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Abro meus olhos e a luz machuca minha visão. Sinto minha garganta seca depois que tento pronunciar algo. Minha mãe aparece no meu campo de visão e seus olhos estão marejados.

— Lil. - Ela começa a chorar e beijar meu rosto. — Você acordou, querida.

Não consigo entender. Até que olho ao meu redor e percebo um quarto branco, fios ligados à mim e monitores que verificam meus sinais vitais. Estou num hospital e o medo me invade assim que percebo o que está acontecendo.

Levo uma mão a minha barriga, o desespero e a ansiedade parecem me consumir. Mas não a sinto mais. Meu bebê não está mais dentro de mim.

Minha mãe percebe que estou a ponto de perder o juízo. Ela me acalma, apenas dizendo que está tudo bem. Mas não está, não até que eu a veja.

Uma enfermeira entra. Não havia percebido que minha mãe tinha chamado alguém. Ela verifica meus sinais e sorri para mim. Minha mãe avisa que vai chamar o Cole. Assinto e aproveito para perguntar para enfermeira sobre a minha filha.

— Um médico virá daqui a pouco conversar com a senhorita.

— Dá pra só me dizer se ela está bem?

— Sim, ela está.

Ela tem certa compaixão e coloca um pouco de tranquilidade em meu coração. Cole entra. Ele está com uma aparência tão cansada.

— Finalmente. Finalmente. - Ele repete, enquanto distribui beijos em meu rosto. Quanto tempo eu dormi?

— Cadê ela?

— Está em uma incubadora. Nasceu antes do tempo, o susto foi grande. Mas ela está bem.

— Onde está a Vanessa? - O medo e a raiva dessa mulher me tomam e sei que vou acertar algumas coisinhas com ela assim que sair daqui.

— Ela ainda está aguardando julgamento, foi presa aquele dia.

— Quanto tempo eu dormi?

— Uns três dias, meu bem. Mas você precisava. Foi muito estresse e, - Ele engole em seco. — por pouco não perdemos você e nossa menina.

Não consigo imaginar pelo que ele passou durante esse tempo. Seus olhos estão encharcados e cansados. Eu não posso imaginar como seria se eu tivesse perdido minha filha, que dirá o Cole se perdesse a nós duas.

O puxo para um abraço, e, ainda que um pouco desconfortável, pela posição, ele fica ali. Ambos passando tranquilidade um para o outro.

— Quero vê-la. - Peço.

— Você tem que estar melhor para irmos até lá. Em alguns dias ela terá alta também. Ela é muito forte.

— Como ela é?

— Linda como você. Os olhos são azuis como os seus e o sorriso é idêntico ao meu. - Reviro os olhos.

— Tenho certeza que ela é maravilhosa.

O médico veio e, após alguns esclarecimentos e cuidados, consegui ir até minha garotinha. Ela era tão pequenininha. Parecia tão indefesa, dentro daquela incubadora. Quis trazê-la para dentro de mim novamente, para protegê-la de todo o mal. E, o Cole tinha razão, os sorriso dela era idêntico ao dele.

Alguns dias se passaram e eu pude pega-lá no colo pela primeira vez. Tive medo porque ela era tão molinha. Tão delicada, parecia que ia quebrar. O cheirinho de bebê dela era suave e eu poderia olhá-la por horas.

Queria eu poder ficar com ela por horas e horas, mas meu tempo era bem escasso. Logo logo chegaria o dia de levá-la para casa.

Finalmente recebemos alta. Mamãe e bebê podem, enfim, voltar para seu lar. Aquele ar de hospital já estava sendo deixado para trás, e, agora poderíamos viver o resto de nossas vidas.

Cole voltou a ser ele mesmo, mas só na aparência. Seu cuidado tem sido redobrado. Acho que nunca vi pai mais babão. No fim, sei que tive sorte.

Chegamos em casa e parece que não piso lá há anos. Meu namorado teve o cuidado de mandar lavar o carpete, prova do terrível acontecimento da minha última vez aqui, que foi onde meus olhos bateram assim que entrei.

— Está tudo bem agora, meu amor. Nada de ruim pode nos acontecer. - Ele fala, assim que colocamos uma Maria Alice adormecida em seu berço.

— Se você estiver ao meu lado... - Uno nossas bocas.

— Eu tive tanto medo de te perder, Lili. - Sua expressão reflete a dor que ele sentiu. Sei que ele precisa desabafar, já que ainda não o fez. — Descobri que você passou apenas algumas horas na sala de cirurgia, mas, para mim, este tempo não passava. Eu fiquei apavorado de perder vocês. Se eu tivesse perdido você, como eu criaria a Alice sozinho? Mas se tivéssemos a perdido, como seguiríamos nossas vidas depois? E então um terceiro pensamento, se eu perdesse as duas, talvez eu não conseguisse continuar também. - Seus olhos estão marejados. Sei que o Cole é bem dramático quando quer, mas, a verdade é que ele sofreu muito mesmo.

— Ei... estamos todos aqui. - Seco suas lágrimas. — Está tudo bem e vamos continuar juntos, como a família que somos. Nossos sonhos até aqui se realizaram. Estamos juntos, em Yale, no nosso apartamento e com nossa filha. Não falta mais nada.

Ele se recupera e me dá um sorrisinho malicioso típico de Cole.

— Falta uma coisa.

— O quê?

— Além de você ter que pagar sua aposta, que me deve há algum tempo? - Reviro os olhos.

— Hm?

— Lili, Verdade ou Desafio?

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ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ ᴏᴜ ᴅᴇsᴀғɪᴏ?彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora