamamos a polícia. O silencio do outro lado da porta indica que e a polícia fez seu trabalho. Como sei que minha paz é totalmente temporária, tomo uma decisão: voltarei casa dos meus pais!

A contragosto, minha melhor amiga me apoia. Explico que será algo apenas por um tempo. Até que eu me reestruture emocionalmente e Cole desista de me procurar.

O fato é que eu preciso de tranquilidade nos próximos meses, o primeiro trimestre é definitivo. Preciso de um tempo distante do Cole, da Sarah e de toda bagunça que minha vida se tornou. Preciso da minha família.

Solicito uma reunião urgente com o comitê da faculdade. Após algumas discussões e concessões, consigo uma liberação até o próximo semestre, sem perder meus direitos. Van assumirá, ao lado de Cole, para seu total desprazer, à presidência.

Ligo para os meus pais, sem entrar em detalhes, digo que estou voltando. Marcamos meu voo para o dia seguinte. Até então não soube mais nada sobre o Cole e a Sarah.

Vou até o aeroporto apenas com a Vanessa. Não quis que ninguém soubesse sobre minha partida.

— Eu vou fazer da vida dele um inferno, deixa comigo. - Ela diz entre lagrimas. Reviro os olhos e sorrio para minha amiga.

— Você sabe que não precisa fazer nada, não é?

— Ah... não é por você não. É por mim, porque sempre achei ele um babaca. E pelo meu afilhadinho. - Ela acaricia minha barriga invisível.

— Eu acho que é uma menina. - Mudo o assunto. Ela limpa suas lágrimas.

— Mãe não entende essas coisas. É menino, eu sinto! - Rimos juntas.

— Vou sentir sua falta. - Suspiro.

— Eu vou te ver nas férias. - Ela me abraça. — Cuida do meu afilhado e faz o pré-natal direitinho. Quando eu chegar escolheremos os nomes. Não faça nada sem mim, ouviu? - Reviro os olhos.

— Claro, mamãe! - Sorrimos uma para a outra. Meu voo é anunciado e eu faço este voo mais uma vez.

É hora de voltar para casa.

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ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ ᴏᴜ ᴅᴇsᴀғɪᴏ?彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora