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Se você chegou até aqui, já deve ter se acostumado ao Cole dramático. Sim, ele chorou. Só para variar mesmo.

Após muitos abraços, beijos e felicitações dos nossos pais, eles, enfim, foram embora. Col me olha com felicidade, mas um pouco de malícia. Sei que dei uma enroladinha básica nele, mas não vai sair tão barato assim.

Que bom!

Ainda estou de resguardo, por isso não posso atravessar certos limites, se é que me entende. Mas há sempre outras formas. E, nesta noite, não podemos deixar de comemorar a dois.

Parece que as coisas realmente estão em seu devido lugar. Estou noiva do meu melhor amigo. Tenho um bebê saudável e lindo. Em pouco tempo voltarei para Yale, para continuar meus estudos. Me considero muito sortuda.

Em pouco tempo também será o julgamento de Vanessa. Fomos intimados a depor. Quem diria que um dia eu estaria no banco de acusação da minha melhor amiga?

Quando chega o dia estou tão nervosa quanto possível. Eu não a vejo desde aquele dia, e, obviamente, as lembranças não são nada boas. Cole me passa a força necessária, mas, ainda sim, não me sinto bem em acusar alguém que me ajudou tanto, apesar dos pesares.

Esperamos no lado esquerdo do grande tribunal. Nos levantamentos assim que o juiz adentra a sala. Como nos filmes, ele age conforme o ritual, mandando a ré entrar em seguida. O olhar de Vanessa bate, inicialmente, em Cole. Depois nas nossas mãos que estão unidas. Como se fosse um ímã, ela olha para o meu anel de noivado e a surpresa está estampada em sua face. Em seguida ela encontra meu olhar e eu transmito medo e pena, ela um ódio que eu não tinha visto nem quando ela quase me matou.

O juiz pede ordem quando um burburinho começa. Colegas de classe, professores, pessoas que julgo serem da família de Vanessa e minha família estão no local. Fora o júri, advogados e demais pessoas que fazem a cerimônia acontecer.

Cole depõe, tentando não emitir tanta raiva. Ele é questionado sobre seu relacionamento com ela, sobre ter notado algum sintoma de loucura, já que ela alegou insanidade. Foi questionado também sobre a Sarah, outra namorada que foi parar no hospício.

Ele tentou passar o máximo de tranquilidade, respondendo cada pergunta com a verdade. E deixando claro que não tinha intenção de fazer com que Vanessa e Sarah perdessem o juízo. Mas alegando, também, que Vanessa não apresentava os mesmos sintomas de Sarah, portanto, se ela, realmente, tivesse louca, ele não tinha percebido.

Na minha vez de depor não consegui falar muito, apenas responder perguntas sobre nossa amizade, como reagi ao namoro dela com meu ex e, agora, atual noivo, porque nos afastamos e como chegamos ao "incidente" que quase me matou. Reviver aquele dia traumático foi difícil. Respondi a cada pergunta com as mãos geladas e trêmulas. Mas, enfim, acabei.

Chega a vez de Vanessa falar. Alegando insanidade, ela conta sobre nós, sobre o profundo amor que sentia por Cole e como chegou a tal sentimento. Diz que eu sempre senti inveja dela e acabou se excedendo em seu depoimento.

O júri foi unânime, principalmente depois de um laudo médico dizendo que Vanessa não apresentava sinais de insanidade, ela foi condenada há dez anos de prisão, sem chances de apelação.

Ela chorou abraçada a sua família. Eu também chorei, ver uma pessoa que tinha tanto para conquistar, que já tinha chegado tão longe, se afundar desta forma é triste. Principalmente porque éramos amigas e ela me deu muita força e muito apoio.

Col me abraçou. Ele dizia o tempo todo que estava tudo bem. Que, finalmente, teríamos a nossa paz. E eu, enfim, respirei aliviada.

Não tem sido fácil encontrar uma data para o casamento. Quatro meses depois do julgamento, Yale tem tomado mais tempo que o normal, considerando nossa grande ausência. O restante do tempo é todo dedicado a Maria Alice, que fica com os avós quando estamos estudando.

Col tem reclamado muito. Com tudo isso, mal nos vemos. Isto porque estudamos e, trabalhamos, juntos. Dividir o tempo de maneira que possamos passar um tempinho juntos é mais complicado do que parece. Quando chega a noite e Maria Alice está dormindo, os dois já estão tão cansados que já não sabemos mais o que é namorar.

Se esta é uma amostra grátis da vida de casada, preciso repensar minhas escolhas.

Um dia acordo com meu despertador, vulgo Maria Alice. Cole não está presente, mas, graças aos céus, minha mãe tem um radar e já está aqui.

Ela já pega Maria Alice e cuida dela. Enquanto termino de me arrumar para mais um dia na faculdade.

— Já está pronta, mocinha? - Minha mãe entra com um bebê cheiroso e limpinho. Seu sorriso me encanta e já pego meu bebê e a encho de beijos.

— Quase pronta, o dia hoje está lotado. Só para variar.

— Eu que o diga. Mas este dia você passará com sua mãe e sua filhinha.

— Sinto muito, mamãe. - Dou um beijo em seu rosto. - Hoje a programação está lotada em Yale.

— Não, meu bem. Ninguém te contou? Hoje é o dia do seu casamento! - A olho com a melhor cara de Whaaaaat? E ela devolve com o melhor sorriso de mãe.

— SURPRESA!

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ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ ᴏᴜ ᴅᴇsᴀғɪᴏ?彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora