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Meus pais vieram para os Estados Unidos e ambos moram no antigo apartamento do Cole, que agora mora comigo. Os pais dele também estão aqui na cidade, em um apartamento mais próximo do meu do que meus pais.

Estou na reta final da gravidez, com meus oito meses. A ansiedade em conhecer o rostinho da nossa menininha é grande. Eu e Cole, finalmente, nos acertamos.

Quer dizer, não há muito do que reclamar. Namoro o meu melhor amigo, que é o melhor pai do mundo e tem se mostrado um ótimo companheiro. Diferente do Cole com quem morei a primeira vez.

Talvez o problema da última vez tenha sido, mesmo, a Sarah morando conosco e a Sarah 2.0, vulgo Vanessa, colocando minhocas na minha cabeça. Agora que somos só eu e ele parece que as coisas fluem mais.

Nossos pais se encontram conosco também, praticamente, todos os dias. Me sinto completa, como se tudo estivesse no lugar e nada mais pudesse dar errado. Mas, como alegria de pobre dura pouco, hoje tive a informação de que Vanessa retornou à cidade. E, pelo que fiquei sabendo, está mais pra lá do que pra cá.

Geralmente, depois da notícia da chegada da minha ex-amiga, ninguém me deixa sozinha. Como se algum dia ela fosse cumprir suas ameaças. Logicamente eu tenho certo receito. Lê-se receio, não medo.

Eu enfrentaria ela sem o menor problema, porém estou no meu momento mais frágil. Qualquer dificuldade pode acarretar alterações no meu bebê, então busco estar sempre calma e tranquila, evitando o máximo de complicações.

Não tenho saído muito. Com exceção da faculdade, meu tempo é passado em casa ou nas consultas. Cole tem assumido toda a responsabilidade em Yale, sozinho.

Estamos assistindo a um filme. Na metade dele, Cole recebe um telefonema. Algum assunto urgente da faculdade precisa ser resolvido agora e não podem esperar. Relutante, ele vai.

Continuo a ver meu filme, com o balde de pipoca muito bem apoiado em minha barriga. Quando Maria Alice nascer, vou criar essa invenção: um apoiador de balde/prato. Estou rindo das minhas ideias loucas quando a porta se abre. Penso que Cole, distraído como sempre foi, esqueceu algo.

— O que foi que você esqueceu dessa vez? - Grito pra ele, que não responde. — Col?

— Oi amiga! - Vanessa aparece diante de mim. Ela está arrumada, mas seus olhos indicam que está completamente alterada. Isso me assusta.

— O que faz aqui, Vanessa? - Levanto com dificuldade. Ficar sentada me deixaria mais vulnerável.

— Vim saber como que está o bebezinho da titia. - Ela fala com voz de criancinha.

— Como entrou aqui?

— Colezinho saiu e me deixou entrar. Meu namorado é um fofo. - Outra que perdeu o juízo. Sinto que corro perigo.

— É melhor você ir chamá-lo.

— Não. Vim conversar com minha melhor amiga. Você tem sido uma boa amiga, certo? - Percebo que ela não enlouqueceu, só está fingindo para me assustar.

— Corta o papo de louca, Vanessa. Sei que você não perdeu o juízo.

— Você acha que sabe tudo sobre mim, não é Lili?! - Ela volta a ser a Vanessa normal, sinto certo alívio.

— O que quer aqui, Vanessa?

— Eu te avisei que você ia me pagar.

— E eu te avisei para não mexer comigo ou meu bebê.

— Você riu de mim. Me tirou o Cole. Agora vai me pagar.

— E o que vai fazer Sarah 2.0? Vai dar uma de louca de novo? Isso não cola. Sai da minha casa agora!

— Eu já dei um jeito de ninguém te escutar daqui. Agora eu vou bater em você até você pedir para eu parar e esse bebê se dar mal. - Meu coração parece que vai sair pela boca. Não estou em forma de me defender. Mas, pelo meu bebê, preciso!

— Vanessa. Vou te dar uma chance de dar meia volta e sair daqui. Eu posso estar grávida, mas eu ainda posso te dar a surra que você merece.

— Você até pode. Eu sei. Mas seu estresse e sua força vão ser tão grandes que você vai perder seu bebê. - Ela pensou em tudo. — De todo jeito você sai perdendo. Sem essa bastardinha, o Cole não vai ficar com você.

Reviro os olhos. Preciso ganhar tempo.

— O Cole ficaria comigo com ou sem bebê. O fato da nossa menina nascer só nos unirá. E você tem quem mesmo? - Provocar pode não ser a melhor ideia, mas é a minha única opção.

— Você se acha demais, quero só ver se vai continuar assim depois que não tiver mais nada.

— Qual é o seu problema comigo, Vanessa? Por quê a implicância? Eu nunca te fiz nada.

— Por sua causa quase não venho para Yale. Você me tirou a presidência do grupo de honra também. Me apaixonei pelo Cole e você me tirou ele. Você quer tudo que é meu, sua invejosa. - Dessa eu tive que rir. Não era o momento, mas dane-se.

— Você continua hilária.

— Você não vai me enrolar mais. Eu vou acabar com você.

O problema é que ela não quis jogar limpo. Ela tira uma faca do bolso. E caminha lentamente em minha direção. Não consigo falar mais nada, como poderia?! Eu não sei como eu e meu bebê sairemos, os dois, vivos dessa.

— Onde está a Lili piadista? - Ela está alterada, mas não é loucura. — O gato comeu sua língua?

Em um ato muito rápido, ela passa a faca no meu braço. A ardência é instantânea, assim que o sangue pinga em meu carpete branco. Levo minha mão para estancar o ferimento.

— Ficou maluca, Vanessa? - Grito. — LARGA ISSO!

— Agora está com medo? - Ela ri e tenta avançar novamente. Mas, para meu alívio, Cole entra e prende seus braços. Joga a faca para longe e a imobiliza.

— ME SOLTA! - Ela grita.

Dois vizinhos entram correndo pela porta. Assisto a cena que mais parece rodar em câmera lenta.

— CHAMEM A POLÍCIA! - Cole pede.

— CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! - Uma mulher que para a meu lado e eu não faço ideia do porquê. Ela está me olhando com preocupação. Mas, até então, não havia registrado o motivo.

Cole, que ainda segura a Vanessa, me olha apavorado. E eu ainda estou parada, mas, agora, o mundo está rodando um pouquinho. Olho para baixo e entendo o motivo da preocupação.

Tem sangue para todo lado e não é do meu braço.

_____________

E agora?! Estamos todos preocupados com o nosso bebezinho e com a Lili!

ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ ᴏᴜ ᴅᴇsᴀғɪᴏ?彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora